Agam Berger, soldado israelense mantida como refém pelo Hamas até 30 de janeiro e liberta mediante o acordo de cessar-fogo, revelou que os membros da resistência palestina permitiram a prática de sua religião, o judaísmo, enquanto ela e outros estiveram em cativeiro na Faixa de Gaza.
Durante um encontro com Kesher Yehudi, presidente da organização judaica que leva o mesmo nome, e o jornalista Shneor Webber, Berger afirmou: “não temos ideia de como isso aconteceu, mas eles simplesmente nos entregaram livros de orações [judaicas], o Sidur. Eles os mostraram para nós e disseram: ‘pegue-os’. Nós os usávamos constantemente. Isso nos deu força”.
A soldado das Forças de Defesa Israelenses (IDF, como é chamado o Exército de Israel) disse ter jejuado e orado no Yom Kippur, dia mais sagrado no judaísmo, que ocorre anualmente no 10º dia de Tishrei, o primeiro mês do calendário hebraico. Em 2024, a data começou no entardecer de 11 de outubro e encerrou-se no anoitecer de 12 de outubro.
Berger, ainda segundo seu relato, também teve liberdade para praticar o Jejum de Ester, mulher que, de acordo a Torá (livro sagrado judaico), tornou-se rainha da Pérsia após lutar politicamente e espiritualmente contra a destruição dos judeus. A história mostra que Ester jejuou por três dias, sem comer ou beber nada.
A soldado afirmou que o jejum “era algo que sentia necessidade de fazer, especialmente devido às circunstâncias”. Também revelou que ela e outros reféns “sabiam aproximadamente as datas” sagradas para o judaísmo por trechos que ouviam em rádio e televisão.

Agam Berger, soldado israelense mantida como refém pelo Hamas até 30 de janeiro e liberta mediante o acordo de cessar-fogo com Israel na Faixa de Gaza
Segundo o portal israelense Ynetnews, Berger afirmou que os membros do Hamas demonstraram respeito pelos reféns que praticavam o judaísmo. “[…] para eles é melhor ser religioso do que não ter fé alguma. Não sei como teria sobrevivido sem minha fé. No final, foi isso que me deu esperança”, concluiu.
O relato de Berger contrapõe o tratamento que palestinos recebem nas prisões israelenses. A maioria deles é detida sem um processo jurídico, mantidos em condições desumanas, privados de alimento e condições básicas de saúde.
Na questão religiosa, o tratamento tampouco melhora. Na última libertação de prisioneiros palestinos, no sábado (15/02), os cidadãos da Faixa de Gaza foram devolvidos por Israel vestindo uma blusa com escritos em hebraico, que significava “Nunca esqueceremos”, ao lado de uma estrela de Davi, símbolo do judaísmo, e em desrespeito ao islamismo, religião da maioria dos palestinos.
Após chegarem ao enclave, a imprensa palestina registrou os recém libertos queimando as roupas que foram obrigados pelo Estado de Israel a vestir.
(*) Com informações de TRT World, emissora pública da Turquia