O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou nesta quarta-feira (13/11) Tulsi Gabbard, ex-deputada democrata e crítica ferrenha da política externa do governo Biden, para ocupar o cargo de diretora de Inteligência Nacional.
“Eu sei que Tulsi trará o espírito destemido que definiu sua carreira ilustre para nossa comunidade de inteligência, defendendo nossos direitos constitucionais e promovendo a paz através da força,” afirmou o republicano, em comunicado, acrescentando que ela “luta pela liberdade de nosso país e pela liberdade de todos os norte-americanos”.
Como diretora de Inteligência Nacional, Gabbard comandará todas as agências que compõem a Comunidade de Inteligência do país, incluindo a Agência Central de Inteligência (CIA), a Agência de Segurança Nacional (NSA) e o Departamento Federal de Investigação (FBI), entre outros órgãos. A ex-democrata possui pouca experiência direta em inteligência, e sua nomeação para o cargo não era amplamente prevista.
Em rede social, a congressista agradeceu Trump “pela oportunidade de servir como membro de seu gabinete para defender a segurança, proteção e liberdade do povo norte-americano.”
Thank you, @realDonaldTrump, for the opportunity to serve as a member of your cabinet to defend the safety, security and freedom of the American people. I look forward to getting to work. pic.twitter.com/YHhhzY0lNp
— Tulsi Gabbard 🌺 (@TulsiGabbard) November 13, 2024
Quem é Tulsi Gabbard?
Nascida na Samoa Americana, no Pacífico Sul dos EUA, Gabbard cresceu criada no Havaí, estado pelo qual foi eleita deputada pelo Partido Democrata.
Ela também seguiu uma carreira militar, servindo no exército do Iraque entre 2004 e 2005 como major da Guarda Nacional do Havaí, conforme a agência Reuters.
Em 2013, tornou-se a primeira hindu eleita para o Congresso do país, no qual permaneceu até 2021, tendo atuado em comitês de segurança interna, serviços armados, relações exteriores e serviços financeiros, o que lhe proporcionou acesso a informações de inteligência dos EUA durante briefings confidenciais.
Histórico com o Partido Democrata
Dentro de seu antigo partido, conforme destacado pelo New York Times, a agora republicana demonstrava ceticismo em relação às políticas de outras administrações, como a intervenção do governo Obama na Síria, que incluiu ataques aéreos contra combatentes do Estado Islâmico e o envio de conselheiros militares.
Sua oposição à política de Obama na Síria marcou o início de uma crítica mais ampla às políticas externas tanto dos republicanos quanto dos democratas, que, segundo ela, acreditavam erroneamente que o poder militar dos EUA poderia resolver crises internacionais.
Durante sua própria campanha presidencial, criticou as “guerras contraproducentes de mudança de regime, que tornam nosso país menos seguro, tiram mais vidas e custam trilhões de dólares aos contribuintes”.
Após deixar o Congresso, Gabbard passou a adotar posições mais conservadoras e, eventualmente, anunciou sua saída do Partido Democrata.
Após a saída de seu antigo partido em 2022, Gabbard tornou-se independente e passou a adotar posturas mais conservadoras em temas como aborto e direitos das pessoas transgênero.
Ela passou a participar de programas e eventos conservadores, como o Tucker Carlson Show, da Fox News, e a CPAC, conferência que reúne líderes da direita norte-americana.
Em 2024, filiou-se ao Partido Republicano e foi cogitada como uma possível candidata a vice-presidente na chapa de Trump.
Guerra na Ucrânia
O Washington Post, por sua vez, destacou que logo após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022, Gabbard fez postagens nas redes sociais afirmando que a guerra poderia ter sido evitada se o governo Biden e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tivessem “simplesmente reconhecido as legítimas preocupações de segurança da Rússia” em relação à adesão da Ucrânia à aliança.
No início deste mês, ela afirmou no programa de Tucker Carlson que a recusa do governo Biden em garantir que a Ucrânia permaneceria fora da Otan “aponta para uma única conclusão […] de que eles realmente querem […] que a Rússia invada a Ucrânia.”
Três dias após o início das operações russas, Gabbard publicou uma mensagem dirigida aos líderes da Rússia, dos Estados Unidos e da Ucrânia: “É hora de deixar a geopolítica de lado e abraçar o espírito de aloha, respeito e amor pelo povo ucraniano, chegando a um acordo para que a Ucrânia seja um país neutro — ou seja, sem alianças militares com a Otan ou a Rússia.”
A sua indicação ao cargo dividiu opiniões entre os ex-membros da comunidade de inteligência, que falaram sob condição de anonimato ao jornal da capital dos Estados Unidos.
Alguns dizem que ela é “sensata e ponderada”, enquanto outros ex-oficiais e pesquisadores de propaganda russa, afirmam que seu apontamento ao cargo “é loucura”.
Mesmo como democrata, Gabbard gerava desconfiança por suas visões de política externa, que divergiam das de muitos membros do partido. Entre seus maiores críticos estava a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que a descreveu como “a favorita dos russos” durante a primária democrata em 2020.
Gabbard respondeu que Clinton queria destruir sua reputação e a descreveu como “a personificação da podridão que adoeceu o Partido Democrata por tanto tempo.”
Mais sobre o cargo
O Escritório do Diretor de Inteligência Nacional foi criado durante o governo de George W. Bush, em 2004, para coordenar as atividades de inteligência e supervisionar mais de uma dúzia de agências de espionagem dos Estados Unidos.
(*) Com Brasil 247