O rei da Jordânia, Abdullah II, reafirmou nesta terça-feira (11/02) a “posição firme” de seu país contra o deslocamento de palestinos de Gaza ou da Cisjordânia ocupada, e lembrou que se trata de uma “posição árabe unificada”.
“Reconstruir Gaza sem deslocar os palestinos e abordar a terrível situação humanitária deve ser a prioridade de todos”, afirmou o monarca.
Suas declarações foram feitas pelo X algumas horas depois de se encontrar com o presidente norte-americano Donald Trump, em Washington. A conversa ocorreu diante de repórteres e na presença do filho do rei, príncipe Hussein, do secretário de Estado Marco Rubio, entre outras autoridades.
Pressionado durante o encontro, o monarca evitou de confrontar Trump diante dos jornalistas, quando este reafirmava sua disposição de ocupar Gaza e transformá-la em um empreendimento imobiliário sem palestinos.
O presidente norte-americano voltou a dizer, após o encontro, que Jordânia e Egito acabariam concordando em abrigar moradores de Gaza. Ambos países já rejeitaram a ideia com veemência. Em dado ponto da conversa, Trump incitou o rei a dizer que acolheria palestinos. No entanto, o monarca disse que faria o melhor para o seu país e anunciou que acolheria 2 mil crianças doentes de Gaza para tratamento.
“A questão é como fazer isso funcionar de forma que seja boa par todos”, disse Abdullah sem apoiar ou se opor explicitamente ao plano de Trump. O monarca foi o primeiro líder árabe a se reunir com Trump.
O plano de reconstrução de Gaza dos países árabes
Na noite de terça-feira (11/02), o ministro das Relações Exteriores do Egito, Ayman Safadi, informou que há um plano árabe liderado pelo Egito para reconstruir Gaza sem deslocar sua população. O plano, segundo ele, apresentará “uma visão abrangente para a reconstrução” da Faixa de Gaza “que garanta que o povo palestino permaneça em suas terras, em conformidade com os seus direitos legítimos e legais”.
A Jordânia já abriga mais de 2 milhões de refugiados palestinos que, somados aos jordanos com ascendência palestina, representam quase metade dos 11,5 milhões de habitantes do país. Tanto a Jordânia como o Egito recebem importantes ajudas financeiras de Washington e Trump chegou a ameaçar com suspendê-las, caso esses países não aceitassem receber palestinos. Na reunião dessa terça, entretanto, quando questionado sobre isso, disse acreditar que não seria preciso porque esses países tinham “bom coração”.

O rei da Jordânia, Abdullah II
A Jordânia recebe quase US$ 1,5 bilhão ao ano em ajudas dos Estados Unidos e o Egito, cerca de 1,3 bilhão só para a área militar. Enquanto os governos egípcio e israelense receberam isenções da suspensão por 90 dias das ajudas internacionais determinada por Trump, Jordânia não ficou isenta.
A proposta de Trump de retirar os palestinos de Gaza e convertê-la em um empreendimento imobiliário foi condenada pela comunidade internacional. O grupo Hamas disse na segunda-feira (10/02) que adiaria a libertação de reféns até que Israel parasse de violar o cessar-fogo.
Trump, de sua parte, respondeu antes que Israel dizendo que proporia cancelar o cessar-fogo e permitiria que o inferno se instalasse em Gaza, caso os reféns não fossem libertados. Pouco depois, Israel confirmou sua disposição de retomar a guerra caso os reféns não fossem liberados.
Três de cada quatro norte-americanos se opõem ao plano de Trump
Questionado pelos jornalistas na terça-feira (11/02) sobre qual o método que os Estados Unidos poderiam utilizar para tomar Gaza, Trump respondeu que “não há nada para comprar. Gaza é uma área devastada pela guerra. Nós vamos aceitar. Vamos ficar com isso. Iremos valorizá-la. No final nós a construiremos criando muitos empregos pra as pessoas no Oriente Médio”.
Mas a proposta de Trump de retirada dos palestinos de Gaza não é apoiada sequer pela população de seu país. Três de cada quatro americanos (74% da população) se opõem à ideia de os Estados Unidos assumirem o controle de Gaza, deslocando os palestinos de lá. Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada pela Reuters e o Instituto IPSOS entre 7 e 9 de fevereiro. Segundo a pesquisa, mesmo os republicados, embora divididos, tendem a ser contrários, com 55% se opondo e 43% apoiando a ideia.
A proposta, entretanto, é aplaudida pelo governo israelense de extrema direita israelense. Após uma reunião de quatro horas com seu gabinete de segurança, o primeiro-ministro divulgou um vídeo anunciando que os combates seriam retomados se os reféns não fossem libertados.
Ao mesmo tempo, a direita israelense em Washington pressiona para que a Casa Branca reconheça nas próximas semanas a anexação por Israel dos assentamentos da Cisjordânia, ilegais à luz do direito internacional e condenados pelas Nações Unidas.