Israel envia delegação ao Catar para discutir avanço do cessar-fogo em Gaza
Para pressionar o Hamas, governo de Netanyahu interrompeu entrada de ajuda humanitária e cortou abastecimento elétrico para o enclave
Uma delegação israelense deve desembarcar nesta segunda-feira (10/02) em Doha, Catar, para uma nova rodada de negociações para prolongar o cessar-fogo em Gaza.
Negociadores do Hamas, liderados por Mohammed Darwish, chegaram à capital do Catar no domingo (09/03), após reuniões no Cairo, no Egito. Eles se reuniram com autoridades egípcias e norte-americanas que estão na mediação do acordo.
Israel e Hamas têm divergências sobre os termos da segunda fase da trégua. O grupo palestino quer passar imediatamente às negociações da segunda fase, uma vez que foi cumprido tudo o que estava previsto na primeira.
Nesta próxima etapa, conforme o acordo inicial, deveria haver a libertação de prisioneiros palestinos por todos os reféns, a retirada total das forças israelenses de Gaza, reabertura de fronteiras e um cessar-fogo permanente.
Já o governo israelense quer prorrogar a primeira fase até meados de abril e conseguir a libertação dos reféns. Israel também afirma que só negociará a segunda fase depois que o Hamas se retirar completamente de Gaza. Porém, a gestão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu enfrenta pressões dos familiares dos reféns e dos já libertados para o avanço das negociações de paz.
Para pressionar a resistência palestina, há nove dias, Israel interrompeu novamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza e também cortou o abastecimento elétrico para o enclave. Itens de necessidade básica, como alimentos, água potável e medicamentos, já começam a faltar.
Dessalinização depende da eletricidade
A única usina de dessalinização de água do enclave, da qual abastece cerca de 600 mil pessoas, depende da linha elétrica que vem de Israel. Agora, para obter eletricidade, os moradores de Gaza utilizam painéis solares e geradores a combustível, que começa a escassear com a retomada do bloqueio.
Com 80% das construções do enclave reduzias a escombros, atualmente centenas de palestinos vivem em barracas onde enfrentam temperaturas de cerca de 12º à noite.
“Condenamos veementemente a decisão de Israel de cortar o fornecimento de eletricidade a Gaza, depois de privá-la de alimentos, remédios e água”, disse no domingo (09/02) Izzat Al-Risheq, membro do bureau político do Hamas. Ele acrescentou que se trata de uma “política mesquinha e chantagem inaceitável”.

Caminhões com ajuda humanitária a ser enviada a Gaza se encontram parados devido a bloqueio imposto por Israel
Israel sob pressão da negociação direta dos EUA com Hamas
O jornal israelense Haaretz publicou uma análise nesta segunda-feira com o título: “Cansado da perda de tempo de Netanyahu, Trump o cortou das negociações de cessar-fogo”.
“Primeiro, o governo Trump cortou o governo israelense das negociações e falou diretamente com o Hamas. Agora, eles também estão tentando cortar o intermediário e falar diretamente com o público israelense”, publicou o jornal.
O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotirch, representante da extrema direita do governo que se opôs frontalmente ao cessar-fogo, criticou a iniciativa dos Estados Unidos.
Segundo o jornal israelense Jerusalém Post, Smotirch disse que o enviado norte-americano teria trazido uma proposta do Hamas “completamente absurda”. A proposta dos palestinos seria se desarmar e devolver todos os reféns em troca de um cessar-fogo de cinco a 10 anos.
Quando Netanyahu negociou a trégua com seu gabinete de governo, os ministros mais à extrema direita só concordaram com ela sob a condição de que a guerra fosse retomada após a primeira fase.
A primeira fase terminou em 1º de março, após seis semanas de trocas. Nesse período, 24 reféns israelenses vivos foram entregues em troca da libertação de 1.800 prisioneiros palestinos que estavam em detenções israelenses.
Familiares querem negociação da segunda fase
Prisioneiros israelenses libertados e os familiares dos que continuam cativos em Gaza pedem ao governo que avance para a segunda fase do acordo e evite a retomada do conflito.
Durante o último protesto, no sábado (08/03) à noite, Einav Zangauker, mãe de Matan Zangauker, que continua preso em Gaza, disse que Netanyahu está jogando politicamente com a vida dos reféns. Em geral, familiares de reféns acusam o premiê de prolongar a guerra para seu ganho político pessoal.
Enquanto negocia, Israel retomou os ataques a Gaza, embora em escala muito menor que antes do cessar-fogo. Desde sexta-feira (07/03) à noite, as Forças de Defesa isralense (IDF, por sua sigla em inglês) realizou intensos ataques a Rafah com tanques e drones.
Segundo a agência de notícias palestina Wafa, os bombardeios afetaram zonas residenciais e mataram ao menos três palestinos.
