O jornal israelense Haaretz apontou, neste domingo (07/07), que as Forças de Defesa Israelenses (IDF, sigla em inglês do exército do país) executaram durante os ataques do Hamas em 7 de outubro o protocolo Hannibal, que pode ter resultado na morte de seus próprios cidadãos como forma de evitar que militares fossem capturados pelo grupo palestino.
O protocolo, originalmente criado em 1986 após o sequestro de dois soldados israelenses pelo grupo libanês Hezbollah, foi mantido em sigilo por anos, uma vez que estabelecia que a captura de militares por tropas inimigas fosse impedida a qualquer custo, o que incluía assassinar civis.
Assim, uma eventual troca de prisioneiros para permitir a libertação de reféns – uma das maiores pautas que pressionam o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – deixaria de ser uma preocupação.
A administração Netanyahu tem sido questionada pelos familiares dos atuais reféns ainda sob controle do Hamas sobre a falta de prioridade do resgate em favor da destruição de Gaza. As novas descobertas reiteram essas supostas preferências.
Com base em documentos e depoimentos obtidos por um dos principais periódicos de Israel, “a IDF ordenou a diretiva de Hannibal em 7 de outubro para impedir que o Hamas capturasse os soldados israelenses” em três instalações militares atacadas pelo grupo palestino.
O Haaretz denunciou que o protocolo foi tomado em meio “a uma histeria louca” em que “decisões começaram a ser tomadas sem informações verificadas” o que “potencialmente colocou civis em perigo”.
De acordo com a investigação, “foi ordenado que a área ao redor da cerca da fronteira com Gaza fosse transformada em uma zona de morte, e que se atirasse e lançasse fogo irrestritamente para não permitir que nenhum carro retornasse à Gaza, mesmo que os militares soubessem que provavelmente havia israelenses nos veículos”.
“Todos sabiam naquela época que tais veículos poderiam transportar civis ou soldados sequestrados. Todos sabiam o que significava não deixar nenhum veículo retornar a Gaza”, declarou um representante do comando sul das IDF ao jornal.
Sem maiores informações sobre quantidade de civis e soldados feridos pela aplicação do protocolo proibido, o Haaretz ressalta que documentos e depoimentos de representantes do exército israelense “sugeriram que a prática foi usada de maneira generalizada em 7 de outubro”, deixando 1.200 mortos e 250 reféns pelo Hamas.
A mesma denúncia já havia sido feita pelo jornal israelense Yedioth Ahronoth em janeiro passado. Segundo relatos, a diretiva, banida em 2016 nas forças israelenses, teria sido aplicada em situações que envolviam cidadãos que não faziam parte do Exército.
A investigação apontava falhas no sistema de comando, falta de comunicação e ordens para impedir o retorno de integrantes do Hamas à Faixa de Gaza “a qualquer custo”, o que poderia ter sido interpretado como autorização para abrir fogo contra veículos, mesmo que civis estivessem presentes.
Analisando especificamente os ataques em 7 de outubro, o Yedioth Ahronoth cita um incidente entre os assentamentos de Otaf e a Faixa de Gaza, onde cerca de 70 veículos foram alvejados, resultando em um ataque que teria matado mil combatentes palestinos, mas sem esclarecimentos sobre o número de reféns civis israelenses que podem ter sido vítimas.
Outro caso discutido na matéria envolve o kibutz [comunidade agrária] de Be’eri, próximo à Faixa de Gaza, onde relatos indicam que militares israelenses teriam atacado uma casa, mesmo após serem informados sobre a presença de militantes do Hamas e reféns no local.
Na época, o Haaretz, em editorial, chegou a pedir investigação imediata sobre as ações do Exército, enfatizando a relevância das respostas para os familiares dos reféns e para o público em meio ao atual conflito.
Por sua vez, questionado sobre as alegações, o Exército de Israel havia prometido uma investigação detalhada “quando a situação operacional permitisse”. Com a publicação do novo relatório, um porta-voz das IDF declarou:
“O objetivo dessas investigações é aprender e tirar lições que possam ser usadas para continuar a batalha. Quando essas investigações forem concluídas, os resultados serão apresentados ao público com transparência”.
(*) Com Sputnik