Em frente à Globo, manifestantes pedem fim do genocídio em Gaza
Ato integra agenda mundial de protestos e, na capital paulista, teve como foco a crítica à cobertura da guerra pela grande imprensa
Manifestantes participaram neste sábado (26/04), em São Paulo, de um ato em solidariedade ao povo palestino, como parte do Dia Global por Gaza. O protesto, realizado às 14h em frente à sede da TV Globo, foi organizado pelo Comitê em Solidariedade à Palestina da capital paulista, além de organizações sociais, sindicais e estudantis.
Em seus discursos, os participantes pediam um cessar-fogo imediato e denunciaram o genocídio no enclave pelo Estado de Israel.
“Estão todos falando de uma guerra. Não existe guerra. Guerra existe quando você tem confronto de forças armadas. O Estado da Palestina não tem exército; eles montam armas com latas de sardinha”, disse Mohamed, brasileiro e descendente de palestinos, em discurso aos presentes.
Para Daniela Rodrigues, uma das organizadoras da atividade e integrante do Núcleo do PT em solidariedade à Palestina, é preciso que se aponte a necessidade de maior pluralidade de vozes no interior dos veículos de imprensa.
“A gente acredita também que muitos repórteres, muitos jornalistas não tenham essa liberdade dentro da Globo para se posicionarem a favor da Palestina”, defendeu Rodrigues.

Patrícia de Matos
Em agosto do ano passado, Daniela teve o braço quebrado por um segurança do Clube Hebraica, em São Paulo, durante um protesto pró-Palestina. A enfermeira passou por cirurgia e ficou quatro meses afastada do trabalho.
Ao final do ato, os manifestantes foram escoltados por forte esquema policial até a Ponte Estaiada – um dos ícones arquitetônicos da capital paulista –, onde estenderam um bandeirão da Palestina.
Relativização dos crimes
Em carta lida durante o ato, manifestantes disseram que a cobertura da grande imprensa induz “parte do público leigo a relativizar assassinatos em massa, inclusive abusos sexuais cometidos pelas forças de ocupação israelenses instituídas ironicamente como o exército mais moral do mundo”.
Para Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), trata-se do “primeiro genocídio televisionado da história” e que “a Globo é cúmplice nesse genocídio, e como no julgamento em Ruanda, onde responsáveis pelo genocídio foram levados a tribunal, a emissora deve ser responsabilizada”.
Em 2003, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR) condenou três homens à prisão por promoverem uma campanha de ódio no contexto do genocídio de 800 mil pessoas em 1994, da etinia tutsi, no país africano.
O líder da Fepal também destacou que o ocorrido em Gaza é de responsabilidade direta dos Estados Unidos.

Patrícia de Matos
“Esse genocídio é estadunidense, não existiria sem os 25 bilhões de dólares fornecidos. O apoio diplomático dos Estados Unidos permite esse massacre. A pressão internacional deve ser contínua até que Israel cesse suas ações e os palestinos tenham os seus direitos respeitados”.
Além de São Paulo, atos em solidariedade ao povo palestino também foram realizados no Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte, Santo Ângelo e Campinas. As manifestações integram uma agenda global de mobilização convocada por organizações palestinas.
O pior momento da crise humanitária
Desde o início da guerra em Gaza, ao menos 51 mil palestinos foram mortos, segundo dados divulgados por autoridades locais e considerados confiáveis pela Organização das Nações Unidas (ONU). O atual cenário é consequência do rompimento, em março deste ano, de uma trégua de quase dois meses. Desde então, um total de 2.062 palestinos já perderam a vida.
Com isso, Israel ampliou sua presença militar e hoje controla mais de 50% da Faixa de Gaza. Os bombardeios se intensificaram e a chamada “zona de segurança” israelense duplicou de tamanho.
Além disso, o país governado por Benjamin Netanyahu endureceu o cerco a Gaza com o impedimento da entrada de suprimentos básicos. A ONU alertou para a pior crise humanitária desde o início do conflito, com hospitais sem medicamentos e escassez generalizada.

Patrícia de Matos
O ministro da Defesa israelense afirmou que as tropas permanecerão indefinidamente no território e que a entrada de ajuda humanitária seguirá bloqueada.
Apesar da intensificação dos ataques, o Hamas indicou estar disposto a aceitar um acordo que prevê a libertação de reféns israelenses em troca de uma trégua longa na Faixa de Gaza, segundo informações da agência Reuters.
A proposta prevê um cessar-fogo em três fases, retirada das forças israelenses e a reconstrução do território. Uma nova reunião de negociação, mediada pelo Catar e pelo Egito, está marcada para ocorrer ainda hoje, em Doha.
Desde o início do conflito, os Estados Unidos mantiveram apoio irrestrito a Israel. Em fevereiro de 2025, Donald Trump compartilhou um vídeo criado por inteligência artificial.
O vídeo retrata Gaza transformada em um resort de luxo chamado “Trump Gaza”, propondo a expulsão de mais de 2 milhões de palestinos para países vizinhos. A proposta foi amplamente condenada como um plano de limpeza étnica e provocou indignação internacional.

Patrícia de Matos
