Terça-feira, 10 de junho de 2025
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Um ano após o avanço de Israel contra a Faixa de Gaza, serviços de bigtechs como Google e Apple continuam a disponibilizar imagens de satélite de baixa resolução da região, apesar do fim das restrições legais que limitavam a qualidade dessas imagens.

Em 2020, a emenda Kyl-Bingaman, que restringia a resolução de imagens de Israel e territórios palestinos sob o pretexto de segurança, foi suspensa.

A lei, de 1997, limitava a qualidade dos registros feitos via satélite que poderiam ser comercializadas por empresas norte-americanas, e foi passada durante a administração do ex-presidente democrata Bill Clinton, após um lobby bem-sucedido de representantes de Israel.

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No entanto, até o momento, as principais plataformas de mapeamento, como Google Maps e Apple Maps, não atualizaram suas imagens da região, gerando críticas de pesquisadores e jornalistas que dependem de imagens de alta definição para monitorar áreas de conflito, como o enclave de 41 quilômetros de extensão.

A Apple havia confirmado, à revista norte-americana Vice, em 2021, que estava em processo de atualização de suas imagens. Na mesma época, o Google não havia dado uma resposta concreta sobre seus planos – até agora, nada mudou.

Em declaração à Vice, a empresa com sede em Mountain View havia dito: “o Google considera oportunidades de atualizar suas imagens de satélite quando versões de maior resolução estão disponíveis”, sem especificar se isso seria feito no caso de Gaza, ou quando.

Google Maps <br / > Imagem de satélite, em baixa resolução, fornecida pelo Google Maps, em captura de tela de 04/10/2024
Google Maps
Imagem de satélite, em baixa resolução, fornecida pelo Google Maps, em captura de tela de 04/10/2024

Jornalistas investigativos, especialistas e pesquisadores, como Aric Toler, diretor de treinamento e pesquisa no Bellingcat, site holandês, apontaram na época que, apesar de as imagens de alta resolução já estarem disponíveis, naquele momento, por fornecedores como a Maxar Technologies, elas ainda não foram incorporadas às plataformas de mapeamento mais populares.

“Se tudo é igual – não há restrições legislativas, há imagens disponíveis e assim por diante – não há motivo que explique por que Gaza, em particular, tem imagens antigas e de baixa resolução”, disse Toler, a Vice. Ele acrescentou que a prontidão com que o Google atualizou as imagens da Ucrânia ainda em 2021 levanta dúvidas sobre a falta de ação em Gaza.

A baixa qualidade das imagens tem sido um obstáculo significativo para os investigadores que trabalham para monitorar a destruição causada pelos ataques aéreos israelenses. “Não espero que eles consigam fazer as coisas em questão de dias ou mesmo semanas, mas se estamos falando de meses e até anos, isso começa a fazer você coçar a cabeça um pouco”, dizia Christoph Koettl, jornalista do New York Times, também à revista.

Além disso, a situação é agravada pela natureza das relações entre o Google e o Estado de Israel, conforme apurado pelo portal Middle East Eye, já em 2022. Naquele ano, a empresa assinou um contrato de US$ 1,2 bilhão com o governo israelense para fornecer serviços de nuvem, incluindo inteligência artificial e tecnologias de aprendizado de máquina.

Após a decisão, funcionários do Google, em carta aberta publicada pelo The Guardian, protestaram contra o acordo, alegando que a tecnologia poderia ser usada para reforçar o “apartheid imposto por Israel” ao povo palestino.

Comparações com outra região em conflito reforçam a crítica à Google: enquanto áreas da Ucrânia receberam atualizações quase instantâneas de imagens em alta resolução, a Faixa de Gaza, uma das regiões mais densamente povoadas do mundo, permanece retratada com imagens desatualizadas e desfocadas.