Uma investigação conduzida por um comitê do Senado dos Estados Unidos sobre o ataque ocorrido em 13 de julho durante um comício de Donald Trump em Butler, Pensilvânia, sugere que o Congresso avalie o orçamento do Serviço Secreto.
Segundo reportagem do Washington Post, o relatório preliminar, a ser divulgado ainda nesta quarta-feira (25/09), recomenda que a segurança de líderes e candidatos políticos seja determinada pela magnitude das ameaças, e não apenas pelo fato de estarem ou não ocupando cargos no momento.
O Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado apresentou essas e outras recomendações em um documento de 94 páginas, detalhando falhas operacionais e de comunicação que permitiram que um atirador de 20 anos subisse em um telhado não protegido e disparasse oito tiros contra o palco, matando um participante e ferindo Trump e mais duas pessoas.
Após o incidente na Pensilvânia e um ataque potencial contra Trump na Flórida, no último 15 de setembro, o Serviço Secreto solicitou um aumento significativo em seu orçamento anual de US$ 3 bilhões para contratar mais agentes, atualizar equipamentos e intensificar treinamentos.
Andamento das discussões
O comitê, no entanto, pareceu dividido quanto ao aumento de recursos, especialmente devido às preocupações de que alguns agentes teriam negado responsabilidade ou “desviado a culpa” pelas falhas de segurança no comício.
Os senadores sugeriram que o Congresso obrigue o Serviço Secreto a gravar suas transmissões de rádio em “todos os eventos de proteção”.
“O que foi frustrante ao investigar este caso foi que todos apontaram o dedo uns para os outros”, afirmou o senador Gary Peters (Democrata, de Michigan), presidente do comitê, durante uma fala à imprensa sobre o relatório.
“Não havia um ponto de contato claro que dissesse: ‘Sim, eu aprovei este plano, e ele atendeu a todos os critérios.’ Quando perguntamos ‘Quem está no comando?’, todos disseram: ‘Não fui eu, foi outra pessoa’. Isso é simplesmente inaceitável”, declarou Peters. “Precisa haver alguém que assuma a responsabilidade, que revise todos os pontos e seja responsabilizado por falhas.”
Ronald L. Rowe Jr., diretor interino do Serviço Secreto, assumiu a responsabilidade pelos lapsos de segurança em 13 de julho e informou que a agência aumentou imediatamente a proteção de Trump, um dos mais de 40 dignitários sob proteção do Serviço Secreto.
Na última sexta-feira (20/09), Rowe divulgou uma revisão interna que destacou algumas das falhas da agência durante o comício, embora tenha elogiado os agentes por impedirem outro ataque, na Flórida.
Já nesta terça-feira (24/09), os principais legisladores do comitê divergiram sobre se um aumento de financiamento poderia resolver os problemas operacionais do Serviço Secreto.
Durante o fim de semana, o Senado incluiu US$ 232 milhões em fundos emergenciais para a agência em um acordo provisório de três meses, que estenderia o financiamento federal até 20 de dezembro e evitaria um fechamento do governo. A Câmara dos Representantes deve votar a medida hoje.
Avaliação dos senadores
O senador Rand Paul (Republicano, de Kentucky) disse que os erros cometidos pelo Serviço Secreto em 13 de julho foram resultado de “erro humano — não de falta de recursos”.
Enquanto isso, o senador Ron Johnson (Republicano, de Winsconsin) ressaltou que o orçamento da agência já havia sido ampliado. “Nos últimos 10 anos, o orçamento do Serviço Secreto aumentou em 65%, de US$ 2 bilhões para US$ 3,3 bilhões”, afirmou Johnson.
O senador Richard Blumenthal (Democrata, de Connecticut), por sua vez, concordou que “comportamentos inadequados devem ser corrigidos”, embora tenha apontado para a necessidade de mais financiamento, destacada pelo relatório preliminar.
O incidente no comício em Butler, na Pensilvânia
No documento, é revelado que a equipe de segurança de Trump na Pensilvânia não contava com uma unidade de contra-vigilância, que poderia ter reforçado a segurança no perímetro externo do comício, na área na qual o atirador, Thomas Matthew Crooks, conseguiu acessar o telhado desprotegido.
Além disso, o relatório destaca disparidades na proteção entre o ex-presidente e a primeira-dama, Jill Biden, que contou com uma unidade de contra-vigilância em um evento em Pittsburgh no mesmo dia, destinado a cerca de 410 participantes.
Um oficial do Serviço Secreto informou ao comitê que tal unidade “não é um recurso típico para ex-presidentes”.
O senador por Connecticut ainda destacou outra falha preocupante: muitos dos rádios dos agentes no comício não estavam funcionando, e o sistema de contramedidas de drones do Serviço Secreto estava inoperante antes de Trump subir ao palco.
O sistema poderia ter detectado o drone de Crooks, permitindo que os agentes investigassem o potencial risco.
No entanto, o relatório do Senado mostra que o agente encarregado do sistema tinha apenas três meses de experiência, desconhecia o funcionamento do equipamento e passou horas no telefone com o suporte técnico, sem conseguir ativá-lo.
O incidente no Trump International Golf Club
O comitê do Senado atualmente conduz uma série de investigações sobre o tiroteio em Butler, assim como o incidente no Trump International Golf Club, em West Palm Beach, que contou com um homem armado com um rifle e uma mira telescópica escondido entre árvores, a cerca de 300 a 500 metros do local em que Trump jogava golfe.
Um agente avistou o suspeito, Ryan Routh, e abriu fogo, resultando em sua prisão por acusações de porte de armas.
Routh foi indiciado na terça-feira por tentativa de assassinato de um candidato presidencial, entre outras acusações que podem acarretar a uma pena de prisão perpétua.
Ações do governo Joe Biden e o que diz o Serviço Secreto
Além do Senado, um painel independente, designado pelo presidente Joe Biden, o inspetor-geral do Departamento de Segurança Interna e uma força-tarefa bipartidária da Câmara também estão investigando os ataques. A primeira audiência da força-tarefa ocorrerá nesta quinta-feira (26/09).
O relatório do Senado se baseia em mais de 2.800 outros documentos do Serviço Secreto e entrevistas com cerca de uma dúzia de agentes e supervisores, além de autoridades locais envolvidas na segurança do comício de 13 de julho.
Algumas das falhas já eram conhecidas, como a ausência de comunicação clara entre agentes e as autoridades locais, a falta de cobertura adequada do telhado do qual Crooks disparou e a falta de liderança e planejamento da equipe responsável pela segurança do evento.
O relatório aponta, ainda, que diversos agentes, incluindo um atirador de elite, sabiam que a polícia local estava procurando Crooks na multidão, mas não alertaram os agentes encarregados de proteger Trump para que o retirassem do palco.
Embora Rowe tenha afirmado que Trump estava recebendo mais proteção do que qualquer outro ex-presidente, o relatório destacou que ele não recebeu todos os recursos solicitados pelos agentes, como vidros à prova de balas e um oficial de ligação da equipe de contra-ataque.
No entanto, o comício marcou a primeira vez que uma equipe de atiradores foi designada para proteger alguém além do presidente, vice-presidente ou candidato presidencial formalmente indicado — Trump estava a poucos dias de ser oficialmente nomeado.
Segundo o relatório, a presença dos atiradores foi uma resposta a “informações de inteligência críveis” sobre uma ameaça não relacionada a Crooks, e a decisão “potencialmente salvou vidas”. Após os disparos de Crooks, um dos atiradores o matou.