O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, suspendeu a votação do acordo de cessar-fogo em Gaza, que deveria ser feita pelo Gabinete de Segurança de seu governo na manhã desta quinta-feira (16/01). Ao mesmo tempo, desde a noite de quarta-feira, quando o acordo foi anunciado como praticamente certo, o exército israelense intensificou seus ataques aos territórios palestinos, matando 71 pessoas.
Netanyahu diz que o gabinete israelense não se reunirá para aprovar o acordo até que o Hamas recue em “tentar extorquir concessões de última hora”. O problema, segundo ele, seria a exigência do Hamas em determinar quais prisioneiros palestinos seriam libertados, quando o acordo tem “uma cláusula explícita que dá a Israel poder de veto sobre a libertação de assassinos em massa”.
O Hamas não confirmou a exigência, e a mídia israelense avalia que o adiamento pode ser resultado da luta interna no governo israelense. Segundo o jornal Haaretz, o deputado Zvi Succod, do partido de extrema direita Sionismo Religioso, disse que “há uma grande probabilidade” de que seu partido se retire do governo se for aprovado um acordo sobre o Hamas.
O partido, liderado pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, reuniu-se esta manhã para decidir se deixará ou não o governo, caso este aprove o acordo. “Uma condição clara para nossa permanência no governo é a certeza total de um retorno à guerra com grande força, em plena capacidade e de uma forma nova, até a vitória total em todos os seus componentes, com a destruição do Hamas e o retorno de todos os reféns”, disse Smotrich antes da reunião.
Seu correligionário Zvi Succod concorda: “Estamos em discussões com o primeiro-ministro para garantir que a guerra continuará. Não há nada que possamos aceitar, nem orçamentos nem posições, nem mesmo uma mudança na Cisjordânia, onde estamos desmantelando o Estado palestino, nada pode superar essa questão”, disse ele ao jornal israelense Haaretz.
Netanyahu não precisa dos partidos da extrema-direita israelense
O ex-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Alon Liel, avalia que Netanyahu tem uma clara maioria no gabinete e que poderia manter seu governo mesmo sem os membros mais à extrema-direita, como Smotrich e o ministro Ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir.
“Mas ele teme se tornar mais dependente dos membros moderados do parlamento”, diz Alon Liel, que também é ex-oficial do exército. Liel acredita que a primeira fase do acordo de cessar-fogo acabará aprovada, mas que a segunda fase, destinada a por um fim permanente à guerra, é muito menos certa.
Ataques intensificados
Enquanto os políticos decidem o futuro da guerra, o exército de Israel intensificou os ataques aos territórios palestinos na noite de quarta-feira (15/01). Nas últimas 24 horas, as bombas de Israel mataram ao menos 82 palestinos – 73 depois do anúncio do cessar-fogo – e feriram mais de 200 em Gaza. Na Cisjordânia ocupada houve seis mortes e dois gravemente feridos no campo de refugiados de Jenin.
Os ataques continuaram na manhã desta quinta-feira (16/01) em toda a faixa de Gaza. Só na cidade de Gaza foram 61 mortes, incluindo 19 crianças e 24 mulheres. Os bombardeios também destruiram casas em Rafah, no sul do enclave, em Nuseirat, centro, e também no norte, que está sitiado pelo exército sionista há três meses.

Benjamin Netanyahu e militares israelenses
Em Deir el-Balah, no centro do enclave, o alvo foram as tendas de um acampamento de deslocados. As informações são de fontes médicas e do serviço de resgate de Gaza, ouvidas pelas Al Jazeera e, no caso da Cisjordânia, pela agência Wafa.
“Há uma hora eu estava documentando a alegria do povo de Gaza com as notícias do cessar-fogo, mas a ocupação israelense continua cometendo massacres”, disse o repórter da Al Jazeera Anas al-Sharif, filmado em um necrotério improvisado com vários corpos ao fundo, incluindo os de várias crianças pequenas.
Bombardeio a acampamento de refugiados na Cisjordânia
Na Cisjordânia, além do bombardeio ao campo de refugiados, os militares israelenses realizaram incursões e prisões durante a noite em vários locais. Ao menos seis homens e uma mulher foram detidos e outro foi hospitalizado, ferido pelos soldados.
Nos 15 meses que se sucederam à ação da resistência palestina de 7 de outubro de 2023, Israel já matou mais de 46.700 pessoas, sendo 60% delas mulheres e crianças. O número não inclui os cerca de 10 mil que se calcula que continuem soterrados e nem vítimas de desnutrição, frio e doenças que se espalharam em consequência da guerra. As estimativas são de que todos esses fatores somados poderiam quadruplicar o número de mortos, que superaria os 200 mil.
Além disso, a guerra devastou Gaza, destruindo a quase totalidade de sua infraestrutura básica e boa parte das casas. Cerca de 90% da população foi deslocada de suas casas.