Domingo, 20 de abril de 2025
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O cineasta palestino Hamdan Ballal, um dos diretores do filme Sem Chão (No Other Land), vencedor do Oscar 2025, que estava desaparecido após ser agredido e sequestrado por colonos israelenses na Cisjordânia ocupada, “está livre e prestes a voltar para casa”, informou seu colega israelense que também dirigiu a obra, Yuval Abraham, nesta terça-feira (25/03). 

Abraham, que realizou a denúncia no dia anterior, usou a plataforma X para seguir atualizando a situação de Ballal, até então sem notícias. Em publicação mais recente, o co-diretor israelense esclareceu que o palestino passou a noite algemado, sendo “espancado [por soldados] em uma base militar israelense”. 

“Após o ataque, Hamdan foi algemado e vendado a noite toda em uma base do exército enquanto dois soldados o espancavam no chão, segundo sua advogada Leah Tsemel, depois de falar com ele agora há pouco. Ele ainda está retido na delegacia de polícia de Kiryat Arba”, detalhou.

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Na segunda-feira (24/03), Abraham relatou que Ballal havia sido espancado e levado a um local desconhecido por um grupo de colonos israelenses que invadiu seu vilarejo. De acordo com ele, o palestino estava “sangrando”, apresentava “ferimentos na cabeça e no estômago”, e nessas condições teria sido sequestrado.

O prefeito de Susiya, Jihad Nawajaa, informou à agência de notícias Reuters que Ballal estava participando de um encontro pelo fim do jejum diário do Ramadã, na vila de Susiya, perto de Hebron, quando um grupo de colonos atacou a reunião e tentou roubar ovelhas de casas palestinas.

“Dezenas de colonos atacaram a reunião no Iftar (fim do jejum diário)”, disse Nawajaa. “Os jovens saíram para impedi-los, e houve cerca de oito feridos do nosso lado.”

Monika Skolimowska/picture alliance via Getty Images
O cineasta palestino Hamdan Ballal, um dos diretores do filme Sem Chão (No Other Land), vencedor do Oscar 2025, foi libertado nesta terça-feira (25/03) após ser atacado e sequestrado por colonos israelenses

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) confirmaram terem prendido Ballal e justificaram o sequestro sob o argumento de que ele estava entre um grupo de palestinos que arremessava pedras contra colonos israelenses. Entretanto, negaram tê-lo retirado à força de uma ambulância onde estava para tratar as feridas após ser agredido, conforme a denúncia de Abraham.

De acordo com o ativista palestino de direitos humanos Ihab Hassan, que testemunhou o ataque naquele momento, “colonos invadiram casas, atiraram pedras, quebraram janelas e veículos e agrediram violentamente moradores e ativistas de solidariedade. Várias pessoas ficaram feridas”.

Print/X/Ihab Hassan
Ativista palestino de direitos humanos, Ihab Hassan também denunciou ataque de colonos israelenses contra Hamdan Ballal, co-diretor do filme No Other Land

Sem Chão (No Other Land)

Vencedor do Oscar 2025 na categoria de Melhor Documentário, Sem Chão conta a história das dificuldades que o palestino Basel Adra, co-diretor do filme, enfrenta enquanto documenta a destruição dos vilarejos de Masafer Yatta na Cisjordânia ocupada. O trama também retrata sua amizade crescente com um segundo diretor, o israelense Yuval Abraham, que passa, neste processo, a compreender as restrições, a discriminação que Adra enfrenta e a importância da resistência palestina.

Durante o discurso na principal premiação estadunidense de cinema, após a entrega do prêmio, Adra e Abraham (os outros dois diretores são Rachel Szor e Hamdan Ballal), realizaram uma forte denúncia das ações militares do regime sionista em Gaza e na Cisjordânia.

“Há cerca de dois meses, me tornei pai, e minha esperança para minha filha é que ela não precise viver a mesma vida que vivo agora — sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e os deslocamentos forçados que minha comunidade, Masafer Yatta, enfrenta todos os dias sob a ocupação israelense”, disse Adra.

Sem Chão já havia conquistado outros importantes prêmios. Foi escolhido o melhor documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2024, e Melhor Filme Não-Ficcional do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York.