No dia 7 de outubro de 2023, uma ofensiva militar da resistência palestina à dominação de Israel, a partir da Faixa de Gaza, mudaria a história recente do Oriente Médio. A ação, coordenada pelo Hamas, que governa o enclave desde 2007, quando venceram as eleições, foi apoiada por outros grupos organizados palestinos.
Além de misseis lançados contra Israel, a resistência conseguiu romper os muros e as barreiras que transformaram, nas últimas décadas, o território ocupado num sistema de segregação étnica de 2,3 milhões de palestinos.
Foi um dia bastante violento. Cerca de 1.200 israelenses foram mortos, segundo dados de Israel. Notícias que depois não se confirmaram afirmavam que dezenas de bebês haviam sido decapitados e que teriam ocorrido estupros em massa. Investigações posteriores, muitas conduzidas por entidades de direitos humanos e pela imprensa israelense, mostraram que houve, no mínimo, exagero nessa divulgação, e muito provavelmente produção deliberada de fake news, que envolveu não só o regime de Benjamin Netanyahu, mas também integrantes do governo dos Estados Unidos.
Também mostrou-se, ao longo deste ano, que muitas das mortes de israelenses foram provavelmente provocadas pelo próprio Exército de Israel, na tentativa de evitar que cidadãos do país fossem aprisionados pelos militantes palestinos.
Veja tudo sobre a Guerra de Israel em Gaza
A rápida divulgação de supostos episódios de barbárie foi acompanhada de uma reação militar praticamente imediata de Israel. Ainda no dia 7 de outubro, depois de exibir prédios atingidos e levemente danificados por mísseis palestinos, a Globonews transmitiu, ao vivo, o colapso completo de um prédio em Gaza bombardeado por Israel. A diferença era chocante e foi analisada, imediatamente, pelo entrevistado, o professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser: “Quando cai um prédio, morre gente, todo mundo que está dentro dele”.
Israel deu início então a uma guerra sem descanso contra os palestinos. O número de mortos documentados pelo governo de Gaza é de 41.870, mas estudos científicos apontam que, indiretamente, o número de vítimas pode chegar a 186 mil: pessoas que morreram não diretamente por conta dos ataques, mas por falta de alimentação, remédios e epidemias de doenças evitáveis.
Um ano depois, o regime de Netanyahu se mantém, e nada sugere que possa vir a ser substituído por um governo menos belicistas.
Selecionamos abaixo 12 fatos importantes para entender o que ocorreu nestes 12 meses, elencando algumas reportagens de Opera Mundi, publicadas ao longo do período, que ajudam a entender a resistência palestina, que dura desde pelo menos 1948, ao genocídio e as repercussões dele para o mundo.
- Início da ofensiva do Hamas (7 de outubro de 2024): o grupo Hamas lançou um grande ataque surpresa contra Israel, usando foguetes, drones e ataques por terra. Militantes cruzaram a fronteira de Gaza, resultando em centenas de vítimas civis e militares em Israel.
- Resposta militar israelense: Israel iniciou uma grande operação militar contra a Faixa de Gaza, com ataques aéreos em larga escala. As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) bombardearam hospitais, áreas residenciais e infraestrutura de Gaza, muitas vezes alegando que as ações eram “cirúrgicas” e contra o Hamas, apenas.
- Cerco a Gaza e corte de suprimentos: Israel bloqueou totalmente a entrada de suprimentos, incluindo eletricidade, água e combustível, para Gaza, aumentando a crise humanitária no território, onde milhões de civis foram afetados. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, de Israel declarou que seu país combatia “animais humanos”.
- O número de civis palestinos mortos devido aos bombardeios israelenses aumentou drasticamente, gerando preocupações internacionais sobre violações dos direitos humanos. Um ano após a escalada do conflito, estima-se que mais de 41 mil palestinos foram mortos nas ações militares.
- Além de hospitais e escolas, diversas instalações da ONU foram danificados ou destruídos nos ataques, levando a uma crise de atendimento médico e gigantesco deslocamento interno. Áreas de refúgio, caminhos sugeridos por Israel e toda sorte de “abrigos” também foram alvos do Exército israelense. Houve diversas denúncias de crimes de guerra cometidos por Israel, entre eles o uso de choro de bebês gravados para atrair pessoas para áreas de tiro.
- Reação internacional: Estados Unidos e União Europeia têm apoiado, com armas e manifestações diplomáticas, Israel, apesar dos bombardeios em áreas civis. China e Brasil, entre outas nações, fizeram diversas tentativas, mais ou menos duras, de obter um cessar-fogo consistente e para que houvesse proteção de civis, sem sucesso. Apesar do direito à resistência à ocupação ser um direito estabelecido pela ONU, os Estados Unidos evitaram resoluções que pudessem, pelo menos, constranger Israel.
- Recentemente, Israel declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, “persona non grata” por suas críticas a Israel e tentativas de patrocinar um cessar-fogo.
- Em setembro, o Hezbollah lançou uma ofensiva contra o norte de Israel, com foguetes e bombardeios, depois de Israel promover uma ação terrorista explodindo pagers de militantes do grupo, que tem não apenas uma milícia armada, mas também participa do governo de Líbano. O Hezbollah tem afirmado que seus alvos são exclusivamente militares, diferentemente do que vem fazendo Israel não apenas em Gaza e na Cisjordânia, mas também no Líbano.
- Os ataques de Israel ao Hezbollah levaram o Irã, acusado de fornecer apoio militar e financeiro ao Hamas e ao Hezbollah, a atacar Israel. Muitos analistas avaliam que a ofensiva militar iraniana é desejada por Israel, pois ela obrigaria os Estados Unidos a se envolverem no conflito.
- Depois dos deslocamentos massivos de civis em Gaza, centenas de milhares de libaneses deixaram o sul do Líbano em direção ao centro e ao norte do país, ampliando a crise humanitária na região.
- Protestos e tensões globais: manifestações em apoio aos palestinos e contra as ações israelenses ocorreram em várias cidades ao redor do mundo, incluindo Europa e América Latina. Houve também atos de solidariedade com Israel em diversas capitais.
- A África do Sul entrou com um processo contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), apoiado por diferentes países. O Tribunal acatou a denúncia sul-africana e decidiu que há elementos suficientes para se julgar o Estado de Israel por possível crime de genocídio contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza.