Ataques de Israel na Cisjordânia são ‘disseminação alarmante’ da guerra em Gaza, afirma ONU
Desde início da operação israelense, em 21 de janeiro, 40 mil palestinos foram deslocados à força, situação agravada pela entrada de tanques na região
O diretor da agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou nesta quarta-feira (26/02) na rede social X que “a Cisjordânia está testemunhando uma disseminação alarmante da guerra de Gaza“.
“O medo, a incerteza e a tristeza reinam novamente” entre os habitantes, protestou Lazzarini, referindo-se à operação militar israelense iniciada em janeiro na Cisjordânia, apenas dois dias depois do início da trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
O comissário da ONU, cuja organização é responsável por fornecer ajuda e educação aos palestinos na Cisjordânia, em Gaza e àqueles que vivem em países vizinhos e têm o estatuto de refugiados, disse no X que a a região se tornou “um campo de batalha”.
Em 21 de janeiro, o Exército de Israel iniciou uma operação de grande envergadura contra três campos de refugiados localizados nas cidades de Jenin, Tulkarem e Nur Shams. Em pouco mais de um mês, o avanço dos tanques forçou 40 mil palestinos a fugirem de suas casas nessas áreas.
Até quarta-feira (25/02), o movimento palestino Jihad Islâmica afirmou que 51 mortos foram contabilizados nessas operações na Cisjordânia, entre eles sete crianças.
“A destruição da infraestrutura pública, o nivelamento de estradas e as restrições de acesso se tornaram comuns”, relatou Lazzarini.
Israel ocupa a Cisjordânia desde 1967 e realiza ataques frequentes contra militantes palestinos, mas a atual ofensiva no norte é a mais longa no território em duas décadas. No domingo (23/02), autoridades israelenses disseram que tropas permaneceriam em campos de refugiados no norte da Cisjordânia por muitos meses.

Em 21 de janeiro, Exército de Israel iniciou operação contra três campos de refugiados na Cisjordânia
Anexação inviabilizaria solução de dois Estados
Na terça-feira (25/02), a enviada da ONU para o processo de paz na região, Sigrid Kaag, alertou que as transformações em andamento no Oriente Médio representam o que pode ser a “última chance” para uma solução de dois Estados, um israelense e um palestino, alertando em particular contra os pedidos de anexação da Cisjordânia ocupada.
“O Oriente Médio está passando por uma rápida transformação, cuja escala e impacto são incertos, mas que representa uma oportunidade histórica”, disse Kaag ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Os povos da região podem emergir deste período em paz, segurança e dignidade. Mas também pode ser nossa última chance de alcançar uma solução de dois Estados”, ela alertou.
Nesse contexto, a continuação da colonização na Cisjordânia, as operações militares israelenses neste território palestino ocupado e “os apelos à anexação representam uma ameaça existencial à perspectiva de um Estado palestino viável e independente e, portanto, à solução de dois Estados”, insistiu.
Kaag alertou que uma “retomada das hostilidades” em Gaza, onde um frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas está em vigor desde 19 de janeiro, “deve ser evitada a todo custo”.
As pressões pela anexação da Cisjordânia vêm da extrema direita israelense e de partidos ultraortodoxos que apoiam o governo de Benjamin Netanyahu. O dirigente israelense ainda conta com total apoio do presidente norte-americano, Donald Trump, que deu a ele carta branca para remodelar a região sem considerar qualquer interesse dos palestinos.
Nova troca de prisioneiros por corpos de reféns em Gaza
O movimento islamista palestino Hamas confirmou que entregará na noite desta quarta-feira a Israel os corpos de quatro reféns israelenses, todos homens, em troca da libertação de 625 prisioneiros palestinos.
Forças egípcias devem recuperar os corpos de Tsahi Idan, Itzik Elgarat, Shlomo Mantzur e Ohad Yahalomi, este último um franco-israelense que estava em poder de um grupo palestino aliado ao Hamas, as Brigadas Al-Nasser Salah al-Dine.
