Jornalista palestino denuncia discriminação da PF: ‘parecia que era criminoso’
Anas Hawari foi parado no Aeroporto do Galeão e questionado sobre ligações com Hamas
O jornalista palestino Anas Hawari, de 28 anos, denunciou ter sido submetido a um interrogatório discriminatório pela Polícia Federal ao desembarcar, no Rio de Janeiro, segundo informou a Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (02/07).
Hawari, que vive em Nablus, na Cisjordânia, com sua esposa e filho, atua há dez anos como jornalista e atualmente trabalha no portal de checagem palestino Tayqan, que busca monitorar informações falsas e propaganda disseminada por grupos de extrema-direita, incluindo associações coloniais israelenses.
Vindo de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o profissional da imprensa chegou ao Brasil em 23 de junho para participar da GlobalFact, conferência internacional de checagem de fatos. Mesmo com convite oficial para o evento, foi interrogado pela Polícia Federal logo após mostrar seu passaporte palestino na imigração do Aeroporto do Galeão.
Sem explicações, foi conduzido a uma sala e interrogado por vários agentes não-identificados. Segundo relatou à Folha, as perguntas passaram rapidamente de informações pessoais para suspeitas sobre vínculo com o grupo palestino Hamas.
“Agora vamos para a pergunta mais importante: qual é a sua opinião sobre a guerra entre Israel e o Hamas?”, teria dito um dos agentes.

Jornalista palestino Anas Hawari em conferência jornalística de checagem de fatos no Rio de Janeiro, após interrogatório da PF
tayqanps/Instagram
Ele foi questionado repetidamente se já atuou em conjunto com a resistência palestina ou recebido treinamentos. “Eu estava sorrindo, mas de incredulidade. Estava chocado. Eu respondi várias vezes que era só um jornalista e checador, só isso.”
Ao final, os agentes tiraram uma foto sua em frente a um fundo branco, como em uma ficha criminal. “Por um momento, parecia que eu era um criminoso”, relatou.
Em seu relato à Folha de S. Paulo, Hawari descreveu a abordagem das autoridades brasileiras como “violação injustificada” e ressaltou que nunca havia passado por uma situação semelhante. Após ser liberado, seguiu para a conferência de jornalismo, mas ainda foi vítima de uma tentativa de roubo de celular.
Hawari relatou ter aproveitado o evento mas que sua experiência no Brasil “deixou marcas”. “Foi uma péssima experiência. Não quero viajar para o Brasil de novo”, declarou.
A Polícia Federal foi contatada pela Folha de S. Paulo para se posicionar. Em resposta, prometeu apurar o caso.
(*) Com Brasil247, Monitor do Oriente Médio, RT en español e informações de Folha de S. Paulo