Sábado, 19 de julho de 2025
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O sistema eleitoral dos Estados Unidos não foi feito para a população norte-americana, muito menos para os impacientes. O processo é (bastante) diferente ao brasileiro, caracterizado pelo uso integral das urnas eletrônicas, pelo voto direto, e pela presença de um Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que centraliza as informações, contabiliza os votos e anuncia o resultado do pleito no mesmo dia da votação. 

“Que eleição é essa?” você deve se perguntar. De fato, causa uma certa estranheza, mas isso não é de hoje. Vamos lhe explicar como as eleições no país funcionam desde 1824 até a atualidade. 

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Provavelmente você já ouviu falar de um tal de “winner-takes-all system” que, traduzido ao pé de letra em português, seria o “sistema de quem ganha, leva tudo”. É assim que as coisas funcionam nos Estados Unidos. Por lá, um candidato presidencial não é eleito pela maioria do voto popular a nível nacional, mas sim por meio do chamado “Colégio Eleitoral”.

Colégio Eleitoral e o voto indireto

Na urna, o eleitor norte-americano tem que escolher um dos candidatos em disputa, mas na prática não é esse candidato que receberá o voto. Na verdade, essa cédula ajudará a eleger um delegado, que pode ou não representar o seu candidato presidencial. Por isso o sistema de votação nos Estados Unidos é considerado de “voto indireto”.

O Colégio Eleitoral é formado por 538 delegados e são eles que vão definir se a candidata democrata Kamala Harris ou o candidato republicano Donald Trump comandará a Casa Branca durante quatro anos, a partir de janeiro de 2025. Para um deles ser eleito, é preciso obter pelo menos 270 votos desses delegados.

Quem são os delegados?

Os delegados são representantes que votam conforme a maioria dos eleitores de cada estado. Cada um dos 50 estados norte-americanos e o Distrito de Columbia – onde fica a capital Washington – possui uma determinada quantidade de delegados, e esse número varia de acordo com o número de habitantes. Quanto mais populoso o estado, maior o seu número de delegados.

Por exemplo: o estado mais populoso, a Califórnia, tem direito a 54 delegados. O estado do Texas, 40. Flórida e Nova York, 28. O número mínimo é três: estados pouco populosos, como Montana ou Vermont, têm três cada um.

Como cada estado é “federado” e tem sua devida autonomia, os governos locais têm a liberdade de organizar uma votação anterior para eleger seus delegados, por meio de convenções ou comitês. 

Seguindo a lógica do sistema “quem ganha leva tudo”, quando as “urnas fecham”, os delegados se reúnem no Colégio Eleitoral e votam pelo candidato presidencial mais desejado pelo seu respectivo estado. Ou seja, se no estado em que ele foi eleito venceu Harris, ele vai votar representando a candidata democrata. Se foi o Trump que venceu, ele vai votar representando o candidato republicano. 

Isso quer dizer que o candidato presidencial que tiver mais votos populares de um estado leva todos os delegados eleitos nesse estado, mesmo que a diferença seja de apenas um voto. Em geral, os delegados escolhidos em cada estado são pessoas engajadas politicamente ou membros ativos do partido mais votado de cada Estado.

Há apenas duas exceções a essa regra: os estados do Maine (quatro delegados) e de Nebraska (cinco delegados) permitem que seus delegados dividam seus votos entre os candidatos de forma proporcional.

Um candidato pode ganhar no voto popular e perder no Colégio Eleitoral?

No sistema norte-americano de “quem ganha leva tudo”ganha“, é possível um candidato receber mais votos populares que o seu adversário e mesmo assim perder a eleição. Foi exatamente isso que aconteceu em 2016, na disputa entre Donald Trump e Hillary Clinton. 

A apuração final revelou que a candidata democrata perdeu a vaga na Casa Branca mesmo tendo recebido 337.636 votos a mais que o republicano. Foram 60.274.974 votos para Hillary, enquanto 59.937.338 para Trump.

Matt H. Wade / Wikimedia Commons
Donald Trump (Partido Republicano) e Kamala Harris (Partido Democrata) disputam a vaga presidencial pela Casa Branca em 5 de novembro de 2024

No entanto, a primeira apenas venceu em 19 estados e na capital federal, conquistando 232 votos no Colégio Eleitoral. Já o segundo garantiu o voto de 306 delegados.

Apesar da controvérsia, não foi a primeira vez que isso aconteceu. Em 2000, o democrata Al Gore perdeu contra o republicano George W. Bush, apesar de ter recebido cerca de 500 mil votos a mais que o adversário.

O que acontece se ninguém conseguir 270 delegados?

O sistema norte-americano baseado no Colégio Eleitoral possui outro, problema, devido ao fato de que possui uma quantidade par de delegados: são 538 no total, e que dependendo dos resultados, podem ser divididos em 269 para cada partido, gerando um empate. Nesse caso, a eleição no colégio eleitoral acontece normalmente até que se fique registrado que não foi alcançado o número mínimo de 270 para se eleger o presidente.

Então, a Câmara de Representantes (câmara baixa dos Estados Unidos) definirá a disputa, em uma nova e diferente votação, que envolveria os parlamentares eleitos na mesma votação em novembro. Em simultâneo, o Senado será encarregado de escolher o vice.

Apesar de parecer um cenário pouco provável, essa situação já aconteceu ao menos três vezes na hist´ria norte-americanao: em 1800, 1824 e 1836.

De olho nos estados-pêndulo

Embora os estados grandes e populosos pareçam mais atraentes, não significa necessariamente que terão uma relevância crucial para o destino de cada candidato. Muitas vezes, a chave para vencer uma eleição está nos menores, ou nos de porte médio.

Isso acontece porque alguns estados de grande porte são considerados bastiões de um partido ou de outro. Nova York e Califórnia, por exemplo, redutos tradicionais do Partido Democrata, assim como Texas e Flórida são para o Partido Republicano.

Mas também existem os chamados “swing states”, ou estados-pêndulo, onde a tendência eleitoral costuma variar de eleição para eleição. 

São eles: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Como se tratam de estados decisivos, é muito comum vermos as campanhas eleitorais realizando viagens e investindo em comícios nestas localidades.

Atrasos no resultado eleitoral 

Normalmente, às 21h (pelo horário de Brasília) de um dia de eleição presidencial no Brasil, presenciamos o povo nas redes sociais comemorando ou lamentando, no bar celebrando ou chorando, e nas ruas dançando ou vaiando com o resultado eleitoral.

Pode ter certeza que isso não acontecerá às 21h (pelo horário local) do dia 5 de novembro, em nenhuma região dos Estados Unidos. 

Isso porque não existe uma entidade como o TSE brasileiro, responsável por organizar nacionalmente todo o processo e centralizar a apuração dos votos computados por meio de urnas eletrônicas. 

De acordo com a Constituição do país, cada estado “federado” possui suas próprias regras, tem o seu próprio sistema de votação e de apuração. Algumas localidades usam sim as urnas eletrônicas, mas outras optam pelas cédulas de papel. A votação também pode até ser realizada pelo correio.

Essas questões explicam a demora na contagem de votos, podendo deixar o eleitor até dias sem saber o que será do futuro do país. 

Os atrasos também são causados por recontagens, realizadas quando as margens de vitória são muito pequenas, ou em alguns estados, quando solicitadas por um dos candidatos presidenciais. Por exemplo, em 2020, a campanha de Trump pediu a suspensão da apuração em alguns estados onde o atual presidente Joe Biden estava à frente, como no estado-pêndulo da Pensilvânia.

Vale ressaltar que a contagem é obrigatoriamente realizada pelas autoridades eleitorais que administram cada um dos 50 estados norte-americanos e o Distrito de Columbia. Entretanto, quem anuncia o resultado final é a própria imprensa local, a partir dos dados divulgados por cada estado.