Um dos principais jornais israelenses, o Haaretz publicou no último domingo (10/11) um editorial afirmando que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, promove uma limpeza étnica contra os palestinos no norte da Faixa de Gaza.
Intitulado “A limpeza étnica de Netanyahu em Gaza está em exibição para todos verem”, o texto opinativo não assinado por nenhum dos autores do periódico fez a acusação após o correspondente militar do Haaretz Yaniv Kubovich realizar uma visita no local.
“O exército israelense está conduzindo uma operação de limpeza étnica no norte da Faixa de Gaza. Os poucos palestinos restantes na área estão sendo evacuados à força, casas e infraestrutura foram destruídas, e estradas largas na área estão sendo construídas e completando a separação das comunidades no norte da Faixa do centro da Cidade de Gaza”, escreve o jornal.
Kubovich, por sua vez, concluiu que “a área parece ter sido atingida por um desastre natural”, quando, na verdade, está sob intensa ofensiva do exército israelense desde 7 de outubro de 2023.
Com acesso completo ao editorial do Haaretz, o jornal Middle East Eye relata que o texto ainda traz a declaração de um oficial sênior das Forças de Defesa Israelenses (FDI, como é chamado o exército do país) sobre sua função na região: “criar um espaço limpo”.
“Estamos movendo a população para sua proteção, a fim de criar liberdade de ação para nossas forças”, acrescentou o oficial identificado como Brigadeiro-General Itzik Cohen, comandante da 162ª Divisão.
O periódico israelense relembra que as forças armadas do país impediram a entrada de ajuda humanitária, como alimentos, água e remédios para o norte de Gaza por diversas semanas no início de outubro passado, culpando diretamente Netanyahu pela situação de fome na região do enclave.
“É importante chamar as coisas pelos seus nomes”, apontando que os comandantes da FDI forçam a retirada de civis palestinos de suas terras porque estão “subordinados às diretrizes da liderança política: o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu”.
“Em vez de falar sobre o ‘Plano dos Generais’ [estratégia que inclui limpeza étnica e assassinato dos palestinos que resistirem] deveríamos falar sobre as Ordens de Netanyahu”, conclui o editorial.
O Haaretz vive uma fase de tensões com o governo Netanyahu, em especial após um de seus editores e chefe, Amos Schocken, declarar que Tel Aviv está “lutando contra os combatentes da liberdade palestinos que chama de terroristas”, referindo-se ao Hamas em Gaza.
Após as declarações de Shocken, o jornal publicou um editorial contrariando as afirmações, uma vez que elas fizeram o ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, solicitar uma série de restrições governamentais contra o Haaretz.
Entre as medidas, o chefe da pasta solicitou a não-realização de futuros contratos, não-fornecimento de assinaturas do jornal a funcionários públicos ou mesmo a renovação dos contratos já existentes.
Já os ministérios do Interior, Educação e Assuntos da Diáspora anunciaram que cortariam laços com o jornal após comentários feitos por Schocken. O Haaretz também sofreu ameaças de boicote financeiro pela agência de publicidade do governo israelense (Government Advertising Bureau) e restrição de suas operações pela Procuradoria-Geral do país.
(*) Com Monitor do Oriente Médio