Moradores de Rafah, no extremo sul de Gaza, relataram intensos bombardeios de artilharia e tiros na quinta-feira (30/05), depois que Israel disse ter tomado um corredor estratégico na fronteira do território palestino com o Egito. Na Faixa de Gaza, testemunhas relataram combates no centro e oeste de Rafah.
Testemunhas também disseram que as forças israelenses demoliram vários edifícios nas zonas orientais da cidade, onde a incursão israelense começou em 7 de maio, concentrando-se inicialmente na passagem fronteiriça de Rafah, um ponto de entrada fundamental para a ajuda humanitária.
Israel, que prometeu repetidamente destruir o Hamas depois que o grupo palestino atacou o sul de Israel em 7 de outubro, disse na quarta-feira (29/05) que suas forças assumiram o controle do corredor de 14 quilômetros, na fronteira entre Gaza e Egito. As forças israelenses suspeitavam que o local era usado para contrabando de armas pelo Hamas.
O porta-voz militar, contra-almirante Daniel Hagari, anunciou que Israel assumiu o “controle operacional” da estreita área fronteiriça, onde disse que as tropas “descobriram cerca de 20 túneis”.
O Egito, um mediador de longa data no conflito, que se tornou cada vez mais veemente nas críticas à operação israelense, rejeitou as alegações da existência desses túneis. “Israel usa essas alegações para justificar a continuação da operação na cidade palestina de Rafah e prolongar a guerra para fins políticos”, disse uma fonte egípcia de alto nível, citada pelo Al-Qahera News, ligado ao Estado.
Autoridades egípcias disseram que uma potencial tomada do corredor por Israel poderia violar o acordo de paz histórico dos dois países de 1979, embora não tenha havido nenhum comentário oficial do governo egípcio.
Egito pede mais ajuda humanitária
Numa visita a Pequim, o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, pediu mais assistência humanitária à Gaza sitiada e reiterou a oposição de longa data do seu país a “qualquer tentativa de forçar os palestinos a deixar suas terras”. Enquanto isso, o líder chinês Xi Jinping, ao receber líderes árabes, pediu na quinta-feira uma “conferência de paz internacional ampla, confiável e eficaz” para abordar a guerra.
Os militares israelenses lançaram a incursão em Rafah no início de maio, apesar das objeções internacionais sobre o destino dos civis palestinos ali abrigados.
Um ataque no fim de semana que iniciou um incêndio e matou dezenas de pessoas num campo de deslocados provocou uma onda de novas condenações internacionais, incluindo uma campanha nas redes sociais com o slogan “Todos os olhos em Rafah”, que foi compartilhado por milhões de internautas.
Um projeto de resolução
Um correspondente da AFP relatou artilharia e tiros no bairro de Zeitun, no sul da cidade de Gaza, no norte do território, onde testemunhas viram espessas nuvens de fumaça subindo sobre o campo de refugiados de Jabalia e Beit Lahia.
Antes do início da ofensiva de Rafah, as Nações Unidas afirmavam que cerca de 1,4 milhão de pessoas estavam abrigadas ali. Desde então, um milhão de pessoas fugiram da área, afirmou a agência da ONU para os refugiados palestinos, UNRWA.
O Crescente Vermelho Palestino informou na quarta-feira que dois de seus paramédicos “foram mortos como resultado do bombardeio direto da ocupação israelense” contra uma ambulância perto de Rafah.
Israel disse que teve como alvo um complexo do Hamas e que matou dois líderes importantes do movimento.
Na sequência do ataque, a Argélia apresentou um projeto de resolução da ONU que “exige um cessar-fogo imediato respeitado por todas as partes” e a libertação de todos os reféns, mas não ficou claro quando seria submetido a votação.
Num telefonema com o presidente palestino, Mahmud Abbas, na quarta-feira, o francês Emmanuel Macron disse que Paris estava “determinada a trabalhar com a Argélia” para garantir que o conselho “faça uma declaração forte sobre Rafah”.
Ele também apelou a Abbas para “implementar as reformas necessárias”, oferecendo a “perspectiva de reconhecimento do Estado da Palestina”.
As decisões de Espanha, Noruega e Irlanda de reconhecer formalmente o Estado da Palestina esta semana geraram um debate sobre a questão, e Macron disse que isso deveria acontecer num “momento oportuno”.
Não há ‘dia seguinte’
A ofensiva de Israel matou pelo menos 36.171 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde palestino.
O Conselheiro de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, disse que a guerra pode continuar até o final do ano. “Podemos ter mais sete meses de combates para consolidar o nosso sucesso e alcançar nosso objetivo de destruir o poder e as capacidades militares do Hamas”, disse.
Os Estados Unidos estão entre os países que pedem a Israel para evitar uma ofensiva em grande escala em Rafah devido ao risco para os civis. No entanto, a Casa Branca disse na terça-feira (28/05) que até agora não tinha visto Israel ultrapassar a “linha vermelha”, estabelecida pelo presidente Joe Biden.
O New York Times e a CNN, citando especialistas em armas e análises de vídeo da cena do ataque do fim de semana em Rafah, relataram que a bomba que teria iniciado o incêndio fatal era uma munição guiada GBU-39 fabricada nos EUA.
Na quarta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, apelou a Israel para definir rapidamente uma estratégia pós-guerra para Gaza, sublinhando que “na ausência de um plano para o dia seguinte, não haverá um dia seguinte”.