A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quinta-feira (29/08) que Israel concordou em “pausas humanitárias” para permitir a vacinação de mais de 640 mil crianças contra a poliomielite na Faixa de Gaza. A campanha de imunização, aceita pelas autoridades israelenses após pressão de funcionários das Nações Unidas (ONU) e do próprio governo norte-americano – seu maior aliado de guerra -, começará neste domingo (01/09).
De acordo com Rik Peeperkorn, representante da OMS nos territórios palestinos, a medida acordada com a unidade humanitária do exército israelense (COGAT) consiste primeiramente em uma pausa de três dias na zona central do enclave. Em seguida, uma segunda pausa de três dias na zona sul. Por fim, uma terceira pausa de três dias na zona norte, totalizando, assim, nove dias de campanha em três regiões diferentes.
As vacinações ocorrerão entre 6h e 15h pelo horário local.
“Agora é fundamental que alcancemos 90% de cobertura vacinal”, disse Peeperkorn, não descartando a possibilidade de que sejam necessários dias adicionais para completar as imunizações.
À agência Reuters, o chefe das relações internacionais do Hamas, Basem Naim, afirmou que o grupo palestino está “pronto para cooperar com as organizações internacionais” nas operações da campanha.
Vale lembrar que as “pausas humanitárias” não equivalem a um cessar-fogo. Nesse sentido, especialistas avaliam que a continuidade dos bombardeios israelenses poderá prejudicar o andamento da campanha de vacinação.
“Por que não um cessar-fogo maior e mais sustentável? A resposta a essa pergunta é óbvia. Israel não quer um cessar-fogo. Eles deixaram isso claro. Querem uma guerra indefinida em Gaza”, disse Mohamad Elmasry, professor de estudos de mídia pelo Instituto de Pós-Graduação de Doha, em entrevista à emissora catari Al Jazeera.
Na quarta-feira (28/08), a COGAT disse que a campanha de vacinação será administrada e coordenada pelo próprio exército israelense “como parte das pausas humanitárias de rotina que permitirão à população chegar aos centros médicos”.
Poliomielite como arma de Israel
Em 23 de agosto, a OMS confirmou a presença da doença em um bebê palestino de apenas 11 meses. Ele sofreu paralisia por conta do vírus da poliomielite tipo 2, tratando-se do primeiro caso registrado em 25 anos na Faixa de Gaza.
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa causada por um vírus (o poliovírus) que invade o sistema nervoso e pode levar à paralisia irreversível em questão de horas.
Em julho, a ONG Oxfam chegou a acusar Israel de usar a água como arma de guerra em Gaza, com cortes no abastecimento, bombeamento e destruição de usinas de reprocessamento.
A acusação foi feita após o Ministério da Saúde de Gaza e a Unicef terem detectado a presença do vírus no enclave, em 19 de julho, por meio de amostras de águas residuais.
Na ocasião, a Oxfam alertou que a poliomielite se tornaria uma grave ameaça à população local, sendo ela uma doença de fácil proliferação, o que representaria um perigo principalmente para os campos superlotados.
(*) Com RFI