O Exército israelense intensificou os bombardeios neste sábado (11/05) em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, e pediu aos civis palestinos, em vários bairros da cidade, que se dirijam para “zonas humanitárias” em Al-Mawasi, no centro do enclave. A localidade está situada no sul da Faixa de Gaza, a poucos quilômetros da fronteira egípcia e ao lado de antigos assentamentos israelenses, que existiam antes da evacuação de Gaza, em 2005.
Moradores de 11 bairros no leste de Rafah receberam ordens de retirada, de acordo com uma mensagem publicada na plataforma X por um porta-voz do Exército israelense. Pelo menos 37 habitantes de Gaza morreram em ataques aéreos durante a noite de sexta-feira (10/05), de acordo com o Ministério da Saúde palestino.
Cerca de 300.000 habitantes de Gaza seguiram para Al-Mawasi, segundo as forças israelenses. “A situação é realmente complicada, as pessoas estão fugindo de suas casas em pânico”, disse Khaled, de 35 anos, morador do bairro de Shaboura que teve que deixar a área. O Exército israelense afirma que continua sua operação contra combatentes do Hamas no leste de Rafah.
Cerca de 1,4 milhão de palestinos, a maioria deslocados pela guerra, estão refugiados na cidade. A ONU alertou para o risco de catástrofe na cidade, situada na fronteira com o Egito, e acrescentou que a ajuda humanitária está bloqueada desde que as tropas israelenses entraram no leste de Rafah na segunda-feira (06/05), fechando duas passagens.
De acordo com a ONU, pelo menos 21 pessoas morreram em bombardeios durante a noite desta sexta-feira (10/05) no centro de Gaza e foram levadas para o Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, na cidade de Deir al-Balah, de acordo com um comunicado divulgado pela instituição.
Para “derrotar” o Hamas, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, defende a necessidade da ofensiva em Rafah. O premiê afirma que combatentes do Hamas estão escondidos na região e as áreas designadas foram “usadas para atividades terroristas do grupo nos últimos dias e semanas”.
Em janeiro, o governo israelense anunciou o desmantelamento do comando do Hamas no norte da Faixa de Gaza, mas neste sábado um porta-voz disse que o movimento estava “tentando se reconstruir”.
Negociações sem avanço
Apesar da reabertura na quarta-feira (08/05) da passagem de Kerem Shalom, vizinha de Rafah e fechada por Israel por três dias após o lançamento de foguetes do Hamas, a entrega de ajuda continua “extremamente difícil”, disse à AFP Andrea De Domenico, chefe do escritório da OCHA, o escritório da ONU encarregado das questões humanitárias, nos territórios palestinos.
Na sexta-feira à noite, o COGAT, órgão do Ministério da Defesa israelense que supervisiona os assuntos civis na região, anunciou “a transferência de 200.000 litros de combustível para organizações internacionais” via Kerem Shalom.
No entanto, segundo Sylvain Groulx, coordenador de emergência dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Gaza, é preciso “entender que, quando mais de dois terços dos hospitais ou instalações médicas de Gaza foram destruídos ou parcialmente destruídos, torna-se ainda mais difícil oferecer à população os serviços básicos de saúde”.
O Egito pediu na sexta-feira ao Hamas e a Israel que mostrem “flexibilidade”, após o fim das negociações indiretas na véspera no Cairo, que terminaram sem acordo. Os esforços dos países mediadores (Egito, Catar e Estados Unidos) “continuam” em direção a uma trégua, segundo a mídia egípcia Al-Qahera News.
Nesta sexta-feira (10/05), o Departamento norte-americano de Estado informou, em um relatório, que os Estados Unidos consideram “razoável acreditar” na hipótese de que Israel tenha violado o Direito Internacional Humanitário em Gaza, mas sem anunciar nenhuma conclusão a respeito. O país continuará a entregar armas ao país, mas o presidente Joe Biden ameaçou interromper algumas entregas a Israel no caso de uma grande ofensiva em Rafah.
Vídeo de refém
O Hamas também divulgou no Telegram, neste sábado, um vídeo que mostra um refém israelense mantido na Faixa de Gaza desde o ataque do movimento islâmico palestino em 7 de outubro.
As imagens de dez segundos, cuja data de gravação não é especificada, mostram um homem ferido, com um olho inchado, dizendo seu nome. A mensagem vem acompanhada das hashtags “O tempo está acabando” e “seu governo está mentindo”.
O vídeo foi divulgado pouco antes de 14 de maio, data da proclamação do Estado de Israel, criado em 1948.
A guerra na Faixa de Gaza começou em 7 de outubro com um ataque do Hamas a partir de Gaza contra Israel. A ofensiva matou mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Mais de 250 pessoas foram sequestradas e 128 permanecem reféns em Gaza. Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas, e lançou uma ofensiva que até agora matou 34.971 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde palestino, administrado pelo movimento palestino.