Sexta-feira, 13 de junho de 2025
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O governo de Israel, liderado pelo premiê Benjamin Netanyahu, está em “coordenação com gangues” na Faixa de Gaza para armá-las e criar “crises humanitárias que exacerbam o sofrimento” do povo, segundo denúncias do grupo palestino Hamas.

A declaração do grupo palestino, nesta quinta-feira (05/06), ocorreu pouco antes de Netanyahu reconhecer que o país vinha trabalhando com “clãs em Gaza”. Por meio de um vídeo, o mandatário israelense declarou “que as forças de segurança ativaram um clã em Gaza que se opõe ao Hamas? E o que há de errado nisso?”.

A milícia em questão seria liderada por um morador de Rafah, chamado Yasser Abu Shabab, de família beduína (comunidade árabe nômade). Acredita-se que o conhecido guerrilheiro do sul do enclave opera com as Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) com um grupo de 100 homens. No entanto, o jornal Times of Israel fala em 300.

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Abu Shabab ficou famoso na região ao ser acusado no ano passado de ter saqueado cargas de ajuda humanitária aos moradores de Gaza e revendido os suprimentos. Por conta disso, para o Hamas, essa é uma “perigosa admissão sionista”, afirmando que a ocupação israelense está “supervisionando a engenharia do caos, da fome e do roubo de ajuda”.

O Hamas resgatou na denúncia o posicionamento de Avigdor Lieberman, membro do Knesset (Parlamento israelense), líder do partido Yisrael Beitenu, que se posicionou contra a aliança de Netanyahu com a gangue de Shabab.

Segundo o político, o governo de Israel está “transferindo armas para clãs afiliados ao ISIS em Gaza”. “Netanyahu alimentou o Hamas por anos e se recusou a me ouvir quando eu disse que, ao fazer isso, ele estava prejudicando seriamente a segurança do Estado de Israel. Atualmente, ele está repetindo exatamente o mesmo erro”, disse ele em uma postagem na rede social X.

Para o grupo palestino, a fala de Lieberman revela uma “verdade crua e perigosa: o Exército de ocupação israelense está armando gangues criminosas na Faixa de Gaza, promovendo os projetos da ocupação para arquitetar a fome e o roubo sistemático de ajuda humanitária”.

Netanyahu admitiu financiamento de gangue em Gaza para rivalizar contra o Hamas
Benjamin Netanyahu/X

O Hamas ainda afirma que a “admissão oficial” de Lieberman confirma “o que foi revelado” pelos combates no enclave “nos últimos meses”: “clara coordenação entre gangues de ladrões e colaboradores da ocupação”.

“[As gangues] que praticaram traição e roubo, operam sob supervisão direta da segurança sionista, são ferramentas baratas nas mãos do inimigo e verdadeiros inimigos do nosso povo palestino. Serão perseguidos e responsabilizados com firmeza pelas forças do nosso povo e pelos serviços de segurança relevantes”, disse o grupo.

Imagens provam operações de grupo financiado por Israel

Em meio às acusações do Hamas e de Lieberman, o jornal Haaretz revelou que imagens de satélite e vídeo online mostram uma milícia que rivaliza com o grupo palestino operando perto de Rafah, cidade no enclave que faz fronteira com o Egito. De acordo com a reportagem, “seus membros armados supervisionam postos de controle e distribuem ajuda” na área, que é controlada pelas Forças de Defesa de Israel.

O jornal israelense ligou as imagens às atividades de um grupo autodenominado “Serviço Antiterrorista”, cujas atividades também foram registradas pelo Haaretz no último mês.

Ainda segundo o periódico, Abu Shabab criou duas páginas na rede social Facebook, nas quais veicula mensagens contra o Hamas e a Autoridade Palestina (AP), além de promover os esforços de seu grupo para distribuir ajuda aos civis. Procurados pela reportagem, as IDF e o Shin Bet, agência de inteligência interna israelense, se recusaram a comentar sobre as atividades do grupo.

Já o jornal Times of Israel noticiou que a denúncia de Lieberman sobre Israel armar “uma gangue criminosa de jihadistas na Faixa de Gaza como parte de um esforço para fortalecer a oposição ao Hamas” foi confirmada por “fontes de defesa em condição de anonimato”.

“As fontes confirmaram que Israel vem armando a gangue com rifles Kalashnikov, incluindo alguns que foram apreendidos do Hamas durante a guerra em andamento”, relatou o periódico.

O Times ainda denunciou que “a decisão de começar a armar o grupo foi tomada sem a aprovação do gabinete de segurança de Israel, ignorando os procedimentos normais”, mas sim “liderada por órgãos de segurança israelenses, com a aprovação de Netanyahu”.