Ataques aéreos israelenses e tiroteios em centros de ajuda matam 94 palestinos em Gaza
Metade das vítimas buscava suprimentos nos pontos de distribuição administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF)
Pelo menos 94 palestinos foram mortos entre a noite desta quarta-feira (02/06) e a manhã desta quinta (03/06) na Faixa de Gaza, vítimas de ataques aéreos e de tiroteios israelenses. Entre eles, 45 pessoas foram alvejadas pelas forças militares de Israel enquanto buscavam ajuda humanitária nos centros de distribuição controlados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês).
A entidade é comandada por Israel e pelos Estados Unidos. Cinco pessoas estavam do lado de fora de instalações quando foram atacas pelos soldados israelenses; as demais foram assassinadas enquanto aguardavam caminhões de alimentos em diferentes localidades da Faixa de Gaza.
O jornalista Tareq Abu Azzoum, da Al Jazeera, conversou com os sobreviventes dos ataques. Eles contaram que os tiros foram disparados “sem provocação”, após as pessoas esperarem por horas nas filas para conseguir suprimentos básicos de comida. Segundo Azzoum, “não houve nenhum aviso prévio, nenhuma indicação prévia, apenas tiros atravessando a multidão, palestinos desesperados se espalhando para se proteger enquanto as balas voavam”.
Mais de 300 pessoas foram mortas nas últimas 48 horas.

45 pessoas foram alvejadas pelas forças militares de Israel enquanto buscavam ajuda humanitária
Jaber Jehad Badwan / Wikipedia Commons
GHF
Investigação da agência de notícias Associated Press, publicada nesta quarta-feira (03/07), ouviu em sigilo dois contratados norte-americanos, que atuam nos centros da GHF. Eles contaram que mesmo na ausência de qualquer ameaça são utilizadas balas reais, granadas de efeito moral e spray de pimenta contra os civis palestinos.
Os seguranças desses locais têm plena liberdade para fazer o que quiser, são desqualificados e fortemente armados. Eles também contaram a AP que esses centros de distribuição de ajuda são altamente monitorados por câmeras com transmissão em tempo real e com tecnologia de reconhecimento facial. Ali, analistas norte-americanos e militares israelenses atuam na vigilância dessas pessoas.
Na semana passada, o israelense Haaretz publicou depoimentos de soldados israelenses que relataram ter recebido ordens para atirar deliberadamente contra civis desarmados. Eles chamaram o centros de distribuição como ‘campo de matança’.
A GHF é administrada, desde o começo de junho, pelo líder evangélico Johnnie Moore, conselheiro de Donald Trump para assuntos inter-religiosos e membro da Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional. Ele assumiu a presidência da entidade, após a renúncia de Jake Wood, ex-fuzileiro naval dos EUA, que declarou que não poderia garantir a independência da fundação em relação aos interesses israelenses.
Ataques aéreos
Os bombardeios também atingiram estruturas civis. Pelo menos 15 pessoas foram mortas na zona de Muwasi, onde tendas abrigam deslocados internos. Outro ataque atingiu a Escola Mustafa Hafez, no oeste da Cidade de Gaza, matando 11 pessoas. No bairro de Al-Rimal, uma escola que acolhia famílias desalojadas também foi atingida por um míssil israelense.
Os ataques acontecem em meio às negociações de um possível cessar-fogo. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (02/03) que Israel teria aceitado os termos de uma trégua de 60 dias, e pediu ao Hamas que aceitasse o acordo, ameaçando o grupo de que se não aceitasse a situação iria piorar.
O Hamas respondeu no mesmo dia exigindo o fim imediato da guerra e a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza. “Estamos prontos para aceitar qualquer iniciativa que leve claramente ao fim completo da guerra”, afirmou Taher al-Nunu, alto dirigente do grupo, à agência AP.
Desde outubro de 2023, 57.012 palestinos já foram mortos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Há ainda 223 desaparecidos declarados como mortos e mais de 134 mil pessoas ficaram feridas. Pesquisa de Mortalidade em Gaza aponta que vítimas do genocídio podem ser 90 mil pessoas, quase o dobro do registro oficial.