O ex-presidente boliviano Evo Morales afirmou nesta quarta-feira (21/10), em entrevista exclusiva a Breno Altman no programa 20 Minutos, que a vitória de Luis Arce nas eleições realizadas no último domingo (18/10) significou a derrota dos golpistas que o derrubaram do cargo em 2019.
“Democraticamente, derrotamos os golpistas. Com a unidade do povo, com essa convicção revolucionária, com esse alto espírito democrático e pacifista, democraticamente derrotamos os golpistas e as políticas dos Estados Unidos. Fiquei surpreendido pela união do meu povo. Foi impressionante a vitória. Creio no movimento indígena, nas forças sociais do meu país”, afirmou.
Para Morales, a direita boliviana terá que aceitar a derrota. “[Em 2019] Não houve fraude, mas, sim, golpe. Mas o povo boliviano, quase 55%, disse não à discriminação, não ao racismo e sim à nossa revolução democrática e cultural, e sim ao processo de mudança. Estou seguro de que a direita vai reconhecer o triunfo de Arce. Ele já é presidente”, disse.
Reveja a entrevista de Evo Morales na íntegra:
Morales disse que deve voltar à Bolívia “logo”, mas rejeitou a ideia de assumir algum cargo no governo Arce. “Não, jamais assumiria. Vou ao Trópico de Cochabamba [região ao norte da Bolívia] para fazer agricultura, uma piscina de tambaqui”, afirmou.
Segundo ele, Arce terá uma relação de amizade com o Brasil, como aconteceu nos 14 anos em que Morales esteve no governo. “Será uma relação sempre de amizade, assim como tivemos com [o então presidente argentino Mauricio] Macri, [o presidente brasileiro Jair] Bolsonaro e [o presidente chileno Sebastián] Piñera, apesar das diferenças ideológicas e programáticas na América Latina. Precisamos trabalhar nossas diferenças”, disse.
América Latina, progressistas e recursos naturais
Para o ex-presidente boliviano, os líderes progressistas latino-americanos precisam incentivar o que chamou de “libertação em ciência e tecnologia”. Morales citou o caso do lítio, recurso natural que foi nacionalizado no país.
LEIA AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS SOBRE AS ELEIÇÕES NA BOLÍVIA
“O golpe de 2019 também foi um golpe ao lítio. As empresas norte-americanas reconheceram que financiaram o golpe de Estado. A luta da humanidade é a luta de quem controla os recursos naturais. Na Bolívia, graças à luta dos movimentos indígenas e dos movimentos nacionais decidimos nacionalizar e recuperar os recursos para mudar a situação política do país”, afirmou.
“Os países da América Latina temos a obrigação de defender nossos recursos naturais. Por que tantas tentativas de invasão, de golpe, dos EUA na Venezuela? Tantas ameaças jurídicas contra meu irmão Nicolás Maduro [presidente venezuelano]? É por seu petróleo!”, disse.