Durante reunião realizada no Cairo, nesta terça-feira (04/03), os governos do Catar, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos anunciaram seu apoio ao projeto apresentado pelo Egito para a reconstrução do território da Faixa de Gaza.
A decisão foi tomada após um diálogo que reuniu o presidente do país anfitrião, Abdul Fatah al-Sisi, além do emir do Catar, Tamim bin Hamad; o vice-presidente dos Emirados Árabes, Zayed al-Thani; e o chanceler da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan.
“Estamos no caminho certo para lançar uma iniciativa que pode colocar fim em uma das maiores crises que a nossa região já viveu, e há um consenso entre todos aqui em que é preciso superar essa situação o antes possível”, comentou al-Sisi, após o encontro.
Também esteve presente na reunião o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o diplomata português António Guterres.
Plano em três etapas
A iniciativa do Egito inclui uma fase inicial baseada na construção de moradias temporárias para os refugiados palestinos, em simultâneo com um trabalho de desarmamento de minas terrestres e outras armadilhas de guerra.
A segunda fase teria como prioridade a reconstrução da infraestrutura essencial, incluindo hospitais, escolas, centros assistenciais, edifícios administrativos e parte do comércio.
Segundo o canal Al Jazeera, do Catar, o governo do Egito prevê que, caso o plano seja colocado em prática ainda em março, seria possível concluir a primeira etapa e avançar em até um terço da segunda etapa até o final do ano de 2025.
A terceira etapa consistiria na construção de moradias definitivas para a população palestina, e poderia ser iniciada em meados de 2026, ainda com a fase de reconstrução da infraestrutura essencial em andamento.
O financiamento do projeto seria dividido entre os governos da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes. Não foram revelados os valores de custo das obras.
ANP administraria Gaza
Segundo al-Sisi, o governo do Egito elaborou o projeto “em cooperação com os palestinos, através de um comitê administrativo de tecnocratas independentes e profissionais encarregados da governança de Gaza”.

Catar, Arábia Saudita e Emirados prometeram ajudar no financiamento do projeto de reconstrução da Faixa de Gaza
Segundo o governo egípcio, a partir do início do projeto, esse comitê administrativo passaria a governar o enclave e seria responsável, por exemplo, pela distribuição da ajuda humanitária e pelas decisões a respeito do andamento das obras.
Porém, outra das tarefas do comitê, segundo a proposta egípcia, seria a de “preparar o cenário para entregar a administração à Autoridade Nacional Palestina (ANP)”.
A ANP, entidade liderada por Mahmoud Abbas, é a mesma que governa o território da Cisjordânia, mas que não conta com boa imagem entre os habitantes da Faixa de Gaza, que elegeu o Hamas nas últimas eleições legislativas realizadas no enclave, em 2006.
Em comunicado, o Hamas afirmou rejeitar “qualquer solução imposta à Faixa de Gaza por pessoas de fora”.
“Esperamos ansiosamente por um papel eficaz dos países árabes, que acabe com a tragédia humanitária criada pela ocupação (israelense) na Faixa de Gaza e frustre os planos de expulsar (os palestinos)”, disse a nota difundida pelo grupo de resistência palestino.
Contrariando Trump
O plano apresentado pelo Egito é uma contraproposta à iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que seu país assuma o controle administrativo do território palestino e inicie a construção de um resort de alto luxo no local.
O mandatário estadunidense anunciou seu plano em uma coletiva conjunta com o premiê israelense Benjamin Netanyahu, que foi realizada na Casa Branca, no início de fevereiro.
Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos disse que expulsaria os 2,3 milhões de palestinos residentes no enclave, através de incentivos financeiros aos governos do Egito e da Jordânia para que recebessem os refugiados.
“Eles (palestinos) terão uma chance real de serem felizes, seguros e livres. Os Estados Unidos, trabalhando com grandes equipes de desenvolvimento de todo o mundo, começarão a construção lenta e cuidadosamente, do que será um dos melhores e mais espetaculares empreendimentos desse tipo na Terra”, disse Trump, ao justificar seu plano de expulsão dos palestinos de Gaza.
A proposta foi criticada por diversas lideranças mundiais, que acusaram o líder da extrema direita norte-americana de querer promover uma limpeza étnica dos palestinos que vivem no enclave.
Com informações de Al Jazeera.