Censura na BBC: emissora sanciona funcionários e proíbe transmissões ao vivo após críticas a Israel
Banda inglesa promoveu manifestação pró-Palestina em festival de música difundido pela companhia
A emissora britânica BBC determinou nesta quinta-feira (03/07) sanções contra funcionários e a proibição de apresentações musicais de “alto risco” após a manifestação pró-Palestina da banda inglesa Bob Vylan durante o Festival de Glastonbury, na Inglaterra. “Não há espaço para antissemitismo em nosso conteúdo”, declarou a companhia.
Segundo um comunicado, a Corporação Britânica de Radiodifusão está tomando “ações para garantir a devida responsabilização daqueles considerados responsáveis pelas falhas na transmissão”.
A BBC não divulgou detalhes sobre quais medidas disciplinares específicas serão tomadas contra os responsáveis pela falha na transmissão. Contudo, os colaboradores seniores das áreas de música e eventos foram afastados de suas tarefas diárias relacionadas ao setor. “Não comentaremos mais sobre esses processos neste momento”, complementou a emissora.
De acordo com a companhia, os funcionários optaram por não interromper a transmissão ao vivo enquanto o rapper Pascal “Bobby” Robinson-Foster liderava gritos como “Palestina Livre”, “Morte às IDF (Forças de Defesa Israelenses)” e “do rio até o mar, a Palestina deve ser e será livre” durante sua apresentação no palco West Holts do festival.
Segundo informações da própria BBC, a apresentação permaneceu disponível por mais de quatro horas no iPlayer, serviço de streaming da emissora, permitindo que espectadores retrocedessem e assistissem ao material.
Samir Shah, presidente da BBC, classificou a decisão de não interromper a transmissão como “inquestionavelmente um erro de julgamento”. Em comunicado, ele pediu desculpas “a todos os telespectadores e ouvintes e, particularmente, à comunidade judaica”, classificando a manifestação pró-Palestina do grupo como “visões antissemitas inaceitáveis”.

Manifestação pró-Palestina da banda Bob Vylan durante Glastonbury
Bobbyvylan/Instagram
Já Tim Davie, diretor-geral da BBC, lamentou “profundamente” e classificou o ato contrário ao genocídio promovido por Israel como um “comportamento ofensivo e deplorável”. “Quero pedir desculpas – ao nosso público e a todos vocês, mas, em particular, aos colegas judeus e à comunidade judaica”, declarou.
A emissora havia classificado previamente o Bob Vylan como grupo de “alto risco”, junto com outros seis artistas que se apresentariam no festival. Mesmo assim, a BBC considerou que todos “eram adequados para transmissão ao vivo, com mitigações apropriadas”.
“Antes do Glastonbury, foi tomada a decisão de que os riscos de conformidade poderiam ser mitigados em tempo real na transmissão ao vivo – através do uso de avisos de linguagem ou conteúdo – sem a necessidade de atraso. Isso claramente não foi o caso”, afirmou a emissora em comunicado.
Diante da repercussão, a emissora anunciou “mudanças imediatas na transmissão ao vivo de eventos musicais”. Segundo o comunicado, “quaisquer apresentações musicais consideradas de alto risco pela BBC não serão mais transmitidas ao vivo”.
As mudanças ocorreram após a secretária de Cultura da Inglaterra, Lisa Nandy, manifestar-se no Parlamento sobre o caso. “Dada a seriedade do que aconteceu, e particularmente ouvimos na Câmara as histórias absolutamente chocantes do impacto que isso teve na comunidade judaica neste país – eu esperaria que houvesse responsabilização nos mais altos níveis [da BBC]”, afirmou.
Por sua vez, a dupla Bob Vylan, que desde o ocorrido teve várias apresentações canceladas na Europa, pronunciou-se sobre as críticas: “Não somos a favor da morte de judeus, árabes ou qualquer outra raça ou grupo de pessoas. Somos a favor do desmantelamento de uma máquina militar violenta”.
“O silêncio não é uma opção. Nós ficaremos bem; o povo da Palestina está sofrendo”, advertiu ainda, alertando que eventuais sanções referentes ao seu ato “serão apenas uma distração” perante o que está acontecendo em Gaza.
(*) Com informações da BBC