O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, realizado na última terça-feira (10/09), marcou a estreia de ambos como adversários diretos, após a saída de Joe Biden da corrida presidencial.
O evento, transmitido pela ABC News, ocorreu sem a presença de plateia; os candidatos tinham dois minutos para responder a cada questão, com os microfones desativados quando o adversário falava – medida que em alguns momentos mostrou-se necessária.
Logo na abertura, Harris, consciente de que muitos eleitores estavam conhecendo-a nessa posição pela primeira vez, fez questão de se apresentar pelo nome.
Depois, na primeira pergunta, relacionada à economia, a atual vice-presidente dos Estados Unidos destacou sua origem de classe média e defendeu a criação de uma “economia de oportunidades”, acusando Trump de favorecer os mais ricos e de implementar um “imposto de vendas Trump” sobre as classes mais baixas.
Trump, em sua réplica, sugeriu que a economia poderia ser impulsionada com a imposição de tarifas sobre outros países e afirmou que “eles estão finalmente… nos pagando pelo que fizemos pelo mundo”. Em seguida, desviou o tema para imigração, um dos tópicos centrais de sua campanha.
De acordo com análises da BBC, Trump tentaria associar Harris a Biden, explorando temas como imigração, inflação e criminalidade. Por sua vez, Harris buscava se diferenciar de Biden sem deslegitimar o atual governo.
Trocas de farpas
Em um dos momentos do debate, Trump chamou o pai de Harris, o professor emérito da Universidade de Stanford Donald J. Harris, de “marxista”. A candidata respondeu com um sorriso e uma postura tranquila, e sinalizou que via o comentário como uma provocação leve.
Trump também afirmou que os democratas pretendiam eliminar as determinações concedidas pelo caso Roe v. Wade, de 1973, em que a Suprema Corte dos Estados Unidos determinou que a Constituição do país assegurava às mulheres grávidas o direito à liberdade individual, permitindo que elas optassem por realizar um aborto sem interferência ou restrição por parte do governo.
Posteriormente, o ex-presidente também alegou de forma errônea que o partido Democrata apoiava a “execução de bebês após o nascimento” – uma prática ilegal.
Harris foi pressionada por Trump a esclarecer até qual momento da gravidez ela permitiria o procedimento. Desviando da pergunta, ela ressaltou as acusações criminais contra Trump, lembrando os eleitores de suas condenações e de sua próxima audiência judicial.
Em resposta, Trump afirmou: “eu provavelmente levei um tiro na cabeça por causa das coisas” ditas pelos democratas sobre ele, em referência ao atentado contra ele ocorrido durante um comício em julho de 2024.
Harris também abordou a tentativa de golpe ocorrida nos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, afirmando: “naquele dia, o presidente dos Estados Unidos incitou uma multidão violenta a atacar o Capitólio de nossa nação, a profanar o Capitólio de nossa nação”.
Em certo momento, Trump seguiu com sua falsa afirmação de que Kamala Harris, repentinamente, passou a se identificar como negra, algo que já havia sido dito pelo republicano em outras ocasiões.
Momentos finais
Nos últimos momentos do debate, o foco se voltou para política externa, abrangendo temas como a guerra na Ucrânia e o Afeganistão. Harris criticou Trump por ter convidado o Talibã para Camp David (retiro rural do presidente dos Estados Unidos), pouco antes do aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Ao fim, Harris reforçou sua identidade própria e afirmou: “É claro que não sou Joe Biden e certamente não sou Donald Trump”. Encerrando o debate, destacou que sua campanha mira o futuro, contrastando com a de Trump, que estaria presa ao passado. Reforçando seu slogan, ela afirmou: “Não vamos voltar atrás”.
Trump, em sua resposta final, criticou Harris por já “estar” no governo, chamando a atenção para o afastamento de Biden da corrida presidencial, e questionou por que suas propostas ainda não haviam sido implementadas.
A mídia internacional fez uma cobertura atenta do debate. A BBC apontou que Trump mostrou-se “incoerente”, enquanto o Washington Post classificou sua declaração final como “forte”. Harris foi retratada pelo jornal norte-americano como uma candidata pragmática e moderada, e o analista Anthony Zurcher, da emissora britânica, a declarou vencedora do debate.