Segunda-feira, 21 de abril de 2025
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As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) realizaram um novo bombardeio contra a Faixa de Gaza, com ataques aéreos e de artilharia, nas primeiras horas desta terça-feira (18/03), matando ao menos 400 pessoas.

Segundo o Ministério da Saúde palestino, a maioria dos mortos eram mulheres e crianças e “várias vítimas ainda estão sob os escombros”. Só foram contabilizados os corpos que chegaram aos hospitais. E, com a maior parte dos hospitais destruídos por Israel, boa parte dos mais de 660 feridos não tiveram ainda como serem atendidos.

Imagens divulgadas por jornalistas locais mostram corpos em hospitais, incêndios e gritos da população aterrorizada, que foi acordada pelas bombas. Alto-falantes pediam que as pessoas rezassem a primeira oração do dia em casa, sem se arriscar nas ruas para ir às mesquitas. Este é o mês sagrado do Ramadã para os muçulmanos.

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Entre as regiões bombardeadas estavam Deir al-Balah, Cidade de Gaza, Jan Yunis, Rafah e Al-Mawasi. Esta última é justamente uma área que Israel declarou “humanitária”, orientando que os deslocados a força se dirigissem para lá.

Além de edifícios, acampamentos de tendas foram bombardeados. O ataque massivo foi precedido nas últimas semanas de vários outros menores, entre diversas violações do acordo cessar-fogo por Israel.

“Corpos e membros estão no chão, os feridos não conseguem encontrar nenhum médico para tratá-los. Eles bombardearam um prédio na área (do hospital) e ainda há mártires e feridos sob os escombros… medo e terror. A morte é melhor do que a vida”, disse Ramez Alammarin, de 25 anos, depois de acompanhar o transporte de crianças para um hospital perto da Cidade de Gaza. Suas declarações foram reproduzidas pela agência francesa AFP e pelo jornal britânico Guardian.

Cessar-fogo quebrado

De acordo com a mídia local, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu avisou previamente aos Estados Unidos sobre o novo ataque, e recebeu sinal verde do presidente Donald Trump para a operação.

”A partir de agora, o Hamas agirá sobre Israel com força militar crescente”, disse Netanyahu. Ele justificou o ataque pela suposta “repetida recusa” do Hamas em libertar mais reféns sem o compromisso de Israel de encerrar a guerra.

A segunda fase do acordo previa não só a libertação de todos os reféns, como a retirada das tropas israelenses e o fim da guerra. Netanyahu se negou a negociar o início dessa etapa.

O Exército de Israel disse que a operação “continuará enquanto for necessário” e que será maior, para “além dos bombardeios aéreos”. O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, afirmou que Tel Aviv não mostrará “nenhuma misericórdia” e “não parará até que todos os reféns estejam de volta”.

 Israel rompe cessar-fogo com ataques massivos em Gaza
Wafa
Israel rompe cessar-fogo com ataques massivos em Gaza

O Hamas alertou que os ataques de Israel violaram o cessar-fogo e colocaram o destino dos reféns em risco. Um alto funcionário do grupo palestino foi mais longe e disse que os ataques equivaliam a uma “sentença de morte” para os reféns mantidos em Gaza.

Israel garante que ataques prosseguirão

A intensidade dos ataques supera a média diária do período anterior ao cessar-fogo, que já foi especialmente intenso. Israel já vinha promovendo ataques aéreos a Gaza há dias, com quase 20 mortes confirmadas nas 48 horas antes aos ataques massivos desta terça-feira.

Isso tudo enquanto as equipes de negociação haviam viajado ao Egito e Catar para retomar as conversas sobre a segunda fase do cessar fogo. A delegação israelense foi até o Cairo na segunda-feira (17/03) e retornou no mesmo dia.

Netanyahu afirmou em comunicado que o Hamas “rejeitou todas as propostas” feitas pelo enviado de Trump ao Oriente Médio e “pelos mediadores”. Suas afirmações, entretanto, são desmentidas por tudo o que foi divulgado nas duas últimas semanas sobre a resistência de Israel em iniciar as negociações da segunda fase do cessar-fogo.

Israel e os Estados Unidos insistiram em estender a primeira fase da trégua, que oficialmente se encerrou dia 1º de março. Ambos exigiram que o Hamas libertasse os reféns sem nenhuma garantia de que o acordo seria mantido.

O Hamas concordou em estender a primeira fase e libertar mais reféns, desde que as negociações para a segunda fase começassem imediatamente. Ante a negativa do grupo de libertar todos os reféns sem nenhuma contrapartida, Israel voltou a bloquear, há 15 dias, toda entrada de suprimentos em Gaza, incluindo medicamentos, alimentos e até água.

Diversas reportagens internacionais mostravam como a população já sofria de fome em Gaza. Pouco depois, Israel cortou também o fornecimento elétrico.

Hamas acusa Netanyahu de retomar a guerra para salvar seu governo

Izzat al-Risheq, do bureau político do Hamas, acusou Netanyahu de retomar a guerra para tentar salvar seu governo, que enfrenta mais uma crise. Já no início da trégua, alguns membros da coalisão de extrema direita da gestão disseram que só aceitariam o cessar-fogo com a condição de retomar a guerra após a primeira fase.

Entretanto, o retorno dos combates tende a acentuar as disputas internas em Israel, já que milhares de israelenses tomaram as ruas pedindo que o cessar-fogo fosse mantido e que o governo negociasse a segunda fase. Muitos familiares de reféns e reféns libertados também apelam a Netanyahu.

Novas manifestações foram convocadas para esta terça e quarta-feira (19/03) logo que Netanyahu anunciou, no domingo (16/03), sua intenção de demitir o chefe da agência de segurança interna de Israel, Ronen Bar.