Israel criou uma empresa de fachada para produzir os pagers explosivos fornecidos ao grupo Hezbollah, no Líbano, informou o jornal norte-americano New York Times, citando fontes de segurança israelenses sob condição de anonimato, nesta quinta-feira (19/09). O nome da fabricadora seria BAC Consulting KFT.
A BAC Consulting KFT foi a primeira acusada pela explosão de pagers utilizados por membros do Hezbollah, na última terça-feira (17/09), ataque que deixou 12 mortos e mais de dois mil feridos.
Após o incidente, atribuído a Israel, uma fonte da segurança libanesa indicou à agência Reuters o envolvimento do Mossad, o serviço de inteligência israelense, nas explosões.
Segundo a fonte, o serviço de inteligência teria instalado explosivos em 5.000 pagers importados pelo Hezbollah, da fabricante Gold Apollo, de Taiwan, meses antes das explosões. Os aparelhos teriam recebido uma pequena carga de explosivos entre 20 e 50 gramas, além de um minúsculo dispositivo de detonação remoto.
Por sua vez, a Gold Apollo afirmou que os aparelhos foram fabricados por uma empresa sediada em Budapeste, capital da Hungria, e produzidos pela BAC Consulting KFT.
A sede da empresa na Hungria condiz com a investigação do jornal norte-americano, que também confirmou o contrato com a Gold Apollo para produzir os aparelhos em nome da empresa taiwanesa.
Contudo, esse contrato “era parte de uma fachada israelense”. Segundo as fontes do NYT, “pelo menos duas outras empresas de fachada foram criadas também para mascarar as identidades reais das pessoas que criaram os pagers: oficiais de inteligência israelenses”.
A investigação apontou ainda que a BAC Consulting KFT “assumiu clientes comuns, para os quais produziu uma gama de pagers comuns”, como parte da fachada. No entanto, seu único objetivo de fato era o Hezbollah como cliente e seus pagers, que “estavam longe de ser comuns”, contendo baterias com o explosivo PETN.
O NYT aponta que os dispositivos de comunicação baseados na propagação de ondas de rádio foram enviados para o Líbano em 2022, “em pequenas quantidades”, mas que a produção foi aumentada após o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, apelar aos membros do grupo para que parassem de usar telefones para a comunicação, uma vez que os pagers poderiam dificultar o monitoramento da comunicação por terceiros e evitar eventuais ataques cibernéticos.
“Para o Hezbollah, eles eram uma medida defensiva, mas em Israel, oficiais de inteligência se referiam aos pagers como “botões” que poderiam ser pressionados quando o momento parecesse oportuno. Esse momento, ao que parece, chegou esta semana”, destaca a publicação.
Sobre os walkie-talkies
O Líbano registrou mais explosões em dispositivos eletrônicos, na última quarta-feira (18/09), desta vez com walkie-talkies, sistemas ligados a painéis solares e leitores de impressões digitais. Segundo o Ministério da Saúde do país, 25 foram mortos e 708 pessoas ficaram feridas.
Segundo o website norte-americano Axios, os explosivos também foram plantados nos walkie-talkies usados na comunicação dos membros do Hezbollah pelo serviço de inteligência israelense, Mossad.
A empresa japonesa Icom, fabricante dos dispositivos de comunicação, declarou “que não poderia ter fabricado os dispositivos explosivos”.
“Não há como uma bomba ter sido integrada a um de nossos dispositivos durante a fabricação. O processo é altamente automatizado e rápido, então não há tempo para essas coisas”, declarou Yoshiki Enomoto, diretor da Icom, à Reuters.
O representante da empresa ainda declarou que os modelos explodidos tiveram sua produção interrompida há uma década, e que a maioria dos itens à venda eram falsificados.
“Se for falsificado, teremos que investigar como alguém criou uma bomba que se parece com o nosso produto. Se for genuíno, teremos que rastrear sua distribuição para descobrir como foi parar lá”, disse, ainda, Enomoto à agência.
Envolvimento dos Estados Unidos
Na última quarta-feira, repórteres norte-americanos pressionaram repetidamente John Kirby, porta-voz de Segurança Nacional dos Estados Unidos, para saber se o país estava envolvido nos ataques ou se foram informados com antecedência.
Kirby respondeu, segundo a Al Jazeera: “Queremos ver o fim da guerra. E tudo o que temos feito desde o início foi projetado para evitar que o conflito escalasse”, disse Kirby. “Ainda acreditamos que há um caminho diplomático possível, particularmente na região perto do Líbano.”
Por fim, o oficial de segurança afirmou que não tinha “mais nada para compartilhar”.