Israel matou quase 800 pessoas, sendo 270 crianças, desde a retomada do genocídio em Gaza
Ataques mataram dois jornalistas palestinos e organização Repórteres Sem Fronteiras denuncia 'apagão da mídia'
Desde que rompeu o cessar-fogo na Faixa de Gaza, há oito dias, o exército de Israel matou pelo menos 792 pessoas e deixou outras 1.663 feridas, segundo informações do Ministério da Saúde em Gaza. Em comunicado na tarde desta terça-feira (25/03), o órgão disse que pelo menos 62 pessoas foram mortas em ataques israelenses nas últimas 24 horas.
Pelo menos 23 pessoas, incluindo sete crianças, foram mortas em ataques durante a noite, de acordo com fontes médicas. A ONG Save the Children afirma que mais de 270 crianças foram mortas desde que Israel retomou o bombardeio em Gaza.
Um ataque aéreo israelense matou um jornalista que trabalhava para a Al Jazeera na segunda-feira (24/03). A agência de defesa civil de Gaza disse que um ataque de drone israelense na tarde de segunda matou Hussam Shabat, que estava trabalhando para a emissora, perto de um posto de gasolina em Beit Lahia.
Mahmud Bassal, porta-voz do veículo, disse que os ataques aéreos tinham como alvo mais de 10 carros, incluindo o de Shabat, em várias partes de Gaza. “Hussam Shabat, um jornalista colaborador da Al Jazeera foi martirizado em um ataque israelense que teve como alvo seu carro no norte da Faixa de Gaza”, disse um alerta da emissora do Catar, referindo-se ao seu canal árabe ao vivo.
Após sua morte, a equipe que trabalhava com Hossam publicou nas redes sociais o texto que o jornalista preparou para quando fosse morto por Israel.
“Se você está lendo isso, significa que fui morto – provavelmente um alvo – pelas forças de ocupação israelenses. Nos últimos 18 meses, dediquei cada momento da minha vida ao meu povo. Documentei os horrores no norte de Gaza minuto a minuto, determinado a mostrar ao mundo a verdade que eles tentaram enterrar”, diz a mensagem.
Além de Shabat, também foi assassinado no mesmo dia o jornalista da TV Palestine Today Mohammad Mansour, segundo informou o Sindicato de Jornalistas Palestinos.
Israel acusa jornalistas
Por meio de uma nota, as Forças de Defesa de Israel (IDF, como é chamado o Exército israelense) voltaram a acusar o jornalista Hossam Shabat de ser um “atirador de elite do Hamas” e de realizar ataques contra tropas e civis israelenses.
“Um terrorista atirador do Batalhão Beit Hanoun da organização terrorista Hamas, que cinicamente se passou por um jornalista da Al Jazeera. Em outubro de 2024, a IDF e a ISA expuseram a afiliação direta do terrorista com a ala militar da organização terrorista Hamas”, acusa o comunicado israelense.
O organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou o que chamou de “ataque israelense direcionado” que matou Hossam Shabat, “um dos jornalistas mais conhecidos de Gaza”. O órgão de vigilância da mídia disse que já havia “alertado que o repórter da Al Jazeera e seus colegas corriam alto risco de serem assassinados”.

pelo menos 62 pessoas foram mortas em ataques israelenses nas últimas 24 horas
A ONG também argumenta que carecem de provas os documentos usados por Israel para acusar, além de Hossam, outros cinco jornalistas da TV Al Jazeera. Segundo a organização, esse tipo de acusação é recorrente contra outros jornalistas mortos pelo Exército israelense, como Ismail al-Ghoul, Hamza al-Dahdouh e Mustafa Thuraya.
“Uma investigação da RSF descobriu que os documentos publicados pelos militares israelenses sobre Hossam Shabat careciam gravemente de provas de que esses jornalistas eram afiliados aos militares”, completou a nota da RSF.
“As acusações não podem de forma alguma justificar seu assassinato, pois são baseadas em documentos que de forma alguma constituem que o jornalista tinha qualquer afiliação com o Exército. Esse padrão muito familiar alimenta o massacre sem precedentes de jornalistas em Gaza”, afirmou o chefe do RSF para o Oriente Médio, Jonathan Dagher.
O exército israelense “já foi responsável pela morte de quase 200 jornalistas em 15 meses, incluindo pelo menos 43 mortos enquanto trabalhavam”, acrescentou a RSF, acusando Tel Aviv de promover um “apagão da mídia”.
“Desde 2023, a RSF apresentou quatro queixas ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra cometidos contra jornalistas por Israel e alertou contra a tentativa de Israel de impor um ‘apagão da mídia’ no território”, disse a organização.
O grupo afirma que, mesmo durante a trégua, as autoridades israelenses se recusaram a levantar o bloqueio em Gaza para permitir que a imprensa internacional e os jornalistas exilados de Gaza retornassem.
“A RSF apela à comunidade internacional para pressionar urgentemente o governo israelense a acabar com o massacre de jornalistas palestinos”, diz o comunicado da ONG publicado também nesta terça-feira (25/03).
Para o Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ), as acusações de Israel contra os jornalistas são infundadas e justificam a matança de membros da imprensa.
“Shabat disse ao CPJ em outubro que não era membro do Hamas. ‘Nós transmitimos a verdade sobre a Al Jazeera, e nos movemos dentro das áreas classificadas por Israel como seguras’, disse Shabat. ‘Somos cidadãos, e transmitimos suas vozes. Nosso único crime é que transmitimos a imagem e a verdade’”, destacou a organização de defesa da liberdade de expressão.
“A comunidade internacional deve agir rápido para garantir que os jornalistas sejam mantidos seguros e responsabilizar Israel pelas mortes de Hossam Shabat e Mohammed Mansour. Jornalistas são civis e é ilegal atacá-los em uma zona de guerra”, denuncia o diretor de programa do CPJ, em Nova Iorque, Carlos Martinez de la Serna.
Desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, os ataques israelenses em Gaza deixaram quase 50 mil mortos. No sul de Israel, pelo menos 1.139 pessoas foram mortas no ataque inicial do Hamas, e cerca de 250 foram sequestradas, sendo que a maioria já foi libertada por meio de negociações.
(*) Com Agência Brasil e Brasil de Fato
