O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, visitou, nesta quarta-feira (13/11), a Casa Branca, para se reunir com o atual mandatário do país, Joe Biden. A reunião começou pouco depois das 13h, e terminou às 15h15, no horário de Brasília.
Enquanto o republicano se sentava ao lado de Biden no Salão Oval, o democrata dizia: “Bem, Sr. Presidente eleito, ex-presidente, Donald, parabéns”, e logo após, os líderes apertaram as mãos.
Em resposta, Trump afirmou que “a política é difícil e, em muitos casos, não é um mundo muito agradável”, apontando, no entanto, que “é um mundo agradável hoje, e eu agradeço muito por isso”.
Na ocasião, Biden colocou que espera uma “transição tranquila” em janeiro, e acrescentou que vai “garantir” que seu sucessor seja acomodado quando ele assumir a Casa Branca no início de 2025.
A partir deste momento, os repórteres foram convidados a se retirar, segundo o jornal britânico Guardian. Alguns gritaram perguntas para os dois líderes, mas eles não responderam.
Um pouco dos bastidores
Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, afirmou que Trump levou “um conjunto detalhado de perguntas” para a reunião, que foi “de fato, muito cordial, muito graciosa e substantiva”.
Embora a porta-voz tenha se recusado a detalhar as questões levantadas por Trump durante o encontro de quase duas horas, ela destacou que Biden “certamente estava ansioso pela reunião, apreciou a conversa e respondeu a todas as perguntas que o presidente eleito tinha, ofereceu seus pensamentos”.
Jean-Pierre, que conversou com Biden no próprio Salão Oval antes de participar da coletiva de imprensa, reforçou que o presidente “queria que todos soubessem que o presidente eleito, mais uma vez, foi gentil”, mas descreveu a discussão como “uma conversa particular”.
“Acho que, pela duração da reunião, [isso] indica que eles tiveram uma conversa profunda sobre uma série de questões”, disse aos repórteres.
Além disso, Jean-Pierre afirmou que Biden “sempre manterá, obviamente, essa linha de comunicação aberta com o presidente eleito” no futuro. Mais tarde, ela também confirmou que a vice-presidente Kamala Harris “não participou da reunião entre os dois presidentes”.
Quem teria feito parte do encontro, segundo apuração da emissora, teria sido atual chefe de gabinete da Casa Branca, Jeff Zients, e sua sucessora, Susie Wiles.
O encontro entre os Biden e Trump, que o republicano se recusou a realizar em 2020, quando perdeu a eleição, faz parte da tradição da transição pacífica de poder, garantida pelo democrata este ano.
Ainda conforme a emissora norte-americana, a reunião se deu em um momento em que assessores e democratas próximos a Biden têm trabalhado para obter uma leitura mais clara do estado de espírito do atual presidente, já que muitos democratas têm culpado diretamente Biden pela vitória de Trump.
O que estava em jogo e a repercussão do encontro
Na visão do Washington Post, o encontro, para Trump, “marca um retorno triunfante” a um cargo que o político ocupou por quatro anos, apenas uma semana após vencer as eleições. O veículo chamou em sua manchete a ocasião de “extraordinária”.
Já para Biden, teria se tratado de “dar as boas-vindas” e “legitimar” alguém que “condenou como autoritário e uma ameaça existencial à democracia” norte-americana, segundo o veículo, que adotou um tom crítico da postura do presidente.
“Biden tem dito repetidamente que derrubar Trump foi a principal motivação para sua busca pela Casa Branca, e argumentou que Trump é uma aberração cujo populismo raivoso acabaria desaparecendo – apenas para vê-lo voltar rugindo em meio a votos de desfazer quase tudo o que Biden realizou”, continuou o texto.
O New York Times, por sua vez, afirmou que Trump fez, nesta quarta-feira, uma “volta da vitória” por Washington, embora tenha destacado a incongruência do momento, em que o republicano é recebido de braços abertos por Biden. O jornal lembrou que esse “gesto de respeito” não foi oferecido pelo presidente eleito ao seu oponente em 2020.
Pouco antes do encontro, o Chicago Tribune relatou que Biden “abandonou suas terríveis advertências sobre Trump”, relembrando um discurso do presidente feito na semana anterior.
Enquanto isso, o Los Angeles Times aproveitou o evento para abordar os “prejuízos” para a transição, mencionando que “Trump foi prejudicado em parte porque ele perdeu os prazos para assinar documentos que prometem evitar conflitos de interesse enquanto estiver no cargo”.
“Mas, de outras formas, ele chegará ao cargo mais ciente do que seus antecessores sobre o funcionamento interno, pois é o único presidente, além de Grover Cleveland, a ganhar mandatos não consecutivos”, completou o jornal da Califórnia.
Além disso, o Tribune retomou uma declaração de Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional, à CBS, que afirmou que o governo manterá a “transferência responsável de um presidente para o próximo, o que está na melhor tradição de nosso país”.
Quando questionado sobre os tópicos que seriam discutidos nesta quarta-feira, Sullivan disse que os políticos analisariam “as principais questões – tanto as de política interna quanto as de política externa – incluindo o que está acontecendo na Europa, na Ásia e no Oriente Médio”.
O conselheiro finalizou, dizendo: “E o presidente terá a chance de explicar ao presidente Trump como ele vê as coisas (…) e conversar com o presidente Trump sobre como o presidente Trump está pensando em lidar com essas questões quando assumir o cargo.”
Mas antes, um encontro com republicanos do Congresso
Além da conversa com seu antecessor no cargo, Trump se encontrou com republicanos do Congresso, colocando em pauta as suas prioridades para o primeiro dia de seu segundo mandato, em meio à preparação para um governo unificado, considerando a expectativa de vitória republicana nas duas casas legislativas. As informações são da CNN.
Trump iniciou seus comentários, conforme a emissora, “se gabando” de sua vitória em estados decisivos na semana passada, afirmando que muitos redutos democratas tradicionalmente vistos como “azuis profundos” oscilaram fortemente para a direita.
“Ganhamos em todos os sentidos, em todos os sete estados decisivos, por muito”, disse Trump à plateia.
Ele sugeriu que “da próxima vez, se subirmos nem que seja uma fração do que subimos”, os republicanos poderiam virar os resultados em estados como Nova Jersey, Nova York e Califórnia.
Ainda, conforme o Times, Trump perguntou, sendo aplaudido, se “não é bom ganhar”, acrescentando logo depois que suspeita que não poderá concorrer novamente, “a menos que vocês digam: ‘ele é tão bom que temos que pensar em outra coisa’”.
A Constituição norte-americana limita os presidentes a dois mandatos, embora o Trump já tenha cogitado outras vezes contornar a restrição.
O republicano também havia levado o bilionário conservador sul-africano Elon Musk para sua ida à Casa Branca; ele se sentou na primeira fila entre os legisladores, e foi aplaudido de pé quando Trump o elogiou.
Mais tarde, ainda conforme o Times, Trump brincou dizendo que Musk, que se tornou uma “presença onipresente ao redor do presidente eleito”, simplesmente não ia embora, segundo os legisladores que compareceram.
Histórico das reuniões de transição na Casa Branca
Ao vencer as eleições em 2016, Trump se encontrou com o então presidente Barack Obama no Salão Oval, descrevendo o momento como “uma grande honra”, embora, pouco tempo depois, tenha voltado a atacar o ex-mandatário democrata, com alegações sem provas de que seu antecessor teria ordenado a interceptação de suas comunicações durante a campanha de 2016.
Em 2020, quatro anos mais tarde, Trump se recusou a reconhecer a sua derrota nas eleições presidenciais, e não convidou Biden para a Casa Branca, tendo deixado Washington antes da posse do democrata. Um feito como esse não ocorria desde que Andrew Johnson não compareceu à posse de Ulysses S. Grant, há 155 anos.
Biden, por sua vez, marcou o encontro, e afirmou que fará o possível para garantir uma transição tranquila para a administração de Trump, apesar de ter passado mais de um ano em campanha pela reeleição. Em julho, ele saiu da disputa e endossou a vice-presidente Kamala Harris como sua sucessora.