Dezenas de milhares de palestinos que foram forçados a se deslocarem para o sul da Faixa de Gaza começaram a retornar ao norte na manhã desta segunda-feira (27/01), após superada a primeira crise do acordo entre Israel e Hamas.
O retorno devia ter começado no sábado (25/01), mas Israel suspendeu a abertura do cerco ao norte, alegando que o Hamas não havia libertado a refém civil Arbel Yehoud.
O retorno dos palestinos foi autorizado após o grupo palestino concordou em entregar, antes da próxma sexta-feira (31/01), Yehoud e outros dois reféns que não constavam no acordo inicial
A passagem de palestinos deslocados começou pela Estada Al-Rashid, pela parte ocidental do posto de controle de Netzarim, em direção à Cidade de Gaza e à parte norte do enclave, disse uma autoridade israelense à agência AFP.
Milhares de palestinos reuniram desde sábado em torno dos bloqueios israelenses nas estradas que dão acesso ao norte. Ali, as famílias instaladas em abrigos e tendas receberam a notícia com aplausos e explosões de alegria. “Sem dormir, tenho tudo embalado e pronto para ir com a primeira luz do dia”, disse Ghada, mãe de cinco filhos à Reuters.
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Antes da alegria, porém, um tanto mais de tragédia. As forças israelenses atiraram contra a multidão que esperava a abertura dos bloqueios em três ocasiões entre a noite de sábado e o dia de domingo (26/01), quando o cessar-fogo já vigorava.
Os disparos mataram duas pessoas e feriram nove, segundo o hospital Al-Awda, que recebeu as vítimas. O Exército israelense disse que disparou contra “concentrações de dezenas de suspeitos que avançavam em direção às tropas”.
Os militares alertaram os palestinos a se manterem longe de seus soldados, que permanecem em uma “zona tampão” ao longo da fronteira e no corredor Netzarim, que separa o norte do sul do enclave.
Com o início do cessar-fogo, Israel retirou suas tropas de algumas áreas de Gazas. No sábado, o Hamas libertou quatro mulheres soldados israelenses e Israel libertou 200 prisioneiros palestinos, a maioria deles condenados à prisão perpétua.

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Hamas, Egito e Jordânia rejeitam realocação fora de Gaza
Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu que a população de Gaza fosse, ao menos temporariamente, instalada em outros países árabes do entorno, como Egito e Jordânia.
Ele disse que era necessário “limpar” o território, sem esclarecer se era uma referência à limpeza étnica ou a remoção das ruínas a que ficaram reduzidas 80% das construções do enclave.
Egito e Jordânia rejeitaram a proposta, assim como o Hamas. Todos temem que Israel jamais autorize o retorno desses palestinos a Gaza.
Bassem Naim, alto funcionário do grupo disse que os palestinos nunca aceitariam a proposta. Acrescentou que, se Israel suspender o bloqueio, os próprios palestinos seriam capazes de reconstruir Gaza “ainda melhor do que antes”.
“O regresso dos deslocados é uma vitória para o nosso povo e assinala o fracasso e a derrota dos planos de ocupação e deslocação”, disse um comunicado do Hamas
O novo secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, conversou no domingo com o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu. Foi seu primeiro contato com uma autoridade estrangeira após ser empossado, no sábado, pouco depois que sua indicação fosse referendada pelo Senado.
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A resistência do Senado em confirmá-lo no cargo foi em relação ao fato de ele ser acusado de agressão sexual, consumo excessivo de álcool e falta de experiência. O Pentágono informou em comunicado:
“O secretário enfatizou que os Estados Unidos estão totalmente comprometidos, sob a liderança do presidente Trump, em garantir que Israel tenha as capacidades necessárias para se defender”.
No Líbano, o Exército israelense também abriu fogo contra civis que tentavam chegar às suas aldeias natais. O saldo foi de ao menos 22 pessoas mortas, incluindo seis mulheres e um soldado libanês, e outras 124 feridas.
Israel adiou sua retirada do Líbano, alegando que o Exército libanês violou compromissos do acordo de cessar-fogo. Disse ainda que os civis foram alertados que tentar voltar para suas casas podia ser arriscado
Horas depois, a Casa Branca informou que Israel e Líbano estenderam até 18 de fevereiro o prazo para a retirada das tropas sionistas do sul desse país. O acordo inicial de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, firmado no fim de novembro, estabelecia 60 dias para a retirada.