Os Jogos Paralímpicos de Paris começam nesta quarta-feira (28/08). O governo da França espera que as competições, que prosseguem até 8 de setembro, atraiam 4 milhões de visitantes, 10% deles estrangeiros. Cerca de 4.400 atletas em 168 delegações competirão por 549 medalhas de ouro (e o mesmo número em prata e bronze) em 22 modalidades.
Uma semana antes do início, mais de 1,75 milhão dos 2,8 milhões de ingressos já haviam sido vendidos, segundo os organizadores. As primeiras competições terão início nesta quinta-feira, após a cerimônia de abertura, começando pelo badminton.
O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) também anunciou que oito atletas formarão a maior Equipe Paralímpica de Refugiados já existente. Eles vão representar as mais de 120 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar suas regiões de origem em todo o mundo. Nos Jogos Paralímpicos de 2021 em Tóquio, a equipe de refugiados era composta por seis atletas.
Nos últimos sete anos, as autoridades investiram cerca de 125 milhões de euros para tornar a metrópole francesa mais inclusiva. Prédios públicos e o transporte público se tornaram mais acessíveis, e 10.400 caixas de som foram instaladas em cruzamentos para pessoas com deficiência visual.
A história
No verão de 1948, o neurologista judeu alemão Ludwig Guttmann, que havia fugido dos nazistas para o Reino Unido em 1939, organizou em Londres a primeira competição para atletas em cadeiras de rodas, que ele chamou de Stoke Mandeville Games. Essa é a origem dos Jogos Paralímpicos, que foram realizados pela primeira vez em Roma, em 1960, com 400 atletas de 23 países. Desde então, eles têm ocorrido a cada quatro anos.
Os primeiros Jogos Paralímpicos de Inverno foram organizados na Suécia em 1976 e também são realizados a cada quatro anos desde então. Desde 1988, os Jogos Paralímpicos são realizados no mesmo local que os Jogos Olímpicos devido a um acordo entre o IPC e o Comitê Olímpico Internacional (COI).
A importância
Os Jogos Paralímpicos são um dos eventos mais importantes do paradesporto. O número de atletas participantes tem aumentado constantemente, assim como o interesse da mídia.
“As perguntas nas entrevistas são cada vez mais genéricas”, observa o velocista paralímpico alemão Johannes Floors, medalhista de ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Segundo ele, não se trata mais apenas da deficiência de um atleta, mas cada vez mais da pessoa, da personalidade ou da motivação.
Para a nadadora paralímpica alemã e campeã mundial Elena Semechin, os Jogos Paralímpicos são mais do que apenas competições esportivas. “Eu vejo isso também como uma atividade de embaixador, como ser um modelo para outras pessoas”, diz a medalhista de ouro em Tóquio.
“É a melhor coisa que você pode fazer”, diz o paraciclista Thomas Ulbricht, de 39 anos. “Você quer se apresentar, deixar seus pais orgulhosos e, é claro, seu país”, diz o atleta, que está competindo nos Jogos Paralímpicos pela quinta vez.
Diferenças entre Jogos Olímpicos e Paralímpicos
Acabam-se os Jogos Olímpicos, começam os Paralímpicos. Para os organizadores em Paris, isso significa, entre outras coisas, que os locais de competição e a Vila Olímpica, onde os atletas moram durante os Jogos, têm de ser parcialmente reconstruídos. “As praças públicas, ruas e calçadas precisam ser adaptadas para que pessoas em cadeiras de rodas possam usá-las sem problemas”, explica o diretor da Vila Olímpica, Laurent Michaud. “Isso significa estar em conformidade com os padrões de acessibilidade universal exigidos para novos empreendimentos urbanos.”
Somente os apartamentos da Vila Olímpica que tiverem pelo menos um banheiro com acessibilidade universal serão usados. Nas áreas externas, obstáculos pouco visíveis foram pintados, e rampas para usuários de cadeira de rodas foram instaladas nos locais de competição.
A discussão sobre a qualidade da água do Sena também continuará nos Jogos Paralímpicos porque, como nos Jogos Olímpicos, a natação nas competições de triatlo será realizada no rio parisiense. No entanto, ao contrário dos Jogos Olímpicos, não haverá competições de natação em águas abertas nos Jogos Paralímpicos.
Entretanto, ao contrário do Jogos Olímpicos, a bocha faz parte do programa paralímpico desde 1984. A paraescalada vai virar esporte paralímpico em Los Angeles em 2028, sete anos após a estreia olímpica da escalada esportiva em Tóquio.
Os esportes praticados
Os 22 esportes das competições de Paris são os mesmos de Tóquio – ou seja, nenhuma nova modalidade foi incluída. São eles: futebol de cegos, badminton, bocha, arco e flecha, adestramento, halterofilismo, golbol, judô, canoagem, atletismo, ciclismo, basquete em cadeira de rodas, esgrima em cadeira de rodas, rúgbi em cadeira de rodas, tênis em cadeira de rodas, remo, natação, vôlei sentado, tiro esportivo, taekwondo, tênis de mesa, triatlo. Apenas dois não têm um equivalente olímpico: bocha e golbol.
Atletas russos
Os atletas da Rússia e de Belarus podem participar dos Jogos Paralímpicos sob uma bandeira neutra, mas estão excluídos das cerimônias de abertura e encerramento. O Comitê Paralímpico Russo enviará um total de 88 atletas a Paris, apesar de uma comissão independente nomeada pelo IPC ter autorizado 185. Oito atletas belarrussos também competirão.
Brasil
A delegação brasileira chega a Paris com a meta de superar o número total de 72 medalhas dos Jogos do Rio e de Tóquio e também a sétima posição alcançada nesses dois eventos – a melhor que o Brasil já obteve. Nas quatro últimas edições, o Brasil se manteve entre os dez países que mais conquistaram medalhas.
A expectativa dos dirigentes brasileiros é de que, na França, o país obtenha o seu melhor desempenho em Jogos Paralímpicos. No atletismo, na natação, no judô e no futebol de cegos estão algumas das principais esperanças de vitória.
Em Paris, o Brasil terá 280 atletas nas competições paralímpicas, sendo 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia (18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. Em apenas dois esportes o Brasil não vai competir: basquete em cadeira de rodas e rúgbi em cadeira de rodas.
A primeira participação do Brasil em Jogos Paralímpicos foi em 1972, em Heidelberg, na Alemanha. A primeira medalha – de prata – foi conquistada quatro anos depois em Toronto, no Canadá, por Luiz Carlos da Costa e Robson Sampaio, na modalidade lawn bowls (um jogo semelhante à bocha), que já não faz mais parte das competições.
O Brasil tem 373 medalhas conquistadas em Jogos Paralímpicos, em 11 edições. São 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes, sendo que as modalidades que mais garantiram pódios paralímpicos ao país são atletismo (170 medalhas: 48 ouros, 70 pratas e 52 bronzes), natação (125 medalhas: 40 ouros, 39 pratas e 46 bronzes) e judô (25 medalhas: cinco ouros, nove pratas e 11 bronzes).
A melhor campanha do Brasil nos Jogos foi a mais recente, em Tóquio 2020, ocasião em que a delegação brasileira ficou na sétima posição, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes. Desde os Jogos de Atenas, em 2004, o Brasil tem se mantido num elevado nível nas competições, com um grande número de medalhas, e se consolidado como uma potência no esporte paralímpico.