O grupo palestino Hamas afirmou nesta quinta-feira (13/02) que vai manter a libertação de reféns israelenses programada para o próximo sábado (15/02), parte do acordo de trégua com Tel Aviv na Faixa de Gaza.
“O Hamas confirmou a posição de implementar o acordo assinado, incluindo a troca de prisioneiros segundo o cronograma determinado”, afirma o movimento por meio de uma publicação no Telegram.
Segundo o comunicado, a decisão de manter o cronograma foi mantida após Catar e Egito, mediadores das negociações, prometerem trabalhar para remover os “obstáculos” israelenses que estariam atrasando o fluxo de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, uma das acusações do Hamas que levou à interrupção na soltura dos reféns.
Segundo o porta-voz do grupo, Abdul Latif al-Qanou, a resistência tomou a decisão para “evitar” que o acordo de trégua fracasse. “Estamos ansiosos para implementá-lo e obrigar a ocupação [Israel] a implementá-lo integralmente”, disse.
O representante do Hamas ainda afirmou que “a linguagem de ameaças e intimidação” usadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, “não serve à implementação do acordo de cessar-fogo”.
O Hamas havia anunciado a interrupção da libertação de refpens prevista para sábado ao acusar Israel de violar os termos do cessar-fogo, sobretudo em relação à chegada de ajudas para a população civil, como “caravanas de casas pré-fabricadas, tendas, equipamentos pesados [para remoção dos escombros] suprimentos médicos e combustíveis”.
Em resposta, Netanyahu, ameaçou retomar a guerra, com o respaldo de Trump, que prometeu um “inferno” no enclave caso o Hamas não mantivesse o acordo.
Israel planeja recuperar reféns para retomar genocídio
Israel não fez nenhuma declaração oficial em relação à continuidade do acordo, contudo já adiantou que “não haverá entrada de casas móveis ou equipamentos pesados na Faixa de Gaza”, uma das exigências do Hamas como ajuda humanitária para a população palestina.
Segundo Omer Dostri, porta-voz do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “não há coordenação” para a entrada dos abrigos, que são essenciais para os civis – que apesar de voltarem para suas regiões natais encontraram suas casas completamente destruídas e vivem em meio ao rigoroso inverno, em tendas improvisadas.
כפי שכבר הבהרנו לא אחת: אין הכנסת קראוונים או כלים כבדים לרצועת-עזה, ולא קיים תיאום לכך.
כמו כן, בהתאם להסכם – אין הכנסת סחורות כלל דרך מעבר רפיח לרצועת-עזה.— עומר דוסטרי – Omer Dostri (@omerdos) February 13, 2025
Outro ministro de Israel, Bezalel Smotrich, responsável pelas Finanças do país, sinalizou que apesar do cessar-fogo em Gaza ainda estava ativo, mas que Tel Aviv planejava “voltar a lutar com todas as suas forças” no enclave.

Hamas e Israel já realizaram cinco trocas de reféns e prisioneiros desde 19 de janeiro
Em entrevista a uma rádio israelense, o político de extrema direita confirmou que Israel “ocupará e assumirá” a Faixa de Gaza, além de iniciar “uma enorme operação de emigração”, dos palestinos, em concordância com o plano de deslocamento forçado proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Este é um evento logístico louco em coordenação com os EUA. Nós ocuparemos a Faixa de Gaza, destruiremos o Hamas, e não haverá ameaça de Gaza aos cidadãos de Israel”, declarou.
Smotrich ainda confirmou que Israel deseja receber de volta “o maior número possível de reféns” antes de retomar seus ataques na Faixa de Gaza.
Cessar-fogo?
Até o momento, Hamas e Israel já realizaram cinco trocas de reféns e prisioneiros, com a libertação de 21 pessoas sequestradas nos atentados de 7 de outubro de 2023, sendo 16 israelenses e cinco trabalhadores agrícolas tailandeses. Ao todo, a primeira fase do cessar-fogo, que deve durar 42 dias, prevê a devolução de pelo menos 33 reféns.
No lado palestino, 766 prisioneiros, alguns detidos e torturados por décadas, segundo a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), foram libertados dos cárceres israelenses.
Apesar do acordo de trégua prever a interrupção das hostilidades na em Gaza, o documento não abrange a Cisjordânia, para onde Israel direcionou seus ataques.
Segundo as Forças de Defesa Israelenses (IDF, em inglês – o exército israelense), mais de 60 “terroristas foram eliminados” desde o início de sua nova ofensiva na região, iniciada no mesmo dia do início do cessar-fogo, em 19 de janeiro.
Além disso, detalham que 210 “indivíduos procurados” foram presos, além da destruição de aproximadamente 30 “infraestruturas terroristas”. Por sua vez, a Sociedade de Prisioneiros Palestinos (PPS) relata que o número de detenções foi, na verdade, 380.
“As autoridades de ocupação israelenses continuam a intensificar suas prisões e interrogatórios de campo, especialmente nas províncias do norte da Cisjordânia, em lugares como Jenin e seu acampamento, Tulkarem e Tubas”, disse o grupo sediado em Ramallah, segundo a emissora Al Jazeera.
(*) Com Ansa e informações da Al Jazeera