O presidente nacional do Partido da Causa Operária, Rui Costa Pimenta, e membro de sua direção, Francisco Weiss Muniz, irão depor à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (18/07) em uma investigação por “intolerância e/ou injúria racial, de cor e/ou etnia”, que atende ao pedido emitido pelo Ministério Público Federal (MPF).
O inquérito policial é o resultado da unificação de três investigações da Polícia Civil, abertas pela Frente Ampla Democrática Pelos Direitos Humanos (Faddh), pela Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e por José Ivanilson Ramos.
De acordo com o MPF, o objetivo da oitiva é esclarecer a “motivação” das “publicações feitas” supostamente em nome dos dirigentes partidários. Para Pimenta, o processo é “uma tentativa dos sionistas de realizar uma perseguição política”.
Em 25 de outubro de 2023, a CONIB acusou Pimenta e Muniz de proferirem “graves ofensas antissemitas”, de “incitação ao terrorismo” e de “incitação ao racismo”, ao sustentar que “não há dúvidas de que o HAMAS é um grupo terrorista, cujo objetivo principal é destruir o Estado de Israel e matar todos os judeus do planeta”.
Segundo um artigo publicado pelo portal Causa Operária, “nem o governo brasileiro, nem a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) como grupo terrorista, o que já é mais que suficiente para invalidar a ação movida pela CONIB”, tratando-se de “uma ação baseada não na Lei, mas no que é produzido pelo aparato de propaganda do sionismo e do imperialismo”.
O veículo entende que o processo movido pela CONIB tem como “único objetivo suprimir a oposição à política oficial do governo israelense”, o que configura uma “brutal censura” àqueles que se opõem ao genocídio promovido por Tel Aviv na Faixa de Gaza.
A Causa Operária argumenta que, em nenhum momento, o presidente do PCO defendeu a “morte de todos os judeus do planeta”, mas que endossou uma posição tradicional da esquerda ao apoiar o Hamas como um movimento que busca se libertar de seus opressores.
“De apoiar movimentos como a luta contra o apartheid na África do Sul, como a resistência contra o nazismo e o fascismo em países como a Albânia e a Iugoslávia ou como a revolução anti-norte-americana protagonizada pelos cubanos. Classificar como ‘criminosa’ a declaração de Rui Pimenta é, ao mesmo tempo que rasgar a liberdade de expressão, a defesa da perpetuação dos crimes coloniais de ‘Israel’ contra o povo palestino”, diz o portal.
A CONIB também acusou Muniz por manifestar seu “apoio irrestrito ao Hamas”. No entanto, tanto Pimenta quanto Muniz, que tem ascendência judaica, nunca fizeram menção à morte de judeus. Por outro lado, seguiram defendendo os direitos do povo palestino contra um processo de genocídio, da mesma forma que os judeus sofreram durante a Segunda Guerra Mundial.
A Causa Operária também cita quatro peças apresentadas pela CONIB entre novembro de 2023 e junho de 2024, nas quais a entidade sionista “prova” dos supostos “crimes” cometidos por integrantes do PCO.
Em uma das “provas”, a CONIB aponta a “informação de que dirigentes do PCO se reuniram com Ismail Haniyeh e outros ‘terroristas’ do birô político do Hamas”. Nela, a Causa Operária escancara uma contradição.
“Afinal, para a CONIB e para os representantes do sionismo no Brasil, seria absolutamente legítimo que parlamentares como Eduardo Bolsonaro (PL) se encontrassem com membros do birô político do Estado mais racista do planeta. Seria legítimo que pessoas circulassem com camisas e bandeiras exaltando a entidade de ‘Israel’, que simboliza nada mais que um projeto de limpeza étnica responsável pelo exílio de mais de seis milhões de palestinos. Seria legítimo aplaudir as autoridades norte-americanas, que financiam e apoiam golpes de Estado e guerras em todo o mundo. O que não é legítimo é que integrantes de um partido político tenham uma atuação que corresponda à defesa dos oprimidos”, afirma.
Entre as medidas apresentadas, os sionistas pedem que a polícia confisque “todo material de cunho racista e discriminatório” nas sedes do PCO e na residência de envolvidos, além de que “seja oficiada as subprefeituras de Pinheiros e São Paulo sobre a respeito da permissão de vendas de produtos fomentadores de ódio”.
“Eles querem que a polícia atue como uma Gestapo. É uma coisa que foi estabelecida pelo STF, que começou a fazer essas coisas contra todo mundo. O cidadão tinha uma opinião política, invadiam a casa dele, confiscavam o computador, e a esquerda aplaudindo… É um negócio como a Alemanha nazista”, afirmou Pimenta, na Rádio Causa Operária, em 16 de julho.
Apresentador do mesmo programa, Francisco Muniz destacou que não se trata da primeira vez em que é processado pelos sionistas, ao lembrar que o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, de ascendência judaica, também vem sendo perseguido pela CONIB.