Arturo Espinosa, chefe da missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que audita as eleições na Bolívia, renunciou na sexta-feira (01/11), após admitir que publicou artigos críticos ao presidente Evo Morales. O anúncio foi feito pelo próprio funcionário no Twitter.
“Decidi me retirar da auditoria para não comprometer sua imparcialidade. Informei à OEA sobre manifestações públicas prévias sobre o processo eleitoral da Bolívia”, escreveu o mexicano em sua conta no Twitter. Desde quinta-feira (31/10), ele liderava uma equipe de 30 membros que tinha a missão de verificar os resultados das eleições de 20 de outubro, vencidas por Morales no primeiro turno.
Segundo a imprensa boliviana, o especialista eleitoral e acadêmico publicou na semana passada um artigo sobre as eleições na Bolívia fazendo duras críticas a Morales. Além disso, fez comentários contra o presidente no Twitter, no último dia 16.
“Neste domingo, haverá eleições na Bolívia e Evo Morales vai tentar seu 4º mandato. No [artigo] que escrevi esta semana, conto todas as tramas e enredos que fez para ignorar a Constituição da Bolívia e estar na cédula eleitoral”, escreveu.
A renúncia de Espinosa foi apresentada logo depois de o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) divulgar o resultado final das eleições, confirmando a reeleição de Morales, com 47,08% dos votos, seguido pelo centro-direitista Carlos Mesa, com 36,51%.
ABI
Após admitir que fez artigos críticos a Evo Morales, Espinosa deixou cargo
De acordo com o TSE, a diferença de mais de 10 pontos sobre Mesa garante a vitória de Morales já no primeiro turno. No entanto, Mesa declarou que o resultado final confirmaria a “fraude” montada pelo presidente boliviano e se trataria de “uma agressão à boa fé da comunidade internacional”.
O relatório da auditoria da OEA deve ficar pronto em duas semanas. No entanto, a oposição se nega a acreditar nos trabalhos de verificação do órgão por considerar que se trata de uma manobra de Morales que quer se manter no poder, após três mandatos como presidente. Por isso os opositores, que exigiram uma nova contagem e um segundo turno, pedem agora a anulação da votação e novas eleições gerais – presidenciais e legislativas – “sem Evo Morales”.
Protestos
Novos protestos contra o resultado eleitoral foram registrados na sexta-feira em diversas cidades da Bolívia. Em La Paz, manifestantes bloquearam ruas nos bairros ricos da zona sul, os mais críticos a Morales, mas com menos intensidade que nos dias precedentes; as forças se segurança foram mobilizadas e patrulhavam os principais pontos da capital.
Nas cidades de Santa Cruz, reduto da oposição, e Potosí, no sudoeste, uma greve geral paralisa o sistema de educação. Assembleias populares também ratificam o repúdio à auditoria da OEA.
Confrontos entre manifestantes e as forças de segurança já deixaram dois mortos e 140 feridos desde o anúncio da reeleição de Morales. Mais de 190 pessoas foram presas.
(*) Com RFI