O Exército de Israel libertou nesta segunda-feira (01/07) dezenas de presos palestinos que estavam no campo de detenção de Sde Teiman, incluindo Mohammed Abu Salmiya, diretor do maior hospital da Faixa de Gaza, o Al-Shifa.
Segundo a Corporação de Radiodifusão Pública de Israel, a ação foi feita para liberar espaço nas prisões israelenses, superlotadas desde o início da ofensiva no enclave em 7 de outubro, e não está necessariamente relacionada a acordos com o grupo palestino Hamas. No entanto, o Serviço Prisional de Israel negou esta versão.
Abu Salmiya, que foi detido em novembro enquanto saía do hospital como parte de um comboio da Organização Mundial da Saúde (OMS) em meio a supostas alegações sobre o uso do centro médico como base do Hamas, foi transferido com o grupo para centros médicos no território.
Fontes palestinas informaram que o diretor do hospital foi solto junto com aproximadamente 55 outros prisioneiros palestinos capturados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), como é chamado o exército israelense, depois de 7 de outubro, no início da ofensiva israelense no enclave.
Em entrevista coletiva, o diretor do hospital Al-Shifa de Gaza contou que os prisioneiros palestinos em Sde Teiman sofriam torturas e abusos diariamente. Também revelou que os guardas israelenses quebraram seu dedo, o espancaram com bastões, e usaram cães para torturá-lo.
“Nossos detidos foram submetidos a todos os tipos de tortura atrás das grades. As celas são arrombadas e os prisioneiros são espancados”, declarou.
Abu Salmiya acrescentou que os detidos sofriam restrição de medicamentos e atendimento médico adequado. Segundo ele, “muitos prisioneiros foram martirizados em celas de interrogatório” e “médicos e enfermeiras israelenses espancaram e torturaram prisioneiros palestinos e trataram os corpos dos prisioneiros como se eles fossem objetos inanimados”.
“Cada prisioneiro perdeu cerca de 30 quilos entre a negação de comida e a tortura”, disse ele, segundo o jornal catari Al Jazeera, afirmando que sobreviveram com “nada mais do que um pão durante dois meses”.
“Não nos encontramos com advogados, nem nenhuma instituição internacional nos visitou”, denunciou ainda ao afirmar que apesar de ter sido preso por oito meses, nenhuma acusação formal foi feita contra ele.
Libertação gera embate no governo Netanyahu
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou a abertura de uma investigação imediata sobre a libertação de Abu Salmiya dos outros palestinos detidos.
O gabinete do premiê afirmou que “a escolha de libertar os detidos foi feita na sequência de argumentos do Supremo Tribunal contra a detenção no centro de Sde Teiman”.
Além disso, alegou que “a identidade dos libertados é determinada de forma independente pelas forças de segurança com base em avaliações profissionais”.
A libertação de Abu Salmiya foi criticada tanto pela maioria como pela oposição do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O gabinete do ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse não ter conhecimento prévio da libertação de Abu Salmiya, após a maioria dos ministros do governo criticarem duramente a decisão e pedirem esclarecimentos sobre o caso.
De acordo com capturas de tela de um grupo de WhatsApp dos ministros obtidas pelo jornal israelense Haaretz, o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, escreveu: “é hora de mandar o chefe do Shin Bet [serviço de segurança interna de Israel] para casa. Ele faz o que quer e Gallant o apoia totalmente. Ambos não fazem conta dos cuidados do governo”.
Já o ministro de Assuntos da Diáspora de Israel, Amichai Chikli, também perguntou se era possível “obter uma explicação sobre a razão pela qual este homem, em cujo hospital os nossos reféns foram assassinados e onde funcionava a sede do Hamas, foi libertado”.
O líder da oposição de Israel, Yair Lapid, também atacou a decisão, enfatizando que a libertação do diretor do hospital é um “desastre” que denota “ilegalidade e disfunção” no governo Netanyahu.
(*) Com Ansa