Atualização às 11h42
O Hamas entregou os corpos de quatro reféns e Israel libertou mais de 600 prisioneiros palestinos ao longo da noite dessa quarta-feira (26/02). A troca encerrou a primeira fase do acordo de cessar-fogo. Nesta quinta-feira (27/02), o grupo palestino já apontou para a próxima fase da trégua.
“Não há escolha a não ser iniciar as negociações para a segunda fase”, declarou o grupo no Telegram, oferecendo-se para libertar todos os cativos restantes de uma vez e no início da fase dois. Permanecem retidos em Gaza 27 reféns vivos e 31 mortos dos 251 israelenses.
Por sua vez, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, confirmou os preparativos para iniciar as negociações para a segunda fase do acordo de cessar-fogo. Segundo o gabinete do mandatário, citado pelo jornal Haaretz, uma equipe israelense irá ao Egito, país que realiza a intermediação das tratativas.
Na eventual próxima fase do acordo, Israel deve retirar suas tropas de Gaza. Mas segundo declaração de um funcionário israelense à imprensa local, as Forças de Defesa de Israel (IDF, como é chamado o Exército do país) não irão retirar suas tropas do Corredor Filadélfia, na fronteira entre Gaza e Egito. O Hamas, porém, já afirmou que permanência de Israel na região “viola o acordo” entre ambos.
Apesar da conclusão da primeira fase do cessar-fogo, o acordo passou por tensões nos últimos dias. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alegou que o grupo palestino descumprira o acordo ao entregar, na última semana, restos mortais que não correspondiam ao de Shiri Bibas, mulher israelense detida em 7 de outubro de 2023.
Israel exige a devolução dos corpos de reféns que morreram na Faixa de Gaza, mas mantém 135 cadáveres de palestinos como moeda de troca, recusando devolução dos corpos às famílias das vítimas para negociações futuras.
Netanyahu também classificou como “humilhantes” as cerimônias que o Hamas organizava para as libertações, nas quais prisioneiros israelenses demonstraram cordialidade com os integrantes do Hamas.
Com a colaboração dos mediadores, Hamas e Israel retomaram o acordo depois que o grupo de resistência entregou o corpo de Shiri Bibas, explicando que o erro inicial ocorreu porque seus restos mortais se misturaram aos de corpos palestinos, ambos vítimas dos ataques de Tel Aviv contra o enclave. O Hamas também se comprometeu a passar a libertar os israelenses longe das câmeras.
Até o momento, o cessar-fogo que começou dia 19 de janeiro permitiu a roca de 33 reféns israelenses, oito deles mortos, por 1700 palestinos.

Corpo de refém israelense entregue dia 20 de fevereiro
Troca de prisioneiros
Os corpos entregues pelo grupo palestino na última quarta-feira (26/02) foram transferidos para a Cruz Vermelha, organização humanitária responsável pelas trocas de prisioneiros, no sul de Gaza, e de lá levados para Kerem Shalom por volta da meia-noite. Três deles foram rapidamente identificados por registros dentários já no ponto de transferência, sistema estabelecido após as últimas devoluções.
Eram eles Schlomo Mantzur, Ohad Yahalomi e Itzhak Elgarat. Israel confirmou a identidade do quarto corpo pouco depois: Tsachi Idan, homem cuja família recebeu sinais de que ele ainda estava vivo em novembro passado.
Pouco depois da devolução dos corpos israelenses, vários ônibus com os prisioneiros palestinos chegaram a Ramallah, na Cisjordânia, Khan Younis, em Gaza, e ao Egito, para onde foram deportadas 97 pessoas.
Os prisioneiros libertos em Gaza foram logo levados para o hospital europeu de Khan Younis devido sua debilitação. Segundo reportagem da emissora Al Jazeera, muitos dos prisioneiros libertados tinham ossos quebrados, sinais de tortura, desnutrição e alguns não conseguiam caminhar.
Segundo o Escritório de Informações de Prisioneiros Palestinos, Israel libertou 642 palestinos, dos quais 46 eram mulheres ou menores. O número, ainda não confirmado pelo Hamas, é superior aos 602 palestinos que Israel deveria ter libertado no sábado.
De acordo com imagens difundidas pela Al Jazeera, na Cisjordânia ocupada dezenas de prisioneiros palestinos reuniram-se com suas famílias. Muitos cumpriam penas longas ou perpétuas e havia poucas esperanças desse reencontro.
Alaa Al-Bayari se reuniu com a família na Cidade de Gaza. Feliz pelo reencontro, também estava triste porque, depois de um ano de fomes e torturas na prisão israelense, suas filhas pequenas não o reconheceram.
“Eles nos espancaram, nos deixaram na chuva, usaram eletricidade em nós”, contou al-Bayari, dizendo que muitos prisioneiros ficavam doentes na prisão.
Embora grato por ter sido libertado, Al-Bayari também se dizia “profundamente triste porque deixei tantos prisioneiros dentro das prisões israelenses sofrendo”.
(*) Com Ansa