A cidade da Filadélfia será palco, nesta terça-feira (10/09), do primeiro confronto direto entre Kamala Harris e Donald Trump como candidatos à Presidência dos Estados Unidos. A ABC News transmitirá o evento às 21h no horário local (23h em Brasília).
Trata-se do primeiro debate desde a desistência de Joe Biden da corrida eleitoral, ocorrida em julho deste ano. Harris enfrenta uma campanha curta, com apenas 107 dias para convencer os eleitores norte-americanos.
O debate será realizado no estado da Pensilvânia, um dos sete estados-pêndulo, conhecidos por não terem uma inclinação eleitoral clara, o que os torna decisivos nas eleições, devido à fórmula eleitoral norte-americana.
Com 90 minutos de duração, este pode ser o único encontro entre a vice-presidente democrata e o ex-presidente republicano, que nunca estiveram frente a frente, conforme apontou Aaron Kall, diretor de debates da Universidade de Michigan, em palestra recente:
“Este pode ser o único momento em que os candidatos estarão frente a frente. Eles precisam aproveitar para causar uma boa impressão e definir suas plataformas de forma clara para os eleitores”, frisou o analista político.
Conforme reportado pela RFI, cientistas políticos comparam o evento ao confronto histórico entre John F. Kennedy e Richard Nixon, em 1960, em que o desempenho televisivo foi decisivo. A ABC News prevê uma audiência maior que a do último debate entre Trump e Biden, que reuniu mais de 50 milhões de espectadores.
Microfones fechados
O debate será marcado por microfones que só estarão abertos para quem estiver falando no momento, e tempo de fala rigorosamente controlado. Não haverá notas, nem presença de plateia.
Por outro lado, a equipe de Harris, segundo levantamento da agência France Presse, defendeu que os microfones ficassem abertos durante todo o tempo, acreditando que isso poderia prejudicar Trump, conhecido por suas declarações intempestivas.
No entanto, os republicanos optaram pela manutenção do sistema de microfones fechados, a pedido da equipe de Biden em junho deste ano. A insistência dos republicanos em manter as regras aponta para mudanças estratégicas provocadas pela entrada de Harris na disputa.
Expectativas para o debate
Em entrevista para Opera Mundi, Giorgio Romano, professor associado de Relações Internacionais e Economia Política Mundial da Universidade Federal do ABC (UFABC), explicou que grande parte do eleitorado já decidiu seu voto. “O fato de o resultado ser tão apertado faz com que este debate seja crucial para conquistar uma pequena parcela da população, que pode fazer grande diferença no resultado final”, destacou o professor.
Ele ressalta que o grupo de indecisos é composto por eleitores com perfis variados. Para alguns, as propostas de imigração de Harris, criticadas por Trump, serão fundamentais.
Romano acrescenta que temas como o aborto devem ganhar destaque no debate, com Harris apresentando a questão sob o ângulo da liberdade das mulheres. “Essa é uma pauta que ressoa fortemente entre o eleitorado feminino, algo que Harris pode explorar, enquanto Trump deve equilibrar seu discurso para não desagradar sua base conservadora”, pondera o professor.
Ainda segundo Romano, o maior desafio para Harris será se posicionar como uma liderança preparada para assumir a Presidência. “Esse é o ponto-chave para Kamala, pois Trump já não precisa provar sua capacidade de liderança; todos, até os indecisos, sabem que ele consegue liderar os Estados Unidos”, afirma o professor.
A pesquisa mais recente da ABC News aponta Harris com 47% das intenções de voto, enquanto Trump aparece com 44%. O cenário acirrado faz com que a vice-presidente precise usar o debate para conquistar eleitores indecisos e consolidar sua imagem.
Posturas esperadas
A preparação dos dois candidatos para o debate foi distinta. Trump, com mais tempo disponível, deve manter seu discurso previsível, retratando Harris como uma figura radical da esquerda e explorando os ataques a Biden. Harris, por sua vez, precisará ser assertiva e demonstrar firmeza diante das investidas do adversário.
Romano acredita que o desempenho de Harris será decisivo para o restante da campanha. Se ela conseguir se manter firme, responder aos ataques de Trump e mostrar que tem liderança, ela pode ganhar terreno.
Por outro lado, se Trump conseguir desqualificar sua adversária, apontando para uma falta de ação nos quatro anos como vice-presidente, isso pode ser um grande golpe para a campanha democrata, conforme avalia o professor.
Com as pesquisas mostrando um cenário polarizado, o debate desta terça-feira carrega potencial para ser um divisor de águas na corrida presidencial de 2024, especialmente nos sete estados-pêndulo, nos quais os resultados seguem indefinidos e o desempenho de ambos os candidatos pode ser determinante para o desfecho da eleição.
As eleições presidenciais do Estados Unidos acontecerão no dia 5 de novembro, embora alguns estados já tenham iniciado a votação pelo correio.