O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) relatou que pelo menos 128 profissionais de veículos jornalísticos foram assassinados desde que Israel intensificou suas operações militares na Faixa de Gaza, que completa um ano nesta segunda-feira (07/10).
Segundo a organização independente de defesa de direitos da profissão, trata-se do maior número de trabalhadores da área mortos no período desde que o CPJ começou a documentar o assassinato de repórteres no mundo, em 1992.
O informe revela que todas as mortes, exceto duas, foram provocadas pelas forças israelenses, enquanto cinco delas ocorreram especificamente em função da perseguição de Tel Aviv a jornalistas que denunciavam as manobras do regime sionista de Benjamin Netanyahu. O CPJ ainda investiga pelo menos outros 10 casos adicionais dos chamados “assassinatos seletivos”.
Nas duas exceções incluem-se profissionais israelenses, que morreram no ataque de 7 de outubro de 2023 pelo Hamas.
“Os assassinatos, juntamente com a censura, as prisões, a proibição contínua do acesso da mídia independente a Gaza, os persistentes desligamentos da internet, a destruição dos meios de comunicação e o deslocamento da comunidade de mídia de Gaza, restringiram severamente as reportagens sobre a guerra e dificultaram a documentação”, afirma a pesquisa do CPJ.
Dos 128 assassinatos, 123 eram jornalistas palestinos e funcionários da mídia, além de três jornalistas libaneses e dois israelenses. 11% dos mortos eram mulheres, sendo que a maioria tinha menos de 40 anos. 75% dos profissionais vítimas de Israel morreram por ataques aéreos, enquanto o restante em ataque de drones, tiro de tanques e tiroteios.
Censura na guerra
Importante salientar que, em 11 de agosto de 2024, o governo israelense aprovou uma proposta apresentada pelo Ministério das Comunicações do país para renovar uma proibição de 45 dias da emissora libanesa Al Mayadeen TV, no âmbito da escalada de tensões com o Líbano.
A medida em questão pedia o confisco dos equipamentos do veículo, além do bloqueio de seus sites, alegando que o canal “prejudica a segurança nacional” de Israel. Em um vídeo no Facebook, o ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, chegou a acusar a emissora de ser uma “plataforma de incitamento terrorista”.
Em 23 de novembro de 2023, Karhi também propôs uma resolução para barrar publicidades estatais e assinaturas com o jornal local Haaretz. O ministro acusou o veículo de promover uma “propaganda derrotista e falsa” contra o país durante a guerra. No entanto, o gabinete não aprovou a proposta pressionado pelas críticas do Sindicato dos Jornalistas, que classificou a medida como “prejudicial à liberdade de imprensa”.
Segundo o jornal The Times of Israel, no decorrer do conflito em Gaza, o Ministério das Comunicações liderou os esforços para aprovar regulamentos e fechar emissoras estrangeiras consideradas “prejudiciais à segurança nacional”.
Em 8 de novembro, o Parlamento israelense do Knesset aprovou uma emenda à Lei Antiterrorismo e introduziu uma nova ofensa criminal na legislação, chamada “consumo de materiais terroristas”, que conta com uma pena máxima de um ano de prisão.
Nesse contexto, o CPJ avalia que os termos da lei podem ser aplicados como “arma contra jornalistas”, que muitas das vezes dependem do consumo de informações de entidades ou fontes designadas como “terroristas” por Israel. Quando a proposta foi aprovada, diversas organizações de direitos humanos levantaram preocupações sobre ameaças à liberdade de expressão e de imprensa.
O CPJ também lembra casos emblemáticos, como em 16 de outubro, quando as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) ordenaram o fechamento da agência J-Media, com sede na Cisjordânia, acusada por ser “uma organização ilegal”. De acordo com a organização de liberdade de imprensa SKeyes, sediada na capital libanesa de Beirute, a J-Media fornecia imagens e serviços midiáticos para emissoras na cobertura de notícias sobre a Palestina.