A jornalista, cineasta e ativista palestina Bisan Owda, de 25 anos, ganhou nesta quinta-feira (26/09) um Emmy pela categoria de “Melhor Recurso de Hard News” com o seu documentário ‘It’s Bisan from Gaza and I’m Still Alive‘ (“É a Bisan de Gaza, e ainda estou viva”, por sua tradução em português), produzido pela AJ+ Channels, a plataforma midiática da emissora catari Al Jazeera.
A obra de oito minutos retrata a jornada de Owda após o 7 de outubro de 2023. Obrigada a abandonar seu lar, na Cidade de Gaza, o filme ilustra os enfrentamentos da jovem palestina num cenário de deslocamentos que decorrem da guerra promovida por Israel no enclave.
“Este prêmio é um testemunho do poder de uma mulher, armada apenas com um iPhone, que sobreviveu a quase um ano de bombardeio”, disse o produtor executivo da curta-metragem, Jon Laurence, que aceitou o prêmio em nome de Owda, uma vez que a jovem permanece na Faixa de Gaza.
“As reportagens de Bisan humanizaram a história da Palestina após décadas de desumanização sistemática dos palestinos pela grande mídia. Ganhar este Emmy é uma vitória para a humanidade. Nós nos sentimos extremamente orgulhosos deste momento brilhante em meio ao genocídio em curso. E Bisan continuará reportando”, declarou o diretor executivo da AJ+ Channels, Dima Khatib.
Campanha sionista é frustrada
Para conquistar o renomado prêmio norte-americano, a jornalista precisou resistir a uma campanha articulada pelo lobby sionista, em agosto, que pretendia que sua indicação ao prêmio fosse rescindida.
Em carta aberta, a organização sem fins lucrativos Creative Community for Peace, com sede na Califórnia, acusou a jovem de “legitimar uma organização terrorista” e “minar a integridade dos prêmios”. O grupo alegou que Owda tinha laços com a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), uma entidade considerada terrorista pelos Estados Unidos.
Na ocasião, o documento foi endossado por mais de 150 atores e produtores pró-Israel.
No entanto, a Academia Nacional de Artes e Ciências Televisivas (NATAS, por sua sigla em inglês) determinou que não havia motivos para rescindir sua indicação.
Referente à acusação sobre uma possível conexão com “organizações terroristas”, a NATAS argumentou que as ligações documentadas entre Owda e a FPLP na curta-metragem ocorreram “entre seis e nove anos atrás”, ou seja, quando a jornalista era ainda uma adolescente. Nesse sentido, não foi encontrada nenhuma “evidência de envolvimento contemporâneo ou ativo” com a FPLP.
“O conteúdo enviado para consideração do prêmio foi consistente com as regras de competição e as políticas da NATAS. Assim, a NATAS não encontrou fundamentos, até o momento, para anular o julgamento editorial dos jornalistas independentes que revisaram o material”, acrescentou.
Em comunicado, a Al Jazeera também rebateu as alegações “infundadas” da entidade sionista, ao afirmar se tratar de uma censura contra as reportagens de Owda sobre a realidade em Gaza. O veículo midiático descreveu a jovem palestina como uma “jornalista e influenciadora renomada” que “contribuiu significativamente para trazer notícias de Gaza para o mundo com seu estilo único”.
“O pedido para que a indicação ao Emmy seja rescindida nada mais é do que uma tentativa de negar uma perspectiva importante ao público global sobre a guerra e seu impacto devastador sobre civis inocentes”, disse a declaração.
O veículo ainda recordou que, nos últimos 11 meses, mais de 130 jornalistas, incluindo três da própria Al Jazeera, foram assassinados pelas forças israelenses, de acordo com o balanço do Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
“Pedimos à comunidade jornalística internacional que apoie Bisan e outros profissionais da mídia, garantindo que eles possam realizar seu trabalho essencial sem medo de serem alvos, intimidados ou mortos”, concluiu a nota.
Bisan Owda nas redes sociais
A jovem palestina de 25 anos ganhou notoriedade nas redes sociais depois que passou a documentar sua vida em meio às operações israelenses na Faixa de Gaza, as quais já provocaram a morte de mais de 41 mil palestinos desde 7 de outubro de 2023.
Com 4,7 milhões de seguidores na plataforma do Instagram, e quase 200 mil no TikTok, Owda passou os últimos meses registrando a crise humanitária instalada no enclave.
Seus conteúdos dão enfoque ao bloqueio de suprimentos essenciais no território palestino, à falta de saneamento básico, à fome, à disseminação de doenças altamente contagiosas e ao deslocamento forçado dos habitantes.
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