Soldados israelenses amarraram um palestino ferido em cima do capô de um veículo militar durante uma operação militar em Jenin, na Cisjordânia ocupada. O exército israelense admitiu o incidente e disse que seus soldados violaram as regras da instituição.
As imagens da cena, que foram amplamente divulgadas no sábado (22/06), tornaram-se virais e mostram um homem, visivelmente ferido, amarrado ao capô de um jipe militar enquanto o veículo passa por uma rua relativamente estreita. Mesmo carregando um ferido, o veículo militar passou sem parar por duas ambulâncias da organização Crescente Vermelho.
As imagens causaram indignação nas redes sociais. Vários usuários acusaram Israel de cometer crimes de guerra e uma relatora das Nações Unidas sugeriu que os israelenses usaram o ferido como um escudo humano.
“É impressionante como um Estado nascido há 76 anos conseguiu virar o direito internacional literalmente de ponta-cabeça”, escreveu Albanese, lidera a relatoria especial da ONU para os territórios palestinos ocupados, na rede X
Abdulraouf Mustafa, um motorista de ambulância palestino, disse que os soldados israelenses se recusaram a entregar o ferido para eles. “O jipe passou e o homem ferido estava no capô”, disse Mustafa à rede Al Jazeera. “Um braço estava amarrado ao para-brisa e o outro estava no abdômen. Eles passaram por nós. Eles se recusaram a nos entregar o paciente.”
Segundo fontes médicas, o homem é Mujahed Azmi, de 24 anos, natural do campo de refugiados de Jenin, mas que estava na casa de amigos em Jabriyat, entre Burin e Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada.
Violações
O Exército afirmou que o homem ficou ferido durante uma “operação antiterrorista” que procurava suspeitos na área.
“Em violação às ordens e protocolos operacionais, o suspeito foi levado pelas forças e amarrado ao veículo”, confirmou o Exército de Israel, admitindo que esta forma de ação “não está de acordo” com seus valores e que investigará o ocorrido.
O homem ferido foi entregue ao Crescente Vermelho palestino.
Azmi disse à agência AFP que foi ferido por tiros e permaneceu por mais de duas horas sem conseguir se movimentar atrás de um veículo militar israelense. “Quando (os soldados) chegaram, pisaram na minha cabeça, me agrediram no rosto, nas pernas e nas mãos, que estavam feridas. Eles riam”, disse.
Os militares o “jogaram sobre o capô do jipe”, que estava com superfície extremamente quente, segundo o palestino.
Médicos do hospital Ibn Sina de Jenin confirmaram que Azmi segue internado no local.
Azmi, com “uma fratura e lesões”, foi submetido a uma cirurgia de emergência e terá que passar por outras operações, afirmou Bahaa Abu Hamad, cirurgião do hospital. “Ele tem uma queimadura nas costas, da nuca até a parte inferior das costas”, acrescentou.
Jenin é um reduto de grupos armados palestinos e o Exército israelense costuma efetuar operações com frequência na região.
Cisjordânia
A violência na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, aumentou desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, em 7 de outubro.
Ao menos 553 palestinos morreram na Cisjordânia em ações das tropas de dos colonos israelenses desde o início da guerra de Gaza, segundo as autoridades palestinas. Além disso, ao menos 14 israelenses morreram em ataques executados por palestinos no mesmo período, segundo dados divulgados pelas autoridades israelenses.