Em assembleia esvaziada e sob vaias, Netanyahu diz estar vencendo guerra; Israel bombardeia Beirute após fala
Diversas delegações, incluindo a iraniana e a brasileira, abandonaram salão principal da ONU assim que premiê israelense subiu ao púlpito
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, realizou nesta sexta-feira (27/09) o seu discurso na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), enfatizando que não queria ter comparecido ao evento, mas que optou por marcar presença para “esclarecer” o que classificou como “mentiras e calúnias” da ONU.
Assim que Netanyahu subiu ao púlpito para discursar, em meio ao som de vaias, diversos representantes internacionais deixaram o local em forma de protesto. Entre elas, as delegações do Irã, que apoia o Hezbollah, e do Brasil. Na quarta-feira (25/09), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva mencionou o genocídio promovido por Israel em Gaza e condenou os ataques no Líbano. Seu discurso não foi aplaudido pela delegação israelense.
Em imagens captadas pela emissora catari Al Jazeera, é possível ver que dezenas de pessoas imediatamente se levantam de suas cadeiras e se direcionam à porta do salão principal da ONU.
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Colocando seu país na posição de vítima de um suposto complô difamatório internacional, o premiê israelense iniciou seu discurso dizendo que “vim falar pelo povo e pela verdade. […] Israel busca a paz, Israel anseia pela paz. Israel fez a paz e fará a paz novamente”.
Em seguida, Netanyahu tentou justificar os massacres promovidos por Israel na Faixa de Gaza e escalada de conflitos, agora, no Líbano. Apenas nesta semana, o governo libanês relatou 700 vítimas fatais em decorrência dos bombardeios israelenses. Já no território palestino, o número de mortes já superou a marca de 41 mil desde o início da ofensiva militar, em 7 de outubro de 2023.
O premiê apresentou uma cronologia sobre o acontecimento dos fatos dos últimos 11 meses. Netanyahu alegou que a “invasão do Hamas” não terminou desde então, e que nos momentos posteriores, também passou a ser atingido pelo Hezbollah, do Líbano, e pelos Houthis do Iêmen.
Netanyahu informou que, até o momento, o governo israelense recuperou 154 reféns, incluindo 117 vivos, sendo a maioria deles como parte de um acordo de trégua realizado em novembro. Nesse mesmo instante, Netanyahu revelou ter trazido familiares de reféns à Assembleia e pediu para que se levantassem de suas cadeiras.
O primeiro-ministro ergueu dois mapas ilustrativos. O chamado “mapa da bênção” mostrava uma ponte logística da Índia através do Oriente Médio e Israel. Já o outro chamado “mapa da maldição” mostrava a “ascensão dos aliados do Irã” na região. Segurando os cartazes, disse que o Irã colocaria em risco todos os países contemplados nas imagens “caso não seja controlado”.
“Por muito tempo o mundo apaziguou o Irã. Esse apaziguamento deve acabar. Deve acabar agora”, afirmou, pedindo que o mundo “se junte a Israel” para interromper o programa de armas nucleares do Irã. Acrescentou também outro pedido para que o Conselho de Segurança da ONU imponha sanções ao governo iraniano.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu segura o ‘mapa da maldição’ e acusa Irã de ameaçar a integridade dos países na região
Premiê busca ‘vitória total’ contra Hamas
O primeiro-ministro israelense levantou números sobre seu país em relação à guerra em Gaza. Segundo ele, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) já mataram “metade dos terroristas” do Hamas, que contava com quase 40 mil membros em 7 de outubro. Ele também informou que suas forças destruíram 90% dos foguetes e 23 dos 24 batalhões do grupo. Tudo isso no que Netanyahu diz ser uma “missão sagrada” para trazer os reféns para casa.
“Nós estamos vencendo a guerra”, gritou.
No entanto, em nenhum momento, o premiê mencionou os mais de 41 mil palestinos massacrados em decorrência dos ataques e bombardeios israelenses no enclave, além dos crimes de humanidade, promoção de fome, deslocamentos massivos e estupros revelados por organizações de direitos humanos e divulgados por veículos jornalísticos, também alvos de censura.
“Se o Hamas permanecer no poder, ele se reagrupará, se rearmará e atacará Israel de novo e de novo e de novo, como prometeu fazer”, alegou o premiê, insistindo que seu país buscará a “vitória total” até a rendição integral do grupo. Acrescentou ainda ser “inconcebível” que o movimento palestino faça parte do projeto de reconstrução de Gaza num eventual acordo de cessar-fogo e consequente fim de guerra.
Israel seguirá atacando o Líbano
Em meio à escalada de ataques contra o Líbano, Netanyahu tratou o Hezbollah como uma “ameaça global” e assegurou derrotar o grupo, que é declaradamente aliado do Hamas e apoia a luta pela libertação da Palestina.
Segundo a autoridade israelense, 60 mil moradores do norte do país foram deslocados em decorrência das ofensivas do Hezbollah, agravadas em julho deste ano após a morte de duas lideranças: Ismail Haniyeh, líder do gabinete político do Hamas; e Fuad Shukr, alto comandante do Hezbollah.
“Não descansaremos até que nossos cidadãos retornem em segurança para nossas casas”, disse o premiê. No entanto, omitiu a informação de que seu exército provocou um deslocamento massivo em Gaza. A Agência da ONU para Refugiados Palestinos afirma que 90% da população total no enclave está deslocada, o que equivale a 1,9 milhão de habitantes.
O Ministério da Saúde do Líbano relatou nesta sexta-feira que, nos últimos 11 meses de conflito no Oriente Médio, as tropas israelenses mataram ao menos 1.572 pessoas no país, incluindo crianças e mulheres. Nesse sentido, o governo local afirma que não se trata de um combate contra o Hezbollah, mas sim contra a população civil. Ainda assim, em seu discurso, Netanyahu proferiu críticas unicamente ao grupo libanês, justificando, mais uma vez, o chamado “direito de autodefesa”.
Críticas ao TPI e às manifestações
Netanyahu voltou a criticar as decisões tomadas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusando a entidade de ter sido alimentada pelo “antissemitismo”. Em maio deste ano, o promotor-chefe do TPI, Karim Khan, havia solicitado a expedição de mandados internacionais de prisão contra líderes de Israel, incluindo o próprio premiê e o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade.
“Não queremos ver uma única pessoa inocente morrer, isso é sempre uma tragédia”, alegou referindo-se aos palestinos, embora mais de 41 mil habitantes em Gaza tenham sido assassinados ao longo da guerra.
O primeiro-ministro também criticou o que chamou de “progressistas autodescritos” os manifestantes que promovem marchas semanais em Israel contra as agressões do governo em Gaza e, agora, no Líbano. Sem demonstrar provas, acusou o Irã de estar dando respaldo às mobilizações ao financiar os manifestantes.
Benjamin Netanyahu foi a terceira autoridade a discursar no quarto dia da 79ª Assembleia da ONU, depois do primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif. A princípio, seu discurso estava marcado para quinta-feira (26/09), mas foi adiado em função das mobilizações no East Side de Manhattan, convocadas antes de sua chegada em repúdio aos massacres promovidos pelo país em Gaza e no Líbano. Dessa forma, o governo de Israel pediu, além do adiamento, reforço na segurança do premiê durante sua exposição no evento.

Israel ataca Beirute após discurso de ‘paz’ proferido pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na ONU
Ataque a Beirute
Logo após o discurso destacando a busca pela “paz”, as forças israelenses atacaram a capital do Líbano, numa ofensiva que foi considerada a maior desde a recente escalada de conflitos com o Hezbollah. O Exército de Israel afirmou ter atingido o quartel-general do grupo libanês, no subúrbio de Dahiyeh, na região sul de Beirute, alegando a presença do principal líder do movimento: Hassan Nasrallah. No entanto, a autoridade segue viva.
“Pouco tempo atrás, as Forças de Defesa de Israel realizaram um ataque preciso contra o quartel-general central da organização terrorista Hezbollah, que servia como o epicentro do terror do Hezbollah”, relatou o principal porta-voz militar, Daniel Hagari. “O quartel-general central do Hezbollah foi intencionalmente construído sob prédios residenciais no coração de Dariyeh, em Beirute, como parte da estratégia do Hezbollah de usar o povo libanês como escudo humano.”
Os ataques se espalharam pela capital. A emissora catari Al Jazeera relatou que “espessas nuvens de fumaça estão subindo da capital libanesa após várias explosões”. Já a TV Al-Manar informou que as ofensivas no distrito de Haret Hreik, uma área densamente povoada no sul de Beirute, próximo do aeroporto internacional, destruíram quatro edifícios, formando “uma pilha de escombros”. Segundo o canal, mais de 15 mísseis atingiram a área ao mesmo tempo.
Testemunhas locais descreveram danos extensos na área de Haret Hreik, afirmando que as estradas estão bloqueadas e impedem a passagem de ambulâncias para socorrer os feridos.
