O governo de Israel está recrutando cerca de 30 mil refugiados africanos para “operações de risco” na Faixa de Gaza que, em troca, receberiam status de residente no país. A informação foi revelada pelo jornal israelense Hareetz neste domingo (15/09).
“As autoridades de Defesa (israelenses) perceberam que poderiam usar a ajuda dos requerentes de asilo e explorar seu desejo de obter status permanente em Israel como um incentivo”, afirmou o veículo.
De acordo com as fontes locais consultadas pelo Haaretz, os procedimentos estão sendo conduzidos “de maneira organizada” sob a orientação de consultores jurídicos de Defesa. No entanto, acrescenta que “as preocupações éticas do recrutamento de requerentes de asilo não foram levadas em consideração” e que nenhum refugiado que aceitou a proposta recebeu até agora, de fato, o status prometido pelo governo.
Atualmente existem cerca de 30 mil requerentes de asilo africanos, sendo sua maioria jovens, em Israel. O jornal aponta que alguns chegaram a contrariar a medida levantada pela nação, uma vez que ela “explora pessoas que fugiram de seus países devido à guerra”. Outro ponto é que os refugiados têm sido regularmente discriminados pelos políticos anti-imigrantes da extrema direita, o que inclui o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que, em diversas ocasiões, se referiu aos estrangeiros como “infiltrados”.
Experiência do sujeito ‘A.’
Identificado pela reportagem do Hareetz como “A.”, o refugiado africano contou que quase chegou a integrar o exército israelense. Aos 16 anos, usufruindo de um status temporário, “A.” relatou ter expressado desejo em se juntar às forças armadas, uma vez que viu na alternativa uma possibilidade para permanecer no país.
“A.” afirmou que, nos estágios iniciais da guerra em Gaza, recebeu um telefonema de alguém que se identificou como um policial. O suposto agente o orientou para que fosse para uma instalação de segurança, sem fornecer os detalhes. Ao chegar no local, o refugiado foi recebido por seguranças que o tentaram recrutar para as forças armadas.
“O cara disse que estavam procurando pessoas especiais. Perguntei a ele o que me tornava especial, porque ele não me conhecia de jeito nenhum”, relatou.
Se concordasse com o alistamento, “A.” receberia um salário compatível ao seu trabalho. O benefício seria a possibilidade de receber um documento certificando sua residência permanente em Israel.
Embora, num primeiro momento, tenha considerado ingressar, “A.” contou que acabou desistindo da ideia por conta da falta de experiência militar e da celeridade do período de treinamento de duas semanas proposto pelos seguranças. Quando informou da decisão ao recrutador, a reação foi de “raiva”.
Falta de soldados
Em junho, o portal de notícias israelense Walla revelou que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) estavam sofrendo com a escassez de soldados. A imprensa local também informou que centenas de pessoas abandonavam o país sem aviso prévio, recusando-se a retornar ao serviço militar em Gaza.
Como resultado da escassez, a Suprema Corte de Israel decidiu, por uma decisão unânime, que os judeus ultraortodoxos também deveriam estar sujeitos ao alistamento, depois de décadas isentos do serviço militar. A medida foi intensamente repudiada pelo setor religioso.