Dono da Ben & Jerry’s é preso após denunciar cumplicidade dos EUA no genocídio palestino
Ben Cohen acusou Capitólio de financiar morte de crianças em Gaza e disse que ‘destruição e massacre de famílias palestinas são atentando à Justiça e decência’
O empresário norte-americano Ben Cohen, cofundador da marca de sorvetes Ben & Jerry’s e ativista político, foi preso na última quarta-feira (14/05) durante um protesto pacífico no Congresso dos Estados Unidos contra o genocídio cometido por Israel em Gaza, apoiado por Washington.
“Eu disse ao Congresso que eles estão matando crianças pobres em Gaza ao comprar bombas, e estão pagando por isso ao expulsar crianças pobres do Medicaid [programa de saúde social] nos EUA. Essa foi a resposta das autoridades”, escreveu o perfil de Cohen, que é judeu, na rede social X.
I told Congress they’re killing poor kids in Gaza by buying bombs, and they’re paying for it by kicking poor kids off Medicaid in the US. This was the authorities’ response. pic.twitter.com/uOf7xrzzWM
— Ben Cohen (@YoBenCohen) May 14, 2025
Já nesta quinta-feira (15/05), sem informações claras se Cohen já foi liberto, o perfil publicou a seguinte mensagem do empresário: “Não posso me chamar de [norte-] americano e não arriscar meu corpo”.
“Para mim, a destruição e o massacre de famílias que vivem em Gaza, financiados pelo governo, são um atentado à justiça, à decência e ao que eu pensava ser o jeito [norte-] americano. O jeito [norte-] americano que o Superman costumava defender, junto com a Verdade e a Justiça”, declarou Cohen.
I can’t call myself an American and not put my body on the line.
For me, our government-funded destruction and slaughter of families living in Gaza is an attack on justice, common decency, and what I had thought was the American way. The American way that Superman used to…
— Ben Cohen (@YoBenCohen) May 15, 2025
O protesto e a prisão do empresário aconteceram dentro do Capitólio, sede do Congresso dos EUA, durante uma audiência do secretário de Saúde e Serviços Humanos da Presidência de Donald Trump, Robert F. Kennedy Jr., sobre reformulação das agências federais de saúde.
“A verdade precisa ser dita. Os Estados Unidos matam crianças pobres em Gaza e pagam expulsando crianças pobres do sistema de saúde”, declarou Cohen antes de ser levado pelas autoridades.
O protesto de Cohen foi antecedido pela ação de ativistas do grupo de paz liderado por mulheres CODEPINK, que se levantaram contra a cumplicidade norte-americana em Gaza, com gritos e cartazes, durante a fala de Kennedy Jr. na audiência, que estava respondendo perguntas dos legisladores.
O vídeo disponibilizado pelo perfil de Cohen no X mostra que segundos após o início do ato, policiais do Capitólio abordam as mulheres de forma violenta, tentando retirá-las da sala.

Captura de tela de vídeo disponibilizado no perfil de Ben Cohen do X
Durante a abordagem contra as ativistas do CODEPINK, Cohen se levanta e direciona sua fala de protesto ao sobrinho do ex-presidente norte-americano John F. Kennedy (1961-1963). Também segundos depois, com menos violência por parte da polícia, é detido.
Nos corredores do Capitólio, uma mulher pergunta “Ben, por que você está sendo preso?”, e o empresário responde, ao ser puxado pelo braço por um policial, “o Congresso mata crianças pobres em Gaza ao comprar bombas, e estão pagando por isso ao expulsar crianças pobres do Medicaid”.
Os policiais do Capitólio dão gritos de ordem para que as pessoas no corredor se afastem e liberem o espaço, mas a mulher questiona mais uma vez: “Ben, há quantos dias elas [as crianças] estão passando fome em Gaza?” e obtém mais um resposta do ativista: “Há quanto tempo? 75 dias?”, em referência ao bloqueio das fronteiras de Gaza há mais de dois meses por Israel, que não permite a entrada de nenhuma ajuda humanitária aos palestinos.
Após esta segunda resposta, mais outros dois policiais abordam Cohen e ordenam que ele pare de responder a mulher que também está gravando a cena, e mais uma vez, que as pessoas liberem o corredor. No entanto, a mulher, não identificada, insiste: “Ben, o que você está exigindo dos Congresso e dos senadores em relação à Gaza?”, o empresário ignora a ordem dos agentes e responde: “o Congresso e os senadores precisam afrouxar o cerco [israelense]. Precisam permitir a entrada de comida em Gaza. Precisam permitir comida para as crianças famintas”, enquanto é levado, algemado, pelos corredores do Capitólio.
Outra mulher intervém e questiona “o que o senhor está dizendo?” e Cohen reitera: “estou dizendo que o Congresso está pagando para bombardear crianças pobres em Gaza com o dinheiro da expulsão de crianças pobres do Medicaid nos EUA”.
A gravação é encerrada após um oficial ordenar aos demais colegas que não deixem as pessoas no corredor “chegarem mais perto”, gritando “afaste-se!” e “parem todos!”
Cohen e outros seis ativistas foram presos pelas acusações de “aglomeração, obstrução ou incomodidade”, agressão a um policial ou resistência à prisão, segundo um comunicado da Polícia do Capitólio dos EUA, citado pela emissora Al Jazeera.
Como o empresário está apenas sob as primeiras acusações, está passível de ser condenado a 90 dias de prisão, multa de U$500 dólares, os ambas as penas. Esta ação se soma a uma série de medidas repressivas por parte do governo dos EUA e das autoridades do Capitólio contra manifestantes que denunciam o massacre em Gaza nos campus universitários, nas ruas e agora dentro das instituições do governo.
Ben Cohen, ao lado de seu sócio Jerry Greenfield, sempre esteve envolvido em causas progressistas e já se pronunciou diversas vezes contra a ocupação israelense da Palestina.
Em uma das ações contra a ocupação israelense em Gaza, os empresários anunciaram em 2021, antes mesmo do início do mais recente conflito de Tel Aviv no enclave palestino, em outubro de 2023, que não permitira mais a venda de seus produtos sob sua licenciada israelense na Cisjordânia e em Gaza.
(*) Com Brasil247, Monitor do Oriente Médio e informações da Al Jazeera
