Em defesa da soberania palestina, Arábia Saudita usa imprensa estatal para rechaçar Netanyahu
Segundo apuração do Financial Times, mídia do país escalou críticas contra primeiro-ministro de Israel após insinuar criação de Estado palestino na Arábia Saudita
A Arábia Saudita lançou “uma campanha contundente” em sua imprensa estatal contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O motivo foi um comentário do político de extrema direita sobre a criação de um Estado palestino no país do Golfo Pérsico, na última semana.
Durante uma entrevista do Canal 14 de Israel com Netanyahu, o apresentador disse erroneamente que as relações entre a Arábia Saudita e Israel seriam normalizadas apenas mediante o estabelecimento de um “Estado saudita”, quando, na verdade, seria “Estado palestino”.
Em resposta, o primeiro-ministro corrigiu o jornalista, e fez um comentário em tom de humor: “A menos que você queira que o Estado palestino seja na Arábia Saudita”. “Eles têm muito território”, acrescentou.
O jornal inglês Financial Times, que considerou as declarações na mídia saudita um “bombardeio excepcionalmente hostil, que só poderia ter sido publicado com a aprovação das autoridades” do país, separou algumas publicações contrárias a Netanyahu.
Uma reportagem da emissora estatal Al Ekhbariya afirmou que Netanyahu é um “sionista e filho de um sionista”, de modo que “herdou o extremismo em seus genes”.
“A ocupação não tem uma cara boa ou uma cara feia. Ela tem apenas uma face, que é Benjamin Netanyahu”, afirmou ainda a matéria
No canal de televisão Al Arabiya, durante um de seus programas, o apresentador questionou a saúde mental de Netanyahu: “talvez tenha sido um caso de alucinação?.
Já um colunista do jornal Okaz classificou os comentários de Netanyahu como “tolos e ridículos”.

“A ocupação não tem uma cara boa ou uma cara feia. Ela tem apenas uma face, que é Benjamin Netanyahu”, afirmou o canal de televisão Al Ekhbariya
Histórico
Assim como o Egito e a Jordânia, a Arábia Saudita virou coadjuvante dos planos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Netanyahu para o deslocamento forçado dos palestinos da Faixa de Gaza em destino aos países mencionados.
Antes do ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 e o genocídio promovido por Israel no enclave palestino, a Arábia Saudita estava próxima de normalizar suas relações com Tel Aviv, com a mediação dos Estados Unidos sob o governo de Joe Biden (2021-2025).
“O reino teria concordado em estabelecer relações diplomáticas formais com Israel em troca de um pacto de defesa com os EUA e assistência com um programa nuclear”, explica o Financial Times.
Com a retaliação desproporcional de Israel contra Gaza, Riade (capital saudita) condenou a ofensiva de Tel Aviv e endureceu sua posição contra a normalização das relações, que só devem alcançar um acordo caso haja solução de dois estados na região.
Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, já chegou inclusive a afirmar que seu país apenas se relacionaria com Israel caso houvesse um Estado palestino independente, incluindo Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental, ocupada por Tel Aviv, como sua capital.
Trump e bin Salman tiveram uma boa relação durante o primeiro mandato do republicano (2017-2021). Nesta administração, que vai até 2029, o reino saudita afirmou que planejava investir US$ 600 bilhões nos EUA.
Contudo, com as recentes afirmações de Trump sobre o deslocamento forçado de palestinos e intenções de expropriação imobiliária de Gaza, ao descrever o enclave palestino como “Riviera do Oriente Médio”.
“Alcançar uma paz duradoura e justa é impossível sem que o povo palestino obtenha seus direitos legítimos de acordo com as resoluções internacionais, como já foi esclarecido anteriormente tanto para o antigo quanto para o atual governo dos EUA”, respondeu então o reino da Arábia Saudita.
(*) Com informações do Financial Times
