Com a aproximação das eleições presidenciais de novembro nos EUA, o Partido Democrata está se preparando para um grande evento político: a Convenção Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês), que começa nesta segunda-feira (19/08) e termina na próxima quinta-feira (22/08) em Chicago.
Os organizadores esperam receber mais de 5 mil delegados democratas, convidados de alto nível e autoridades do partido de vindas de várias partes dos EUA. A convenção também terá 12 mil voluntários, cerca de 50 mil visitantes. Milhares de repórteres cobrem o evento.
A convenção ocorre em dois locais principais. O United Center sedia os procedimentos oficiais, os discursos e os eventos televisionados de alto nível. O McCormick Place será o local das reuniões, consultas e briefings durante o dia.
Propósito do evento
Tanto para os republicanos quanto para os democratas, as convenções nacionais simbolizam a união do partido em torno de um único candidato para a etapa final da corrida presidencial. Tradicionalmente, espera-se que os delegados de todos os estados dos EUA compareçam ao DNC e proclamem publicamente seu apoio em uma longa chamada nominal, que culmina com o candidato aceitando a indicação e fazendo um discurso.
Foi assim também que o candidato republicano, Donald Trump, garantiu sua indicação no evento de seu próprio partido, o RNC, ocorrido um mês antes, em Milwaukee.
Mas a campanha deste ano não tem sido nada tradicional para os democratas. Devido à desistência do presidente Joe Biden da disputa no mês passado e a algumas preocupações legais com relação à votação em Ohio, o partido já realizou uma chamada nominal virtual para confirmar a vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, como sua candidata na corrida pela Casa Branca.
Importância para a campanha
Harris garantiu o apoio de 99% dos delegados durante a votação nominal virtual no início de agosto, na qual 4.615 delegados votaram. Ela e seu companheiro de chapa, Tim Walz, já aceitaram a indicação democrata. Portanto, qualquer outra demonstração de apoio dos delegados – que também pode incluir a contagem cerimonial de votos – terá caráter puramente simbólico.
Ainda se espera que Harris faça um discurso formal de aceitação e encerre o processo de indicação na quinta-feira. O mais importante é que a conferência dará a ela e a Walz a chance de fortalecer sua imagem perante o público e definir suas políticas, enquanto o partido dá os últimos retoques em sua plataforma para 2024.
A plataforma do partido serve como uma declaração simbólica das prioridades da legenda, elaborada por meio de interações entre a sigla, o público e grupos de interesse. A minuta de 80 páginas da plataforma foi publicada antes de Joe Biden, desistir da disputa no mês passado, e a versão final da plataforma será adotada na convenção.
O esboço incluía aumento do imposto de renda para bilionários, redução do custo de creches para famílias pobres, promessas de investimento em energia limpa e proibição de armas de assalto. Também prometia apoio a uma “solução negociada de dois Estados que garanta o futuro de Israel” e a um “cessar-fogo imediato e duradouro” em Gaza, ao mesmo tempo em que evitava sugestões de algumas facções do partido para cortar a ajuda militar a Israel.
O evento também é uma oportunidade para mostrar o endosso de celebridades. Na convenção republicana, em julho, apareceram os músicos Kid Rock, o comediante Russell Brand e o astro da luta livre Hulk Hogan.
Como candidatos são selecionados
Realizado a cada quatro anos, o DNC é o ponto culminante de um processo complexo para selecionar o candidato presidencial do Partido Democrata.
Os candidatos à presidência, tanto democratas quanto republicanos, iniciam o processo debatendo e fazendo campanha contra rivais de seus partidos. Em seguida, são organizados eventos em todos os estados e territórios dos EUA para avaliar o nível de apoio dos candidatos.
A maioria dos estados realiza primárias em que os eleitores registrados devem selecionar seu favorito de uma lista, em uma votação secreta tradicional. Alguns estados realizam o chamado “caucus”, em que os apoiadores de candidatos rivais se reúnem no mesmo local, dividem-se em grupos e depois interagem e fazem discursos curtos, em uma tentativa de conquistar eleitores indecisos e chegar a um consenso. Um pequeno número de estados usa uma combinação dos dois sistemas.
Após a conclusão do processo, a cada estado e território é atribuído um número de delegados com base nos três ciclos eleitorais anteriores, no número de votos e na data da primária. Os delegados são ativistas do partido, líderes locais e apoiadores proeminentes do candidato.
Delegados juramentados e superdelegados
Há os delegados conhecidos como “juramentados” (pledged delegates), que fazem um juramento e se comprometem a votar no candidato preferido pelos eleitores de suas comunidades. De acordo com a organização sem fins lucrativos Ballotopedia, há pouco menos de 3.950 delegados comprometidos com o Partido Democrata neste ciclo eleitoral.
Além disso, há cerca de 750 chamados superdelegados que vêm do próprio partido e são geralmente membros do Comitê Nacional Democrata ou autoridades eleitas atualmente ou no passado. Esses delegados podem votar em qualquer candidato de sua preferência. Esse sistema foi estabelecido para dar aos líderes do partido um papel maior no processo de nomeação.
Muitos criticaram o Partido Democrata por usar superdelegados, retratando o sistema como uma forma de minar a vontade de seus eleitores. Historicamente, no entanto, os superdelegados sempre apoiaram o candidato que conquistou a maioria dos delegados, o que aconteceu com Harris.
Após o término do DNC na quinta-feira, Harris e Walz terão dois meses e meio para se concentrar na campanha contra Donald Trump e JD Vance antes da eleição presidencial, em 5 de novembro.