Israel: milhares protestam contra governo Netanyahu e retomada de ataques contra Gaza
Em Jerusalém, manifestantes exigiram fim das operações militares no enclave, acordo para libertação dos reféns e prisão do primeiro-ministro
Milhares de israelenses protestaram nas ruas de Jerusalém nesta quarta-feira (19/03) contra as políticas do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pedindo o fim dos ataques à Faixa de Gaza e um acordo para a libertação dos reféns que ainda estão com o grupo palestino Hamas.
Os manifestantes, que chegaram a bloquear o acesso principal da cidade, também se posicionam contra a decisão do governo em demitir o chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interna israelense, Ronen Bar.
“É hora de acabar com isso antes que não sobre nenhum para salvar, antes que não exista mais um país”, declarou uma das lideranças dos protestos, a física Shikma Bressler. Outros ativistas seguraram uma grande faixa com o escrito “chega de governo de destruição”.
“Nós superamos Hamã, superamos o Faraó, superamos o mandato britânico, superamos Hitler. Nós também superaremos eles”, gritou em um megafone outro líder do protesto, Moshe Radman, empresário do ramo tecnológico. Seu discurso também exigiu a prisão de Netanyahu “até o último dia de sua vida”.
Também foram registrados apelos para que reservistas israelenses se recusassem a servir às Forças Armadas de Israel.
Durante os protestos, parte da multidão, que utilizou buzinas e apitos, tentou derrubar a barreira de proteção que cerca a residência privada do mandatário de extrema direita, na via Azza Road.
Segundo o jornal Times of Israel, houve manifestantes que fizeram fogueiras no meio das ruas e outros que estão em confronto com a polícia. O periódico também relatou que, para dispersar o protesto, a polícia empurrou e usou canhões de água contra as pessoas.
De acordo com o Haaretz, pelo menos quatro manifestantes foram presos até o momento. A polícia local relatou que “ao longo do protesto, dezenas de participantes começaram a perturbar a ordem pública”.
Retomada de operações por terra e controle de Netzarim
No mais recente anúncio de Tel Aviv sobre sua ofensiva militar no enclave palestino, o Exército de Israel disse nesta quarta-feira (19/03) que retomou as operações por terra na Faixa de Gaza e reassumiu o controle do corredor de Netzarim, que corta o centro do enclave palestino.
Segundo um porta-voz das Forças de Defesa Israelenses (IDF), o objetivo é “expandir a área de segurança” e criar uma zona de amortecimento entre a metade sul e a parte norte do território.
As tropas israelenses haviam se retirado do corredor de Netzarim em 9 de fevereiro, no âmbito do acordo de cessar-fogo que estava em vigor em Gaza na ocasião. Essa faixa de terra tem seis quilômetros de extensão e vai da fronteira israelense até o Mar Mediterrâneo, dividindo o enclave em dois.
A trégua, no entanto, foi rompida na madrugada da última terça (18/03) por Israel, que acusa o Hamas de rejeitar repetidas ofertas de extensão do cessar-fogo por parte dos Estados Unidos e de preparar novos atentados terroristas, alegações negadas pelo grupo.

Durante protesto, parte da multidão tentou derrubar barreira de proteção que cerca a residência privada de Netanyahu
O Hamas, por sua vez, condenou a “agressão traiçoeira” do governo de Israel na Faixa de Gaza, apontando que “o criminoso Netanyahu e a ocupação sionista nazista” anularam o acordo de cessar-fogo e retomaram seus ataques contra os palestinos.
O reinício da guerra foi condenado por grande parte da comunidade internacional, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia, que se disseram “chocadas” com os bombardeios israelenses. Já os EUA culparam o Hamas pela retomada do conflito.
Desde a retomada do conflito, pelo menos 436 pessoas morreram em ataques em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local.
Já na Cisjordânia, região ocupada onde Israel intensificou seus ataques após o início da trégua em Gaza, Netanyahu falou sobre “a possibilidade de uma frente maior e mais forte”. Enquanto isso, seu exército anunciou a demolição de uma séria de casas no campo de refugiados de Jenin “para fins militares”.
De acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), quase 40 mil pessoas foram deslocadas à força desde o início da operação israelenses na Cisjordânia.
Retomada dos ataques expõe crise interna
As decisões de Netanyahu quanto à Gaza refletem as tentativas do primeiro-ministro israelense de tentar manter seu governo com as eleições parlamentares marcadas para este mês.
A política interna de Israel também se volta para a votação do orçamento de 2025, que está atrasada e deve ser feita até 31 de março. Caso o Knesset, o Parlamento israelense, não aprove o orçamento, o governo será automaticamente dissolvido e terá que convocar eleições antecipadas.
Netanyahu ainda luta contra a instauração de uma comissão estatal de inquérito sobre as falhas no 7 de outubro de 2023 que levaram ao ataque do Hamas. Tal demora alimentam as críticas internas que dizem que ele está administrando a guerra para sua manutenção no poder.
Já a coalizão ministerial de Netanyahu demonstra rachas internamente. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, se opôs ao acordo de cessar-fogo desde o início e ameaçou repetidamente demitir-se caso os combates contra Gaza não fossem retomados.
Itamar Ben-Gvir, o líder do partido de extrema direita que deixou o cargo em janeiro por se opor ao acordo de cessar-fogo anunciou seu retorno ao gabinete de governo horas após a retomada dos ataques na última terça-feira.
Enquanto alguns membros de seu governo criticam o cessar-fogo, outros, como o major-general aposentado Amos Yadlin, ex-chefe da diretoria de inteligência militar de Israel, criticou abertamente Netanyahu por retomar os ataques enquanto os reféns israelenses ainda estão em Gaza.
“Um líder israelense responsável, que não tem nenhuma consideração política interna, traria todos os reféns de volta em um único grupo, logo de cara, [em troca] do fim da guerra, e então cuidaria do segundo objetivo da guerra, desmantelar o Hamas”, declarou.
(*) Com Ansa, Brasil de Fato e informações da Al Jazeera, The Guardian e Haaretz
