Sexta-feira, 16 de maio de 2025
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O governo de Israel notificou oficialmente a ONU sobre o fim das relações com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (Unrwa), medida que proíbe também a entrada e operação da principal fornecedora de ajuda humanitária a civis no enclave palestino.

A informação foi confirmada pelo representante israelense nas Nações Unidas, Danny Danon, por meio das redes sociais nesta segunda-feira (04/11), alegando que Tel Aviv enviou “evidências esmagadoras” da relação entre o grupo palestino Hamas e a Unrwa à ONU, “que não fez nada para retificar a situação”.

Trazendo um documento do Ministério de Relações Exteriores israelense, Danon garante que seu país “continuará a cooperar com organizações humanitárias, mas não com organizações que promovem o terrorismo contra nós”, referindo-se ao ataque de 7 de outubro de 2023.

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Já o documento emitido pela chancelaria israelense ao presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Philémon Yang, e o secretário geral, António Guterres, reitera “que o Estado de Israel retira sua solicitação emitida à Unrwa”, cancelando o acordo denominado “Trocas de notas entre Israel e a Unrwa que constituem um acordo relativo às operações da agência”, de 14 de junho de 1967.

Conforme aprovado pelo parlamento de Israel em 28 de outubro passado, o decreto entrará em vigor dentro de três meses. Período este que o país deve dedicar-se a encontrar um substituto para o trabalho da agência humanitária no enclave palestino.

“Durante esse período, e depois dele, Israel continuará trabalhando com parceiros internacionais, incluindo outras agências das Nações Unidas para garantir a facilitação da ajuda humanitária aos civis em Gaza de uma forma que não prejudique a segurança de Israel”, afirma o documento, sem dar mais detalhes sobre a garantia desta assistência aos civis palestinos.

Por sua vez, o chefe da chancelaria israelense, Israel Katz, declarou que “já hoje existem substitutos à Unrwa, que não estão contaminadas por atividades terroristas”.

UNRWA/X
Unrwa fornece água, alimentos e medicamentos para população civil atingida pela guerra de Israel em Gaza
Leis israelenses contra a Unrwa

O Parlamento israelense (Knesset) aprovou no mês passado dois projetos de lei que proíbem a Unrwa de operar no país, sob o argumento de suposta participação de funcionários do organismo nos atentados do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixaram 1,2 mil mortos.

A denúncia levou as Nações Unidas à investigação, que teve início em janeiro e foi finalizada em agosto passado. Segundo as conclusões, “para 10 dos investigados não foram encontradas provas suficientes e para outros nove surgiram indícios de um possível envolvimento com os atos”, estes últimos foram desligados da UNRWA.

Mesmo assim, o projeto de lei foi aprovado por 92 legisladores israelenses, contra apenas 10 votos negativos, e influencia diretamente no funcionamento da agência da ONU, uma vez que os caminhões que levam ajuda humanitária, como água, alimentos e medicamentos, precisam da aprovação de Tel Aviv para passar por seus postos de controle a fim de chegar ao enclave palestino.

Outro trabalho da UNRWA em Gaza é a manutenção da educação e saúde, com hospitais de campanha e escolas que têm sido usadas pela população refugiada como abrigos temporários para fugir da violência israelense, mas também alvos dos bombardeios do exército israelense.

Após o voto israelense, o alto comissário da UNRWA, Philippe Lazzarini, declarou que a o decreto aprovado contra a agência “não tem precedentes e estabelece um precedente perigoso” porque “se opõe à Carta da ONU e viola as obrigações do Estado de Israel sob o direito internacional”.

Afirmando que a lei “é a mais recente campanha israelense para desacreditar a UNRWA e deslegitimar seu papel no fornecimento de assistência e serviços de desenvolvimento humano aos refugiados palestinos”, o representante da ONU declara que o decreto “só vai aprofundar o sofrimento dos palestinos, especialmente em Gaza, onde as pessoas estão passando por mais de um ano de puro inferno”.

Após a oficialização da medida nesta segunda, um porta-voz da Unrwa, Jonathan Fowler, declarou à agência AFP que a proibição de operar em Israel pode “colapsar” o sistema de ajuda humanitária internacional na Faixa de Gaza, do qual o órgão da ONU é “a espinha dorsal”.

(*) Com Ansa