Israel impõe cerco total contra Cisjordânia ocupada em meio ataques ao Irã
Palestinos relatam paralisação completa da vida cotidiana após quatro dias de portões bloqueados pelo Exército israelense
Um grande contingente de tropas israelenses foi mobilizado para fechar postos de controle da Cisjordânia ocupada e selar os portões de ferro que separam cidades e vilas palestinas. Valendo-se da infraestrutura e mecanismos já existentes, o Exército de Israel declarou toda a região uma “zona militar fechada.”
A medida ocorre desde semana passada, quando Israel atacou o território na iraniano. Ativistas e jornalistas na Cisjordânia denunciaram o bloqueio total imposto por Israel aos mais de 3 milhões de palestinos que ali vivem.
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Na manhã de segunda-feira (16/06), a ativista Yara Jrashi relatou a Opera Mundi que novos portões foram instalados nas redondezas de Bethlehemo. Já o jornalista Mohamad Zwahre confirmou que a vila de Al-Ma’sara e seus pouco mais de mil habitantes seguiam cercados pelas forças militares.
“As autoridades israelenses chegaram a permitir o acesso às principais cidades por tempo limitado pela manhã, enquanto muitos portões continuam fechados. Alguns parecem ter sido soldados e selados permanentemente, como em Hebron. Dois novos postos de controle foram instalados em Beit Sahour e blocos de concreto fecham o acesso à cidade de Halhul”, disse Yara.
Segundo a agência de notícias palestina Wafa, o bloqueio em andamento tem paralisado o cotidiano na Cisjordânia, impactando a atividade econômica, limitando severamente o acesso a locais de trabalho, isolando comunidades e restringindo o acesso a serviços essenciais, como postos de saúde e escolas.
“Nós estamos vivendo sob um cerco sufocante imposto pela ocupação desde sexta, mediante o ataque israelense ao Irã e a escalada na região”, disse Zwahre. Ele é morador da pequena vila de Al-Ma’sara e contou à Campanha Escocesa de Solidariedade com a Palestina (SPSC) que “ninguém sai e ninguém entra. “Estamos presos em nossa própria vila, como se estivéssemos em uma prisão a céu aberto”.
Já a mídia local israelense, publicou que as restrições foram descritas como uma “medida excepcional em resposta à guerra em curso”. O cerco, que se estende por quatro dias, serve como plano de fundo para a escalada de uma ofensiva militar em andamento contra a população palestina em diversas áreas da Cisjordânia.
Ainda na sexta-feira (13/06), as autoridades fronteiriças da Jordânia anunciaram o fechamento da ponte King Hussein, devido ao bloqueio da passagem imposto pelas forças de ocupação israelenses. Também conhecida como Allenby, a passagem terrestre é considerada a única rota de contato entre os palestinos e o mundo exterior, já que o acesso ao aeroporto internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, é extremamente limitado.

Um dos checkpoints de controle israelense na Cisjordânia ocupada
“A ocupação nos isolou do mundo e paralisou a nossa vida. Não sabemos o que acontecerá amanhã, nem quanto tempo esse isolamento vai durar. Estamos vivendo em completo estado de incerteza e insegurança”, completou Mohamad.
Medidas familiares
As medidas israelenses adotadas são familiares para os palestinos da Cisjordânia ocupada, sob controle militar desde 1967. No entanto, Yara, que vive na província de Bethlehem e está acostumada a passar horas em postos de checagem por conta de seu trabalho social, afirmou que os ataques militares e as violações de direitos “seguem com uma brutalidade alarmante.”
“[Semana passada] em Nablus, dois irmãos foram assassinados enquanto um jornalista israelense filmava toda a operação militar em curso. As orações estão suspensas na Mesquita de Al-Aqsa e os palestinos estão completamente proibidos de se aproximar do local. Além, é claro, das habituais incursões, demolições, prisões em massa e ataques constantes de colonos”, comentou à reportagem a ativista.
Em um dia “normal” para os palestinos, o acesso à Mesquita de Al-Aqsa, no coração de Jerusalém, é restrito. Dois postos de controle bloqueiam a entrada de fiéis mulçumanos, que sofrem com revistas arbitrárias, detenções e ofensas por parte dos soldados israelenses.