O jornal israelense Haaretz publicou, nesta segunda-feira (04/11), um editorial contrariando as afirmações de um de seus editores e chefe, Amos Schocken, que declarou na última semana que Tel Aviv está “lutando contra os combatentes da liberdade palestinos que chama de terroristas”, referindo-se ao Hamas na Faixa de Gaza.
“O editor do Haaretz, Amos Schocken, não chamou os terroristas do Hamas de “combatentes da liberdade”. Em seu discurso na conferência do Haaretz em Londres na semana passada, ele disse, entre outras coisas, que “o governo de Netanyahu não se importa em impor um regime cruel de apartheid à população palestina. Ele descarta os custos de ambos os lados para defender os assentamentos enquanto luta contra os combatentes da liberdade palestinos, que Israel chama de terroristas”, escreve o texto.
O texto intitulado “Terroristas não são combatentes da liberdade” resgata o esclarecimento de Schocken após as declarações: “Eu deveria ter dito: lutadores pela liberdade, que também recorrem a táticas de terror – que devem ser combatidas. O uso do terror não é legítimo”, especificou o editor. Contudo, o Haaretz considerou que seu posicionamento não foi suficiente, uma vez que não condenou ataques de outros grupos palestinos.
“Ferir civis deliberadamente é ilegítimo. Usar violência contra civis e semear terror entre eles para atingir objetivos políticos ou ideológicos é terrorismo […] Qualquer organização que defenda o assassinato de mulheres, crianças e idosos é uma organização terrorista, e seus membros são terroristas. Eles certamente não são ‘combatentes da liberdade’”, declara o texto que reflete a opinião do jornal, citado pelo Middle East Eye.
Confusão na imprensa israelense e sanções contra o Haaretz
O editorial do veículo israelense, que é um dos jornais mais antigos da região, fundado em 1919 na Palestina histórica, quase três décadas antes da criação do estado israelense, tenta atenuar a confusão que as declarações de Schocken provocaram na imprensa do país e no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
As declarações do editor ao descrever Israel como responsável por impor um “regime de apartheid” aos palestinos e caracterizar o atual ataque militar em Gaza como uma “segunda Nakba” – referindo-se à Catástrofe Palestina, quando mais de 700 mil pessoas foram forçadas ao deslocamento em 1948 após outra guerra israelense – fez o ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, solicitar uma série de restrições governamentais contra o Haaretz.
Entre as medidas, o chefe da pasta solicitou a não-realização de futuros contratos, não-fornecimento de assinaturas do jornal a funcionários públicos ou mesmo a renovação dos contratos já existentes.
Já os ministérios do Interior, Educação e Assuntos da Diáspora anunciaram que cortariam laços com o jornal após comentários feitos por Schocken.
Em uma tentativa de boicote financeiro o jornal, a agência de publicidade do governo israelense (Government Advertising Bureau) deve “ordenar ao Haaretz que cesse todos os anúncios, incluindo avisos estatutários, independentemente do status de pagamento, e buscar reembolsos para quaisquer pagamentos existentes. Nenhum outro anúncio deve ser colocado na publicação”.
Já o ministro da Justiça, Yariv Levin, pediu à Procuradoria-Geral do país poderes para restringir as operações do jornal. “Peço que me enviem urgentemente um projeto de lei estipulando que ações de cidadãos israelenses para promover ou encorajar sanções internacionais contra Israel, seus líderes, forças de segurança e cidadãos constituirão um crime punível com dez anos de prisão. Solicito ainda que tal delito em tempo de guerra seja considerado uma circunstância agravante, permitindo que a pena seja dobrada”, escreveu ele, de acordo o Middle East Eye.
(*) Com Monitor do Oriente Médio