Defensores da causa palestina repudiam anúncio da Stand With Us que usa ‘Ainda Estou Aqui’
Presidente da Fepal avalia que publicidade da Stand With Us ofende "todos os democratas que tombaram na luta por liberdade e soberania”
O uso da vitória do filme brasileiro Ainda Estou Aqui no Oscar para uma campanha publicitária da entidade sionista Stand With Us despertou o repúdio de coletivos e entidades que defendem a causa palestina.
A campanha da Stand With Us foi publicada nesta terça-feira (04/03) em anúncios de página inteira veiculados em alguns dos jornais de maior circulação do Brasil, incluindo a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo.
A peça publicitária continha o seguinte texto: “Parabenizamos o cinema brasileiro e relembramos: eles ainda estão lá”. Em seguida, mostra um mosaico com vários rostos, antecedido pela legenda “reféns mantidos na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023”, em referência aos israelenses tomados como prisioneiros pela resistência palestina.
O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, qualificou o anúncio da Stand With Us como “indecente” e afirmou que considera uma ironia, já que, “tomando em conta a ideologia pregada por aqueles que apoiam o genocídio israelense na Palestina, podemos supor que a grande maioria deles torceu contra o filme brasileiro e contra a atriz Fernanda Torres”.
Comparação com a ditadura
Rabah recordou que “todas as ditaduras ocorridas na América do Sul entre os anos 60 e 80 contaram com certo grau de apoio por parte de Israel, e em alguns casos esse apoio foi feito através de treinamento aos aparatos repressivos em práticas de tortura”.
“É uma hipocrisia instrumentalizar um filme que é o avesso do que são o sionismo e seus apoiadores no Brasil. Um verdadeiro escárnio”, acrescentou Rabah, em entrevista a Opera Mundi.
O presidente da Fepal concluiu dizendo que o anúncio da Stand With Us “ofende o Brasil e todos os democratas que tombaram na luta por liberdade e soberania”, ao sugerir uma comparação entre as vítimas da ditadura militar brasileira, ocorrida entre 1964 e 1985, e os israelenses que são mantidos reféns pelo Hamas.
“O sofrimento provocado aos presos de guerra israelenses e ao povo palestino é resultado da ocupação e das políticas extremistas do regime israelense, especialmente deste governo liderado por (Benjamin) Netanyahu, que dá inveja aos criadores das câmaras de gás”, afirmou.

‘Falso humanismo’
O cientista político Bruno Lima Rocha, integrante do Integrante do Centro de Pesquisa e Produção em Comunicação e Emergência (Emerge – UFF), apontou que “o discurso da ONG sionista e transnacional Stand With Us insiste na falsa analogia entre os reféns israelenses, que estão em um território palestino ocupado ilegalmente por Israel, com as vítimas de um regime de exceção que, por sinal, foi apoiado por Israel, assim como as demais ditaduras sul-americanas”.
Ele acrescentou que não há como comparar os reféns israelenses “com os mais de 11 mil presos políticos palestinos” mantidos encarcerados em Israel “por um governo ilegítimo e de ocupação ilegal”.
Lima Rocha afirma que, “se houvesse realmente algum tipo de preocupação humanista por parte dos apoiadores de Netanyahu, jamais estariam a favor da punição coletiva e das seguidas propostas e ações de limpeza étnica na Palestina Ocupada”.
