Milhares de habitantes do sul do Líbano desalojados há meses estão voltando para suas casas em meio a celebrações, desde que o cessar-fogo entre Israel e o grupo xiita Hezbollah entrou em vigor, na manhã desta quarta-feira (27/11).
Apesar da advertência das Forças de Defesa Israelenses (IDF) para que os libaneses se mantenham longe das áreas previamente evacuadas, longos engarrafamentos se formaram nas estradas que levam à região. Pedindo paciência à população, o Exército libanês apelou para que se evitem as localidades ao longo da linha de combate e perto da fronteira, até que as tropas israelenses tenham se retirado.
Em postagem em uma rede social, a instituição afirmou que está tomando as “medidas necessárias” para implementar o cessar-fogo, e que cooperará com a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) para completar a missão. Desde o início do conflito entre Israel e o Hezbollah em seu território, os militares libaneses têm procurado manter-se neutros.
Na terça-feira (26/11), disparos de Israel causaram pelo menos 42 mortes no Líbano, segundo autoridades locais. As IDF admitiram ter aberto fogo contra diversos carros que se aproximaram de uma área restrita. O Hezbollah também lançou mísseis contra Israel, fazendo disparar sirenes antiaéreas no norte do país.
3.800 mortos no Líbano
Seguindo-se a dias dos mais intensos ataques aéreos e choques, o anúncio de cessar-fogo trouxe alívio à nação árabe, sendo um primeiro passo importante para a resolução do conflito regional.
O cessar-fogo de 60 dias entre Israel e o Hezbollah, iniciado às 04h00 desta quarta-feira (23h00 da terça-feira em Brasília) é resultado de negociações mediadas pelos Estados Unidos e a França, e conta com ambos como fiadores. Os respectivos presidentes, Joe Biden e Emmanuel Macron, se comprometeram a “fiscalizar para que ele seja implementado como um todo e aplicado”.
Desde o início das hostilidades entre Israel e o Hezbollah em 8 de outubro de 2023 – dia seguinte à ofensiva do Hamas contra Israel, o saldo no Líbano é de mais de 3.800 mortos e 15,8 mil feridos por ofensivas israelenses.
Cerca de 3.100 dessas mortes ocorreram após 23 de setembro, com o início da campanha de bombardeios em ampla escala por Israel, que atingiu sobretudo comunidades no sul e leste libaneses, bem como o subúrbio muçulmano de Dahieh, no sul de Beirute.
A violência obrigou mais de 1,2 milhão de cidadãos a abandonarem suas casas, dos quais mais da metade migrou para a Síria, segundo o governo libanês. Em Israel, por outro lado, a troca de hostilidades dos últimos 14 meses matou 78, entre os quais 47 civis, e forçou 60 mil a abandonarem seus lares.
Sucesso do cessar-fogo não está assegurado
O atual plano consiste em três etapas: uma trégua inicial, seguida pela retirada das forças do Hezbollah ao norte do rio Litani; a retirada completa das tropas israelenses do sul do Líbano no prazo de 60 dias; e, por fim, negociações entre os dois países para delimitar sua fronteira, que atualmente corresponde numa linha traçada pela ONU após a guerra de 2006.
Na terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que seu gabinete de segurança aceitara a proposta de cessar-fogo por 10 votos contra um. Pouco depois, falando a partir da Casa Branca, Biden definiu esse resultado como um “novo começo” para o Líbano, “concebido para ser uma pausa permanente das hostilidades”.
Macron igualmente saudou o fechamento do acordo no X, definindo-o como “a culminação de esforços empreendidos durante muitos meses com as autoridades israelenses e libanesas, em estreita colaboração com os EUA”. Para o primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati, a trégua entre Israel e o Hezbollah seria um “passo fundamental” para a estabilidade regional.
No entanto, há dúvidas se o cessar-fogo se manterá. Netanyahu ressalvou que conta com garantias de Washington para manter a “liberdade de ação”, caso o Hezbollah viole as regras. Israel está mantendo seus militares no sul do Líbano, e a Força Aérea está pronta a agir, se necessário. O equipamento antiaéreo do país se encontra igualmente de prontidão, alertou o governo israelense.